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Fragrâncias da floresta
Unicamp coordena projeto no Amazonas para extrair,
sem derrubar o pau-rosa, a essência do mitológico Chanel nº 5
JOSÉ PEDRO MARTINS
Pau-rosa é a madeira que produz linalol e fragrâncias para a indústria de perfumaria, incluindo o mitológico Chanel nº 5. As técnicas tradicionais de extração são baseadas no corte do tronco da árvore. Estima-se que meio milhão de árvores da espécie já foram abatidas desde o início da exploração predatória na década de 30.
Um projeto coordenado pelo professor Lauro E. S. Barata, do Laboratório de Química de Produtos Naturais da Unicamp, estipula o uso de técnicas sustentáveis de extração e processamento do óleo essencial do pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke). Pelo método inovador, o óleo é obtido de folhas, não sendo necessária, então, a derrubada das árvores.
A equipe promoveu a prospecção de óleos essenciais de folhas de pau-rosa de cultivos existentes nos estados do Pará e Amazonas, com o apoio do Banco da Amazônia e da Bioamazônia. Os resultados da pesquisa, que teve a participação de João Ferraz, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foram apresentados no Workshop Internacional IFEAT, em Buenos Aires, em novembro de 2001. O encontro reuniu representantes da indústria de perfumaria da França, Alemanha e Estados Unidos. De acordo com o pesquisador, a indústria aguarda apenas a produção do óleo extraído das folhas para aplicá-lo nas fragrâncias.
Em função dos resultados obtidos, o professor Barata apresentou um projeto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, prevendo a extração do óleo a partir do cultivo experimental em três áreas do Amazonas, nos municípios de Nova Aripuanã, Presidente Figueiredo e Parintins. O projeto será desenvolvido com produtores tradicionais de óleo de pau-rosa, que plantariam, em áreas de 30 hectares cada, 10 mil mudas da espécie, em consórcio com mandioca e 2.500 mudas de outras espécies aromáticas. O óleo essencial será obtido por poda das folhas e extração tradicional por arraste a vapor. A idéia é a de que, comprovada financeiramente a sua eficácia, a técnica de extração seja difundida em toda a Amazônia.
Os resultados econômicos e sociais esperados são significativos. Em função dos métodos insustentáveis de exploração, a produção anual de óleo de pau-rosa caiu de 450 toneladas em 1950 para as 50 toneladas atuais, o que representou o declínio de pessoal empregado de 30 mil para os 2 mil de hoje. Lauro Barata observa que, das cerca de 1.000 espécies conhecidas de plantas aromáticas existentes na Amazônia, somente uma, justamente o pau-rosa, é comercial.
As técnicas sustentáveis desen-volvidas, com a extração do óleo das folhas, poderão, segundo o pesquisador da Unicamp, ser aplicadas no caso de outras espécies aromáticas da região, como a copaíba, a preciosa e a oriza, aliás plantadas em consórcio com o pau-rosa nos cultivos experimentais propostos. Como acrescenta o professor, a principal conseqüência esperada, além do aumento substancial da participação brasileira no mercado mundial de perfumaria e cosméticos, que movimenta US$ 150 bilhões/ano, é finalmente a exploração sustentável da Amazônia, em benefício do planeta e da humanidade, como pede a Agenda 21 (veja texto nesta página).
Projeto do pau-rosa cumpre a Agenda 21
Entre o final de agosto e início de setembro a cidade de Johannesburg, na África do Sul, vai sediar a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. O encontro foi batizado de Rio + 10, porque será uma oportunidade para fazer o balanço dos dez anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro em 1992 e que aprovou, entre outros documentos, a Agenda 21.
Uma das constatações feitas por cientistas e órgãos públicos e privados de pesquisa, e que será ratificada na cúpula de Johannesburg, é que prosseguiu em escala mundial o desmatamento, ao contrário do que pedia o Capítulo 11 da Agenda 21 “Combate ao desflorestamento” com o apelo para que houvesse o “aumento da proteção, do manejo sustentável e da conservação de todas as florestas e provisão de cobertura vegetal para as áreas degradadas por meio de reabilitação, florestamento e reflorestamento, bem como de outras técnicas de recuperação”.
Um relatório da ONU, a ser apresentado em Johannesburg, confirma que a taxa de desflorestamento continuou nos anos 90, a um ritmo de 14,6 bilhões de hectares por ano, significando o desaparecimento de 4% dos bosques e florestas do mundo no período. O caso mais preocupante é o da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que 569 mil quilômetros quadrados, correspondendo a cerca de 15% da Amazônia, já foram destruídos, sendo urgente, portanto, a aceleração de políticas prevendo métodos sustentáveis de manejo na região.
Esta é exatamente a proposta contida no projeto coordenado pelo professor Lauro Barata, da Unicamp, estimulando o uso de técnicas sustentáveis de extração e processamento do óleo essencial de pau-rosa para a indústria de perfumaria.
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