O diretor associado do IA, professor João Francisco Duarte Júnior, considera que o Lepac funcionará como um “braço estendido” do Instituto no município fluminense. “Por se tratar de uma cidade que detém um valioso patrimônio material e imaterial, penso que Paraty se apresentará como um importante campo de pesquisa para nossos alunos e docentes. Além disso, o laboratório também possibilitará a execução de importantes ações de extensão, um dos pilares da Universidade”, avalia. De acordo com ele, os moradores locais têm demonstrado interesse por cursos na área de música, como de violino e piano. “Vale destacar, porém, que o Lepac não abrigará atividades relacionadas apenas ao campo das artes. O laboratório estará aberto a toda a comunidade acadêmica”, diz.
O Lepac é a concretização de um projeto pessoal do engenheiro naval e artista plástico Alvaro de Bautista, docente do IA. Durante vários anos, ele trabalhou em favor da criação de uma espécie de campo avançado da Unicamp em Paraty. O projeto começou a ganhar forma a partir de um contato com o arquiteto e paisagista Tymur Klink, que também tinha a intenção de construir um centro de incentivo às artes na cidade fluminense. Tymur é irmão de Amyr Klink, o conhecido navegador brasileiro. “Depois do nosso encontro, Tymur se comprometeu a doar um terreno de 2 mil metros quadrados, localizado no então bairro Portal de Paraty, desde que eu assumisse o desafio de erguer o prédio e viabilizar as atividades”, lembra Bautista.
Com investimentos próprios, o docente do IA construiu um prédio de mil metros quadrados. Bautista calcula que tenha aplicado cerca de R$ 350 mil nas obras. O restante do terreno foi destinado a um projeto de paisagismo, no qual se destacam diversas espécies nativas e bromélias. No jardim também foi instalado um quiosque de sapé junto a uma cascata. Nesse ponto, devem ocorrer reuniões musicais, saraus de poesia, entre outras atividades. Assim que o Lepac ficou pronto, conta o professor, o nome do bairro foi alterado para Portal das Artes.
De acordo com Bautista, a idéia é que o laboratório abrigue múltiplas atividades. Dentro do campo das artes, a intenção é oferecer cursos de extensão de desenho, pintura, escultura, história da arte, cerâmica, música, restauração de obras, construção de instrumentos etc. No âmbito científico, as atividades estarão voltadas inicialmente para a construção naval, oceanografia, biologia marinha, astronomia e navegação. “Isso não impede, evidentemente, que cursos referentes a outras áreas sejam incorporados com o passar do tempo”, esclarece o docente do IA, que também responde pela coordenação geral do Lepac.
Outra preocupação do laboratório, de acordo com Bautista, será desenvolver atividades voltadas à defesa do patrimônio histórico, artístico e cultural daquela região. Na opinião do docente do IA, o público do Lepac deverá ser bastante diversificado. Ele destaca que, por ser uma cidade turística e sediar eventos de alcance internacional, como a Festa Literária e o Festival de Cinema, Paraty recebe pessoas de diversos estados brasileiros, assim como de outros países. “Penso que nosso público será amplo e qualificado”, prevê. O coordenador geral do Lepac destaca, ainda, que algumas ações serão dirigidas especialmente aos moradores da região.
Existe a intenção de oferecer aos jovens de Paraty e imediações cursos profissionalizantes, especialmente voltados às profissões e atividades ligadas ao mar. Assim, os futuros alunos teriam a oportunidade de aprender técnicas de construção de barcos, de navegação e de preservação ambiental. “O Lepac já teve a oportunidade de sediar, nos meses de outubro e novembro de 2006, um curso de formação de aquaviários, que foi ministrado pela Capitania dos Portos”, afirma Bautista. O coordenador geral do Lepac assegura que as instalações do laboratório estão adequadas para receber tantas atividades.
