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A física vai ao palco
RONEI THEZOLIN
Espaço, tempo, matéria, arte do movimento e novos ambientes sonoros são os princípios da peça Elementaridades II, espetáculo desenvolvido por pesquisadores da Unicamp e que adota conceitos da física. A peça é uma nova idéia relacionando física à arte, baseado na interação entre a arte do movimento de Rudolf Laban (veja texto ao lado) e a física das partículas elementares (blocos fundamentais que constituem a matéria do universo). Após 4 anos de pesquisas, o trabalho será apresentado, em vídeo, no Encontro Laban 2002, que acontece de 1 a 4 de agosto, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Iniciado em 1998, o projeto teve sua primeira fase concluída em 2000, com o Elementaridades I, apresentado no Festival Internacional de Dança, em Bolonha, na Itália. Agora, o Elementaridades II, gravado em vídeo, será apresentado no Encontro Laban 2002. Idealizado pela professora Joana Lopes, do Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes (IA), e coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Teatro e Dança (GITD), o projeto Elementaridades foi desenvolvido em conjunto com o Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) e com os professores Adolfo Maia Jr. (IMECC), Raul do Valle (IA) e Jônatas Manzolli (NICS), com a performance das bailarinas Leila Bassoli, Bethânia Matheus e Kátia Salib, alunas do 3o. ano do curso de dança do IA.
A professora Joana Lopes escolheu a física como fonte inicial para desenvolvimento das pesquisas e dos estudos, baseados no sistema Laban. Segundo ela é uma nova maneira de analisar e abordar criativamente a arte do movimento. “É bem possível que muitos coreógrafos e estudiosos já tenham se apercebido intuitivamente da incorporação das idéias da nova física na arte do movimento. Ainda não se tinha uma sistemática para a abordagem desta maneira de se pensar a arte do movimento”, completa.
Para o professor Adolfo Maia Jr., os estudos surgiram como uma conseqüência natural da criação da peça de arte de movimento denominada elementaridades. “Conceitos, provenientes da física das partículas elementares, tais como confinamento, caos etc. levaram à busca de uma sistematização do “jogo” entre o campo dos atores/dançarinos e a física do espaço-tempo onde eles se movimentam”, afirmou. “Do ponto de vista prático, o ator/dançarino não apenas está no espaço-tempo, mas interage com ele”, acrescentou Adolfo. “Tomando isto em conta, somos então levados naturalmente a uma nova prática corporal criativa e a um novo sistema educacional da arte do movimento e composição”, disse a professora Joana.
Quem foi Rudolf von Laban
Nascido no império austro-húngaro, Rudolf von Laban (1879-1958) inicialmente estudou arte e arquitetura em Paris, mas, após trabalhar em encenações nos carnavais de Munique, na Alemanha, decidiu dedicar-se à dança. Como uma reação às técnicas de dança da época, Laban criou a escola de dança expressionista alemã, que direcionou o gênero na Alemanha durante os anos 20 e 30. Professor e coreógrafo, organizou várias escolas na Europa e viajou pela Alemanha inteira com sua companhia. Entre seus discípulos estão Mary Wigman e Kurt Jooss, dançarinos e coreógrafos que fundaram suas próprias companhias. Laban se interessava pelos “coros de movimento”, danças grupais celebratórias realizadas em espaços rurais que davam aos dançarinos amadores “uma experiência compartilhada de movimento e senso de comunidade”. Paralelamente, desenvolveu um sistema de notação de movimentos, a “labanotação”, e investigou os princípios do movimento para encontrar um meio de organizar e analisá-los. Ocupou postos importantes sob o regime nazista, mas caiu em desgraça junto ao governo em 1936, quando mudou-se para a Inglaterra, onde passou o restante dos seus anos.
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