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Ferramenta desenvolvida por pesquisadores da
Feagri permite melhor gerenciamento da área de plantio

Colhedora mapeia
produtividade em canaviais





JEVERSON BARBIERI



A colhedora com os equipamentos (Foto: Divulgação)Um monitor de produtividade, específico para a cultura de cana-de-açúcar, é a mais nova ferramenta criada por uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, dentro do conceito de agricultura de precisão. As adaptações realizadas em colhedora de cana-de-açúcar permitem ao sistema obter informações para elaborar mapas de produtividade, cujo objetivo é permitir um melhor gerenciamento da área de plantio, com maior lucratividade por hectare. Para Domingos Guilherme Pellegrino Cerri, um dos pesquisadores responsáveis pelo sistema, trata-se de uma ferramenta muito importante, principalmente porque a cana-de-açúcar tem participação expressiva na economia brasileira. “São aproximadamente 5,5 milhões de hectares plantados, que movimentam anualmente cerca de R$ 13 bilhões, o equivalente a 2,3% do PIB brasileiro. Esse novo sistema deve contribuir para um melhor gerenciamento da produção agrícola com o objetivo de reduzir custo e aumentar a competitividade”, afirma.

Projeto integra programa da Fapesp

Instrumentação – O sistema desenvolvido utiliza células de carga como instrumento de determinação do fluxo da matéria-prima colhida e é capaz de medir a quantidade de cana que passa pela esteira antes de ser lançada ao veículo de transbordo. Estes dados, juntamente com as informações obtidas por um GPS instalado na colhedora, permitem a elaboração de um mapa digital que representa a superfície de produção para a área colhida. Além destes equipamentos, sensores como radar, transdutores indutivos e pick-up magnético estão instalados na colhedora para fornecer a velocidade de deslocamento da máquina, condição do corte de base e esteira, além do sinal de controle de início e fim da aquisição de dados, reduzindo-se, assim, erros provenientes de paradas indesejadas, troca de transbordo e de manobra de cabeceira. Esses sensores fornecem informações necessárias para que um software dedicado, instalado em um computador de bordo localizado na cabine da colhedora gerencie as informações e gere ao final o mapa de produtividade.

O pesquisador Domingos Guilherme Pellegrino Cerri: identificando as causas (Foto: Antoninho Perri)Esse software foi escrito para controlar o sistema de aquisição de dados e as informações do GPS. Este programa solicita ao operador da colhedora informar alguns dados, como por exemplo, o número da gleba, talhão e zona em que a colhedora está trabalhando, assim como permite que o mesmo insira flags de identificação de zonas com infestação de plantas daninhas, falhas na produção ou ainda canas tombadas, com um simples toque na tela, pois utiliza um monitor de 12” touch scren.

Estes dados, em conjunto com os outros acerca das características do solo, tais como textura, macro e micro nutrientes, ph, resistência à penetração e outros, permitirão um melhor gerenciamento da área, objetivando a sustentabilidade do sistema.

PIPE – O projeto, que originalmente foi tema de duas teses de doutorado na Fegari, sob a orientação do professor Paulo Graziano Magalhães, obteve agora financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE). A empresa escolhida para atuar em parceria com a Feagri foi a Enalta Soluções Tecnológicas, uma empresa de automação agrícola, com sede de São Carlos (SP). O trabalho de campo teve duas fases. Na primeira, ainda durante o doutorado, Cerri trabalhou com a Usina São João, de Araras (SP). Na segunda, considerada uma etapa de desenvolvimento comercial do protótipo, as Usinas Catanduva e São Domingos, ambas de Catanduva (SP), foram incluídas no trabalho.

Os modelos já adquiriram características comerciais e Domingos explica que todas as adaptações fazem parte de um kit que poderá ser comercializado junto ou separadamente da colhedora, já que é de fácil instalação. O custo do kit está orçado em R$ 18 mil, valor considerado acessível pelo pesquisador. “Uma colhedora custa aproximadamente R$ 750 mil e só a Usina Catanduva já investiu mais de R$ 1 milhão na compra de equipamentos de GPS”, compara. Cerri calcula que exista um potencial de venda de 70 unidades por ano, com o equipamento de série. Anualmente são comercializadas aproximadamente 250 colhedoras. “Hoje, no Brasil, apenas 40% da colheita é realizada mecanicamente. Com a lei de redução de queimadas e incentivos a utilização do palhiço como fonte de energia, esta proporção tende a aumentar rapidamente nos próximos anos”, analisou.

Variabilidade espacial – Durante a pesquisa, Cerri percebeu que os técnicos do setor não acreditavam na existência de variabilidade espacial e com os mapas foi possível mostrar que a produtividade não é uniforme e existem diferenças significativas dentro de um mesmo talhão. Segundo ele, por exemplo, dentro de uma área de 40 hectares foi encontrada uma variação de produção de 6 até 150 toneladas por hectare. “Foi possível identificar nessa área as causas da baixa produção”, alertou. Para ele, uma análise prévia de aplicação de insumos deve ser baseada não só no mapa de produtividade como também no mapa de solos. “Uma das etapas consiste em, após a identificação de uma área com baixa produtividade, proceder a uma análise do solo através de amostragem para elaboração de mapas de solo, para então fazer uma correlação entre produtividade e solo e, dessa maneira, ter informações que permitam aplicar os insumos de forma variada e não mais pela média. Isso resulta em economia de insumos e a idéia é reduzir o custo de produção e, se possível, aumentar a produtividade e a redução de poluição ambiental”, afirmou.

O projeto já despertou interesse de outras cinco usinas. Porém, o trabalho continuará sendo conduzido apenas com as usinas já mencionadas, uma vez que a equipe técnica, segundo Cerri, continua a trabalhar no desenvolvimento do protótipo.

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