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Planta contra a malária
Remédio é pioneiro e o mais
completo em termos de investigação,
despertando interesse da Fiocruz
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A Artemísia annua é uma planta de origem chinesa utilizada há pelo menos 15 séculos no combate à malária. Desde 1988, ela vem sendo estudada meticulosamente por especialistas do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, na tentativa de se alcançar o know-how que só a China detinha para a produção de um dos remédios mais eficazes no tratamento da doença. Os testes foram positivos. E as pesquisadoras Vera Rehder e Mary Ann Foglio comemoram um pacote tecnológico pronto, que inclui pesquisas de adaptação climática, produção e atividades farmacológicas da planta, além da negociação do repasse do produto para a indústria. A Fiocruz é uma das mais interessadas, pois a instituição importa a substância para a produção do fármaco.
As plantações de Artemísia annua geralmente são feitas em clima temperado de países como a China e do sudeste europeu. Por isso, a etapa mais difícil da pesquisa foi conseguir seu cultivo na região de Campinas, extraindo dela os teores do princípio ativo artemisinina, semelhantes aos obtidos pelos chineses. “Chegamos a uma árvore de dois metros de altura com bastante teor da substância”, diz Mary Ann. Ela explica que a árvore também possibilitou a extração dos derivados arteméter e artesunato de sódio, que representam duas alternativas seguras e eficazes no tratamento da doença e, que por serem solúveis em óleos e água, permitem a aplicação na forma endovenosa e intramuscular. O medicamento tradicional é aplicado em forma de supositório.
“Os estudos ainda identificaram a planta como rica em princípios ativos que podem levar a descobertas no combate ao câncer, úlcera e determinados fungos e bactérias”, acrescenta Vera Rehder. No Brasil, o CPQBA é o único centro de pesquisas que concentra grande número de trabalhos sobre a Artemísia annua. Segundo Vera, o remédio contra a malária é pioneiro e o mais completo em termos de investigação. Ao longo dos anos, com base neste tema, já foram defendidas quatro teses de doutorado, quatro dissertações de mestrado e publicados mais de 20 artigos científicos, além de registrada uma patente.
A DOENÇA
A malária é uma doença infecciosa causada por um protozoário do gênero Plasmodium, que aniquila os glóbulos vermelhos do sangue, tornando as pessoas anêmicas. É transmitida pela picada do mosquito Anopheles. A cada ano são registrados 500 mil novos casos no Brasil, levando cerca de dez mil pessoas ao óbito. Esses índices são superiores aos observados na Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids), o que a coloca como infecção humana mais devastadora. Embora atinja principalmente países de clima tropical, o desenvolvimento agrícola, a resistência dos mosquitos aos inseticidas, os fluxos migratórios e o aquecimento global têm colaborado no aparecimento da malária em locais onde já havia sido extinta ou onde não existiam relatos da doença.
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