|
|
|
Fórmula
contra a falência
Com base na quebradeira de bancos, pesquisador cria
um modelo para detectar empresas em situação de risco
LUIZ
SUGIMOTO
As
crises bancárias tornaram-se fenômenos freqüentes nas
duas últimas décadas. Entre 1980 e 1998, o mundo registrou
105 ocorrências, a maior parte (63) nos anos 90 – índice muito
maior que nas décadas anteriores. No Brasil, somente entre 1994
e 1996, dois grandes bancos (Nacional e Econômico) e vários
outros menores foram liquidados pelo Banco Central.
Os
estudos que procuram identificar as causas de crises bancárias normalmente
se dividem entre os determinantes macroeconômicos e os microeconômicos.
Dentre as causas macroeconômicas, destacam-se: vulnerabilidade macroeconômica,
explosão creditícia, liberalização financeira,
forte presença do setor público no sistema bancário
e regimes de taxas cambiais fixas. As causas microeconômicas geralmente
se relacionam a problemas de má administração, agravados
por práticas de maquiagem de balanço.
Os
bancos, por sua vez, dividem-se em dois segmentos: os atacadistas, que
têm como características principais o baixo número
de contas mas de grande volume financeiro, poucas agências e quadro
enxuto de funcionários – Bozano Simonsen, Chase Manhattan e Multiplic
são alguns exemplos. O banco varejista aparece mais próximo
da população em geral, com contas bem menores mas grande
número de clientes, agências e funcionários – Bradesco,
Itaú, Real.
É
com as informações acima que Michel Alexandre da Silva contextualiza
a proposta de sua dissertação de mestrado: um modelo de early
warning (veja explicação na entrevista que segue) para identificar
as causas da quebra de bancos atacadistas na década passada, modelo
este que pode ser empregado em outros setores da economia. “Microfundamentos
de falência de bancos atacadistas: a experiência brasileira
nos anos 90” é o título da tese orientada pelo professor
Otaviano Canuto e defendida em dezembro de 2001.
Jornal
da Unicamp – O que são modelos de early warning?
Michel
da Silva – Eles indicam o grau de fragilidade de uma firma a partir
de um conjunto de indicadores, a fim de que esta empresa possa reverter
uma situação desfavorável antes que isso lhe traga
piores conseqüências. Note-se que os modelos servem não
apenas para bancos, mas para qualquer empresa. Nesse meu estudo, montei
um modelo de early warning para bancos composto apenas por indicadores
microeconômicos, mas nada impede que se trabalhe também com
indicadores macroeconômicos (taxa de juros, taxa de câmbio,
etc.). Trabalha-se em duas etapas. Primeiramente, dentre uma série
de indicadores, identifica-se quais são relevantes para se analisar
a saúde de uma firma que atue em determinado segmento. Depois, estima-se
uma equação que indique a probabilidade de falência
da empresa em função dos valores dos indicadores selecionados
previamente. Desse modo, quando os indicadores de uma empresa atingem determinado
patamar, o modelo lhe dá um sinal de alerta, indicando que a mesma
está mais próxima de quebrar.
P
– Poderia citar indicadores microeconômicos bancários relevantes
nas falências ocorridas?
R
– No caso específico das falências ocorridas no Brasil
entre 1995/96, segundo alguns estudos, esses indicadores foram: baixas
captações em dólares, altos custos administrativos,
baixa rentabilidade, alto crescimento das captações e, para
os bancos menores, alta alavancagem (grande proporção de
recursos de terceiros em relação aos recursos próprios
do banco). Note-se que indicadores de falência estão relacionados
ao período e ao local. Provavelmente, falências ocorridas
em outro período/local seriam explicadas por outros indicadores.
P
- Sua pesquisa aponta a freqüência das crises bancárias
nas duas últimas décadas. A incidência de quebras deve
se manter?
R
– O aumento na freqüência de quebras bancárias nos
anos 90 está bastante relacionado ao maior volume dos fluxos financeiros
internacionais. Isso é mais notável no caso das crises asiáticas.
Com a maior entrada de recursos financeiros internacionais, os bancos passaram
a dispor de uma grande quantidade de capital. Sem uma política mais
racional sobre como administrar esses recursos, eles passaram a emprestar
esses recursos desmedidamente, sem avaliar se o tomador do empréstimo
poderia pagá-lo posteriormente. Quando esse capital externo saía
do país ou quando a saúde financeira dos tomadores de empréstimo
era afetada, vinha a quebradeira dos bancos. Muito provavelmente, os índices
de falência bancária no mundo continuarão superiores
aos índices anteriores à década de 90, até
que se implantem de modo mais eficaz redes de segurança financeira.
No caso do Brasil, observa-se que os anos de 95 e 96 foram bastante atípicos
no que se refere ao número de quebras bancárias, mesmo com
relação aos anos 90, devido à perda dos ganhos inflacionários
e à crise mexicana no início de 1995.
P
– O que há de inédito em seu trabalho e em que medida ele
pode ajudar na identificação e prevenção de
instituições em dificuldades?
R
– A idéia nova é de que os indicadores microeconômicos
relevantes na explicação de falências bancárias
podem variar não só com o lugar e o período em que
as mesmas ocorreram, mas também de acordo com as características
estruturais dos bancos. De um modo geral, os bancos se dividem entre os
de varejo (grande número de agências e clientes) e de atacado
(menor número de agências e clientes). O estudo foi favorável
à hipótese de que as falências de bancos atacadistas
e as dos demais bancos brasileiros, ocorridas em 1995/96, foram explicadas
por indicadores diferentes. Assim, modelos de early warning elaborados
separadamente para bancos de atacado e de varejo serão mais eficientes.
Além disso, esse mesmo princípio pode ser aplicado em outros
setores da economia.
|
|