Franciane explica que os produtores da região de Campinas e Valinhos são responsáveis por 90% da produção nacional de figos de mesa, ocupando um bom espaço no mercado europeu. A fruta, no entanto, possui uma vida curta de um a três dias. Por isso, deve ser comercializada rapidamente. Para a exportação, inclusive, os figos são colhidos em estágio meio maduro, mais próximo do rami cuja coloração é 50% arroxeada , para que, ao chegar em seu destino, não esteja em condições inaceitáveis de consumo. Esse procedimento difere do adotado no mercado interno, quando a fruta é colhida já madura, pronta para o consumo. “Na ausência de tecnologia, os produtores encontraram um mecanismo para não perder espaço no mercado internacional”, explica o professor Ferraz.
No percurso para o mercado europeu, a fruta sofre diversas oscilações de temperatura são vários ciclos, desde a colheita, passando pelo transporte em caminhões até o tempo para o embarque em aeroportos. Esses procedimentos, explica a pesquisadora, podem ocasionar danos ao fruto, levando-o a perder as suas características, afetando inclusive o sabor e a aparência. Neste sentido, Franciane simulou, em laboratório, quatro variações de temperatura, semelhantes às registradas no transporte do produto, para solucionar o problema.
Os testes resultaram em uma perda de massa do fruto menor que 2% ao final de sete dias de conservação da fruta envolvida em filme plástico, mas sem adição de gases. Em outra situação, em que o figo não foi envolvido em filme e nem foram feitas simulações de oscilações na temperatura, a perda de massa foi de 8%. Observou-se também o desenvolvimento de fungos, o que não ocorreu nos frutos acondicionados em filmes plásticos.
Em todos os testes, o figo foi colhido no estágio maduro, sem necessidade da colheita prematura da fruta. Franciane esclarece, no entanto, que a técnica deve ser utilizada adequadamente. “Não é qualquer filme plástico que pode ser utilizado. É preciso saber o grau de especificação para melhor recomendação”, explica. Já o processo de modificação da atmosfera ainda tem um custo considerado alto. Por isso, a técnica poderia ser aplicada nos transportes de longa distância.
Cestas O professor Antonio Carlos de Oliveira Ferraz, da Feagri, dedica-se há dez anos ao estudo de técnicas que otimizam a cadeia de produção do figo roxo. Além do trabalho conduzido por Franciane, o professor assina a patente de cestas plásticas com compartimentos individuais para a colheita do figo. Segundo o docente, o novo produto foi desenvolvido em conjunto com o professor Sylvio Honório, também da Feagri, e com a Embrapa. A transferência da tecnologia deve ocorrer nos próximos meses.
“Foi uma resposta a uma necessidade dos produtores. As cestas de bambu, tradicionalmente usadas, possuem arestas que podem danificar o produto. Ademais, o utensílio possui uma profundidade que obriga o coletor a empilhar o figo, o que pode danificá-lo”, explica Ferraz. A cesta plástica, segundo o docente, é muito mais higiênica e consegue conservar o produto em bom estado.
A produção de figo roxo manteve-se estável nos últimos quatro anos. Foram produzidas entre 850 e 900 toneladas, e a exportação registra crescimento a cada ano. O maior volume de vendas no mercado europeu ocorre entre dezembro e janeiro, período de entressafra do figo turco, concorrente do Brasil. Segundo Ferraz, o figo brasileiro está bem-cotado, pois segue rígidas normas de produção.