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Contagem de parasitas em peixes é usada para monitoramento ambiental





JEVERSON BARBIERI



Cará usado em pesquisa (Foto: Divulgação)Uma nova metodologia de controle ambiental em lagos, lagoas e reservatórios, utilizando como princípio básico a contagem de parasitas em determinada espécie de peixe, foi desenvolvida por uma equipe de pesquisadores do Departamento de Parasitologia, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Segundo o pesquisador Rubens Riscala Madi, essa metodologia simples e barata constitui-se em uma importante ferramenta no monitoramento de poluentes, capaz de fazer uma análise criteriosa do meio-ambiente. O trabalho envolveu a participação do Grupo de Pesquisa em Ecossistemas Aquáticos Sujeitos a Impactos Ambientais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), através dos reservatórios do Juqueri e Jaguari.

Parâmetro físico é associado ao biológico

Rubens esclarece que o interesse por esse trabalho surgiu através da abertura de uma linha de pesquisa dentro de um convênio existente com a Universidad Austral do Chile. “Responsável por uma parte desta linha de pesquisa, a professora Marlene Ueta, do IB, e eu concordamos em desenvolver o doutorado nessa área”, disse. Como ainda não havia um projeto de trabalho definido, Madi partiu, então, para a fase de levantamento bibliográfico e, também, de parasitas existentes dentro de reservatórios. Foi então que surgiu a idéia de associar o parasitismo de peixes com a qualidade ambiental. “No Brasil, o levantamento de parasitas é uma linha que está em desenvolvimento e é muito importante. Porém, queria algo mais. Pretendia fazer uma associação ou então uma utilização prática desse material que iria ser colhido. Veio a idéia de trabalhar a associação de parasitismo à saúde ambiental”, explica.

Rubens Riscala Madi metodologia simples e barata (Foto: Antoninho Perri)Metodologia – O primeiro passo foi buscar metodologias já utilizadas em outros países, uma vez que no Brasil não existe nada desenvolvido. O objetivo foi fazer um trabalho de pesquisa em dois reservatórios da Sabesp, com características distintas, através de comparação do parasitismo de uma mesma espécie de peixe encontrada nesses reservatórios. Dessa forma, segundo o pesquisador, seria possível saber como esse parasitismo atuava nos ambientes. Trabalhando com objetivos principais como o desenvolvimento de uma metodologia simples, barata e de fácil aplicação, a equipe encontrou resultados extremamente interessantes. “Utilizamos o cará (Geophagus brasiliensis), um peixe comum encontrado em qualquer lugar do Brasil, bom de trabalhar porque resiste aos vários ambientes. Até em lagoas mais salinizadas ou então em água doce é possível encontrá-lo”, comentou.

A metodologia é simples. Pegar o peixe através de redes e examinar quais os parasitas existentes nele, naquele determinado ambiente e naquele momento. Ao mesmo tempo, realizar um exame do ambiente, analisando fatores como pH, temperatura, eutrofização e turbidez da água. Dessa forma, os parâmetros físicos foram relacionados com parâmetros biológicos. “Dependendo do parasita, o trabalho consistiu em fazer a contagem dos parasitas externos ou então a realização de algum procedimento mais invasivo, como por exemplo, a retirada das brânquias para contar os parasitas ali encontrados. Para cada parasita existe um procedimento adequado”, comenta.

O parasitismo responde a determinados tipos de poluentes. Portanto, o número de parasitas diminui ou aumenta de acordo com o tipo de poluição existente. Alguns parasitas respondem diretamente a esse tipo de variação. No caso da eutrofização da água, que é um fenômeno causado por uma grande descarga de dejetos orgânicos, ocorre um aumento do número de plantas e outros organismos aquáticos que atuam como hospedeiros intermediários, entre os quias moluscos e copépodos. O peixe que abriga o parasita externamente serve de segundo hospedeiro intermediário, sendo que as aves que se alimentam de peixe, desenvolvem o adulto deste parasita.

Rubens diz que é uma metodologia capaz de detectar preventivamente, por exemplo, uma mortandade de peixes. “Antes de atingir esse nível, é possível tomar medidas para evitar acidentes ambientais. Trata-se de um trabalho de monitoramento, indicativo da saúde ambiental”. O pesquisador recomenda a metodologia para empresas de pequeno porte, uma vez que se trata de uma maneira econômica de poder realizar um monitoramento eficaz de maneira regular, porque não requer um conhecimento muito grande; basta um treinamento simples. Qualquer variação pode ser detectada rapidamente evitando maiores problemas ambientais.

A professora Marlene Ueta ressalta que esse trabalho está focado apenas na questão ambiental, e o fato do peixe conter esse tipo de parasita não determina se está próprio ou não para o consumo humano. “A metodologia utilizada para avaliação de consumo é completamente diferente. Além disso, alguns desses peixes utilizados como indicadores de ambiente não são de consumo e geralmente são pequenos”, disse ela.

No futuro, Rubens disse que a pesquisa terá continuidade, juntamente com a PUC-Campinas e a Sabesp, agora associando essa metodologia a uma outra de imunologia de peixes, na tentativa de buscar um resultado mais efetivo. “A idéia é fazer um levantamento com outros tipos de peixes”, finaliza.

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