O prédio conta com ateliês de artes, laboratório para estudo de biologia e oficinas de marcenaria, mecânica e elétrica. Ademais, uma biblioteca está sendo formada. “O Lepac também tem uma galeria de arte, dotada de um piano. Nesse local, em agosto de 2006, nós tivemos a oportunidade de comemorar os 40 anos da Unicamp. A festividade foi marcada por uma palestra sobre cultura caipira, pela apresentação do grupo de cordas Carcoarco e por um recital de piano”, relata Bautista. De acordo com o docente do IA, embora a Unicamp não tenha feito qualquer investimento financeiro para a construção do laboratório, o apoio da Reitoria da Universidade foi importante para a transformação do projeto em realidade. “A administração superior não mediu esforços para que o Lepac fosse oficialmente ligado ao Instituto de Artes. Penso que o laboratório vai se transformar num espaço multidisciplinar, por meio do qual a Unicamp poderá ampliar a sua atuação para outras regiões do território nacional”.
Evento O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Artes e Ciências (Lepac) conta com um Comitê Administrativo, composto por um representante do Instituto de Artes (IA), um do Instituto de Biologia (IB), um da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e um da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac). Ao comitê compete, entre outras atividades, analisar e aprovar os projetos a serem executados. O representante da Preac no Comitê é Marcos Tognon, assessor do órgão e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Segundo ele, o Lepac deverá se transformar em um importante espaço para a atuação da Unicamp, em uma cidade particularmente especial como Paraty. “Além de ser um dos mais representativos núcleos da história colonial do país, Paraty também reúne um valioso patrimônio ambiental”, destaca.
Tognon revela que o Comitê Administrativo está analisando algumas alternativas para viabilizar a execução de projetos da comunidade universitária no Lepac. Em breve, um grupo deverá visitar o município fluminense para realizar uma prospecção na área da saúde e de controle de zoonoses. “Vamos estudar as diversas conjunturas sociais, ambientais e técnicas locais, visando à orientação de políticas públicas nessas áreas. Além disso, também estamos construindo parcerias para obter investimentos para os futuros projetos”. O representante da Preac considera que a riqueza humana, ambiental e cultural de Paraty certamente despertará o interesse da comunidade acadêmica, que terá a oportunidade de desenvolver estudos e pesquisas na região, nas diversas áreas do conhecimento.
Atualmente, complementa Tognon, a Unicamp está planejando um evento para marcar oficialmente a entrada em operação do Lepac. Uma das sugestões é a realização de uma semana de atividades, possivelmente na forma de workshops promovidos por docentes e estudantes de graduação e pós-graduação, em todas as áreas de conhecimento. A data ainda não foi definida. Outras informações podem ser obtidas no sítio do laboratório, no endereço www.preac.unicamp.br/lepac-ia.
Compartilhando conhecimento
Alvaro de Bautista é engenheiro naval e artista plástico. Em 1976, a convite do fundador da Unicamp, Zeferino Vaz, deixou Madrid, onde vivia, para criar o curso de Artes Plásticas da Universidade. Depois de mais de 30 anos de dedicação à instituição, o docente está em vias de se aposentar. “Mas não vou colocar os chinelos. A partir de agora, quero me dedicar integralmente ao Lepac”, avisa, referindo-se ao laboratório que construiu com recursos próprios, e por meio do qual pretende difundir a arte, a cultura e a ciência. Bautista faz questão de ressaltar que o projeto arquitetônico do prédio é de sua autoria e que as obras foram supervisionadas por ele. “Como sou engenheiro naval, tive que contar com a colaboração de um engenheiro civil, mas tudo saiu do jeito que planejei”. Integrante de uma família formada por artistas, cientistas e intelectuais, considerada por ele como “privilegiada”, Bautista afirma que tem obrigação de compartilhar com a sociedade o conhecimento que acumulou em 70 anos de vida. “Penso que o Lepac será um ótimo instrumento para isso”, analisa.