Jornal da Unicamp 182 -  29 de julho a 4 de agosto de 2002
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Milho que faz crescer

CBMEG desenvolve hormônio do crescimento humano (hGH)
a partir de sementes geneticamente modificadas

MANUEL ALVES FILHO

Pesquisa realizada por uma equipe coordenada pelo professor Adilson Leite, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp, traz uma nova perspectiva para a produção do hormônio do crescimento humano (hGH), proteína utilizada no tratamento de crianças acometidas de nanismo. A substância, que no mercado custa cerca de US$ 20 milhões o quilo, está sendo obtida a partir de sementes de milho geneticamente modificadas. Pelos cálculos de Leite, dentro de aproximadamente um ano o cereal, transformado com os recursos da engenharia genética numa biofábrica de interesse farmacêutico, já estará sendo produzido em escala industrial. Ainda não há previsão de quando esse hGH será usado comercialmente, uma vez que as conversações com a iniciativa privada estão em andamento.

De acordo com Leite, todas as células de um determinado organismo contêm os mesmos genes. Graças aos chamados “promotores”, regiões que determinam em que momento, quantidade e local as substâncias serão produzidas, não ocorre confusão entre as funções que cada uma desempenha. Sabendo disso, o pesquisador e sua equipe tomaram a parte do gene humano que codifica o hormônio do crescimento e a introduziram na região que regula a produção de proteína do milho, chama endosperma, cuja função é fornecer nutrientes para o embrião durante a germinação. Ou seja, prepararam esse tecido especializado do cereal para produzir hGH, como se fosse uma proteína a ser armazenada nas sementes, conforme as ordens transmitidas pelo seu trecho regulador.

As vantagens de se obter o hormônio do crescimento a partir de plantas, afirma Leite, são inúmeras. Inicialmente, a proteína era retirada diretamente da hipófise de cadáveres, o que abria a possibilidade de contaminações. Depois, a substância passou a ser produzida em bactérias. Estas, mesmo não sendo patogênicas, têm que ser bem purificadas, pois contêm proteínas que podem causar febre e alergia, entre outras reações. As proteínas originárias das plantas são muito mais seguras. Não há indicação de que elas causem alguma doença ao homem. Além disso, fica muito mais barato produzir uma planta do que um animal transgênico.

Insulina – O pesquisador do CBMEG adverte que o milho que leva o gene humano para poder produzir o hormônio do crescimento não deve ser encarado como um alimento geneticamente modificado, mas sim como um insumo para a indústria farmacêutica. A produção desse tipo de cereal, diz, deve ser cercada de cuidados, inclusive para evitar que um pólen escape e contamine uma área próxima. O professor Leite estima que seria necessário um terreno equivalente a meio campo de futebol para produzir uma tonelada desse milho especial, quantidade suficiente para obter 250 gramas de hGH. Além do hormônio do crescimento, revela o pesquisador, a mesma técnica está sendo empregada para a produção de pró-insulina humana, primeiro passo para a obtenção da insulina.