RAQUEL DO CARMO SANTOS
Em pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM), a psicóloga Silvia Nogueira Cordeiro entrevistou ginecologistas para conhecer suas percepções sobre as vivências no contato com pacientes. “Esta é uma especialidade que trabalha com questões pertinentes à sexualidade, uma vez que lida diretamente com o cuidado na saúde da mulher e seus órgãos reprodutores”, explica Silvia.
Uma das observações da tese de doutorado orientada pelo professor Egberto Ribeiro Turato revela que a consulta médica, como encontro interpessoal único, mobiliza diversas inquietações afetivas nos ginecologistas, em razão do fato de lidarem com questões íntimas da mulher.
De acordo com a psicóloga, a sexualidade faz parte da vida das pessoas e, como tal, poderia ser abordada mais abertamente pelos profissionais de saúde. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, as queixas sobre assédio sexual na especialidade de ginecologia são cinco vezes mais freqüentes quando comparadas ao conjunto das outras especialidades médicas.
A pesquisa realizada não teve o propósito de discutir a veracidade desse fatos e números. Porém, os dados, segundo a pesquisadora, sugerem que as questões pertinentes à sexualidade, tanto do médico como da paciente, apesar dos cuidados éticos, circulam no ambiente da consulta.
Com as mudanças curriculares nos cursos de medicina, discussões acerca da subjetividade do profissional têm sido mais valorizadas. A psicóloga defende, no entanto, que o assunto deveria ser mais focado na especialidade como forma de dar oportunidade ao médico de compartilhar e elaborar suas próprias reflexões. Segundo o estudo, os profissionais entrevistados buscaram por especializações e formações complementares para aprender a manejar melhor essas questões
Outra situação apontada no trabalho foi a não-disponibilidade de 40% dos contatados em falar sobre a questão. Dos 13 convidados para participar das entrevistas abertas, oito médicos aceitaram prestar depoimentos. Silvia acredita que o “silêncio” desses profissionais poderia indicar a dificuldade de abordagem do tema. “Foi uma forma de dizer através do que não foi dito. Algo ficou implícito nessas situações”, afirma. Os entrevistados, sendo cinco homens e três mulheres, foram selecionados por possuírem uma vivência de docência, pesquisa e de atitudes profissionais que poderiam contribuir com o tema em estudo. (R.C.S.)