Jornal da Unicamp 182 -  29 de julho a 4 de agosto de 2002
Jornais anteriores
Unicamp Hoje
PDF
Acrobat Reader
Unicamp
5
 
Capa
Fragrâncias
Hormônio
Secador Ciclônico
Petróleo
Empresas Virtuais
Aids
Prêmio
Vida Acadêmica
Violência
Dança
Na Imprensa
Malária
Saúde
Embraer
Software

Literatura

T20, a nova esperança contra a Aids

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A prevenção é o melhor remédio, mas enquanto não se atinge as estatísticas desejáveis no combate à Aids – doença que já dizimou mais de 20 milhões de pessoas no mundo –, cientistas se debruçam em pesquisas para desenvolver medicamentos que atenuem o sofrimento dos infectados. Desta vez, o T20 surge como um dos produtos mais complexos produzidos até hoje e a Unicamp se uniu a centros de pesquisas de 15 países do mundo, para testar a droga em dez pacientes. Até o final dos experimentos mundiais, cerca de 450 voluntários devem comprovar a eficácia do medicamento que chegará ao mercado, segundo as previsões otimistas, em 2003.

Atualmente existem 16 medicamentos contra a Aids. Em todos, a ação contra o vírus acontece quando ele já está dentro das células do sistema imunológico. Os medicamentos tentam justamente impedir a multiplicação do HIV. No caso do T20 – produzido pelos laboratórios Trimeris e Roche – ele age como “inibidor de fusão”, ou seja, impede o vírus de entrar nas células do organismo. “Ele atua como um escudo” declara o médico infectologista William Barros de Abreu, coordenador das pesquisas na Unicamp. O médico explica também que as experiências têm demonstrado que o T20 faz a carga viral (taxa de vírus no sangue) cair abaixo dos níveis de detecção no dobro dos pacientes em relação a outros tratamentos. Em 40% dos casos, a carga viral não foi detectável. “Isto não significa a cura da doença, mas trata-se de um grande avanço nas pesquisas sobre o assunto”.

Segundo o infectologista, o remédio é indicado para pessoas que já tomaram uma série de drogas disponíveis para o combate à Aids. Eles são chamados de pacientes multifalidos, porque o sistema imunológico já criou resistência aos coquetéis tradicionais e o vírus volta a se multiplicar rapidamente. Um dos efeitos colaterais que podem causar desconforto para o portador do vírus, esclarece Abreu, seria porque trata-se de uma injeção subcutânea, aplicada duas vezes ao dia, como a insulina.

Uma vez comprovados os benefícios do medicamento, ele será liberado para o uso comercial em 2003. Abreu esclarece que, comumente, a liberação ocorre antes nos Estados Unidos ou Europa, mesmo porque, as pesquisas nestes locais estão em um estágio mais avançado. Para o remédio entrar no Brasil é necessária a autorização do Ministério da Saúde e sua posterior compra para distribuição nos hospitais públicos.

Projeções são sombrias

Enquanto os cientistas correm contra o tempo para desenvolver medicamentos que prolonguem a vida dos pacientes contaminados com o HIV, as estatísticas insistem em avançar. O infectologista William Barros de Abreu declarou que estudos divulgados também na 14a Conferência Internacional sobre Aids, em Barcelona, projetam que o mundo terá, nos próximos dez anos, 70 milhões de infectados com o vírus HIV. “Trata-se de uma doença que avança a cada dia”, lamenta.

No Brasil, são registrados 700 mil casos. Um dos aspectos que ele acredita ter contribuído para estes dados é que as chances de disseminação aumentaram. Entre os anos de 1986 e 1991, a cada 15 homens contaminados com o vírus, uma mulher recebia o diagnóstico positivo da doença. Em 1992 de cada cinco homens uma mulher era infectada. “Hoje os números apontam para um novo caso notificado no público feminino para cada homem que aparece com a doença”.

Uma evolução no tratamento

Desde que liberado o primeiro medicamento contra o vírus HIV, em 1986 – o nome científico era AZT – as pesquisas se concentram em inibir a ação de duas enzimas que são Transcriptase reversa e a protease. É por meio dessas enzimas que o vírus se multiplica, invadindo a CD4 – uma das células do sistema de defesa humano. Até 1995, no entanto, os produtos disponíveis no mercado só conseguiam inibir a ação de uma das enzimas, a Transcriptaze reversa.

Com o passar dos anos, o avanço nas pesquisas indicaram uma potência terapêutica maior e chegou a vez de inserir no tratamento os chamados coquetéis, ou seja, a associação de remédios que bloqueassem a ação das duas enzimas. Como exemplos existem o Indinavir, Saquinavir, entre outros. As mutações genéticas do vírus como mecanismo para sua sobrevivência, porém, tornaram o vírus mais resistente. Por isso, o entusiasmo da comunidade científica com o anúncio do T20. Ele atua justamente em um estágio anterior e impede o vírus de entrar na célula.