Nova insulina: esperança no ar
Unicamp testa há um ano e meio administração
do medicamento por meio de inalação
ISABEL GARDENAL
Uma nova forma de administração da insulina, via inalatória, está em fase experimental na Disciplina de Endrocrinologia da Unicamp. Trata-se de um processo indolor que se firma como opção para os diabéticos, após longo período de busca de alternativas.
Além dos injetáveis existentes no mercado desde 1922, a insulina via inalatória poderá ser utilizada com máxima segurança, segundo o médico Marcos Tambascia, responsável pela condução da pesquisa na Unicamp e pela disciplina de Endocrinologia.
Respaldado por um estudo multicêntrico, realizado com a participação de outros 600 centros de pesquisa do mundo e controlado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o trabalho contemplará, inicialmente, 11 pacientes, já submetidos a testes há quase um ano e meio no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp.
No protocolo de pesquisa, estão sendo avaliadas a eficácia e a segurança da insulina inalatória no controle do diabetes tipo 2. Mais comum em adultos acima de 40 anos, este tipo de diabetes é resistente ao uso freqüente de insulina e está relacionado com a gordura e a síndrome plurimetabólica (que agrega fatores como diabetes, obesidade, hipertensão, dislipidemia e estresse).
Os resultados conclusivos serão apresentados em conjunto e divulgados dentro dos próximos seis meses. Concluído o experimento com o diabetes tipo 2, o estudo será ampliado para análise do tipo 1, que atinge mais crianças com idade superior a oito anos.
Como funciona O paciente leva para sua casa um inalador de insulina, cedido pelos laboratórios Pfizer e Aventis, que patrocinam a pesquisa. A insulina, em comprimido, é introduzida na base do inalador. O passo seguinte consiste em acionar um dispositivo cujo funcionamento faz “explodir” a drágea, formando uma nuvem dentro da câmara de inalação. Esta nuvem de infusão deve ser aspirada por cerca de cinco segundos a partir de um bocal plástico.
Para que o procedimento tenha o resultado esperado, exige-se que o paciente repita a operação três vezes ao dia, antes das refeições principais. A eficácia, de acordo com estudos preliminares, é a mesma da insulina injetável, tendo a vantagem de o paciente não precisar se submeter a tantas picadas de agulha.
Diabetes O diabetes é uma enfermidade que provoca aumento da quantidade de açúcar no sangue por falta de insulina. Trata-se de um defeito nas células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Sem a substância, o açúcar ingerido não consegue entrar nas células e ser transformado em energia.
A glicose acumula-se no sangue e é excretada pela urina. Com o tempo, podem surgir problemas nos olhos (levando à cegueira), nos nervos, no coração, nos pés, nas artérias e nas veias, produzindo sintomas como cansaço, perda de peso, sede, necessidade freqüente de urinar e visão turva.
O diabetes é a primeira causa de cegueira adquirida no mundo, onde há cerca de 165 milhões de diabéticos. No Brasil, 700 mil são insulinodependentes, para uma população total de 170 milhões. A mortalidade em geral decorre de doença coronariana, que acomete seis vezes mais diabéticos que não diabéticos. “Não quero dizer que as complicações sejam ocasionadas pelo diabetes, mas sim devido ao seu mau controle”, diz Tambascia.
O Ministério da Saúde tem estimulado a divulgação do diabetes, disponibilizando para o paciente certos medicamentos orais e insulina. Tem promovido também campanhas de detecção precoce da patologia, pois muitos pacientes potenciais ignoram até hoje que têm diabetes, desconhecendo a natureza do seu problema.
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