Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação

Unicamp Hoje. Você está aquiAssessoria de ImprensaEventosProgramação CulturalComunicadosPublicações na Unicamp

ciliostop.gif
Jornal da Unicamp

Semana da Unicamp

Assine o "Semana"

Divulgue seu assunto

Divulgue seu evento

Divulgue sua Tese

Cadastro de Jornalistas


Mídias

Sinopses dos jornais diários

Envie dúvidas e sugestões

ciliosbott.gif (352 bytes)

1 2 3 4 a 11 12 13 14 15 16

Jornal da Unicamp - Junho de 2000

Página 14

PESQUISA

O remédio pega condução
Estudo interdisciplinar explora estruturas que carregam medicamentos

Raquel C. Santos

A forma como os medicamentos trilham os caminhos que os levam às regiões do corpo que mais precisam deles são de extrema importância para as terapias. Um exemplo claro da importância desta "condução" são os lipossomas stealth (escondidos) — bolinhas microscópicas de gordura envoltas em polímeros hidrofílicos (que retêm água na sua estrutura) . Tal fórmula – cujos nomes dos ingredientes podem parecer complexos – podem ser de extrema eficácia para "puxar" os medicamentos em direção aos tumores, quer seja pelo direcionamento promovido por anticorpos ligados quimicamente à superfície dos lipossomas, ou a partir da exposição a um campo eletromagnético externo, o que traz ótimas perspectivas para os pacientes que fazem uso de técnicas como a quimioterapia. Na Unicamp, nos últimos seis anos, pesquisas interdisciplinares envolvendo a Faculdade de Engenharia Química (FEQ), o Instituto de Química (IQ) e a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) deverão ter papel decisivo nas novas formas de administração de medicamentos no Brasil.

Os lipossomas têm uma grande vantagem, que é a semelhança com a membrana das células. Por isso, segundo a coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Processos Biotecnológicos, Maria Helena Andrade Santana, essas partículas interagem mais intimamente e com maior eficiência com as células e tecidos do organismo. "A compatibilidade e a habilidade de carregar substâncias sóluveis ou insolúveis em água são as bases de seu uso". Outro benefício é a possibilidade controlar a liberação gradativa dos medicamentos no organismo. Por se tratar de partículas minúsculas, da ordem de nanômetros ( 10 –9 metros) ou micra (10–6 metros) a substância pode ser administrada nas formas oral, intravenosa, ocular ou pulmonar, ou dérmica. Atualmente, os lipossomas já têm sido utilizados com sucesso nos Estados Unidos e Europa na terapia de várias doenças. Na Unicamp, tem sido pesquisados para a terapia da tuberculose, doenças alérgicas e câncer.

Tuberculose – Doença que a cada ano registra 100 mil casos novos e assinala a marca de 4 mil a 5 mil mortes em doze meses no Brasil, a tuberculose pulmonar é uma enfermidade que necessita de longo tratamento. Em geral, o paciente deve tomar três tipos de drogas, semanalmente, num período de seis a nove meses. Daí os efeitos colaterais causados pelo tratamento representarem a maior dificuldade e a maior causa de abandono do tratamento pelo infectado. Em diversos casos, pode ocorrer, por exemplo, o comprometimento hepático e renal, sem contar o mal-estar, a baixa resistência e os enjôos constantes. A utilização de lipossomas na administração dos medicamentos seria "o vislumbrar de uma nova saída para um problema grave", segundo a microbiologista. Maria Cecília Barrison Villares, do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas.

Uma das alternativas seria administrar as drogas a partir de inalação. "É uma forma rápida e menos incômoda do que tomar vários tipos de comprimidos num só dia", explica Cecília. Como se trata de uma doença pulmonar, ela acredita que a eficácia aumentaria ainda mais, pois o medicamento iria direto ao pulmão. Isto não significa que outras formas de administração não poderiam ser estudadas. O que se pode adiantar, comenta, é que os efeitos colaterais poderiam ser bastante minimizados e o abandono do tratamento seria reduzido. O desenvolvimento de lipossomas para administração de medicamentos para a tuberculose por via pulmonar, intravenosa e oral estão sendo desenvolvidos na FEQ sob a orientação das professoras Maria Helena Andrade Santana e Ângela Maria Moraes.

Alergias – Outra aplicação dos lipossomas seria na terapia de doenças alérgicas como asma, rinite e dermatite atópica (atópica quer dizer que ela é reativa a alérgenos ambientais, como ácaros e fungos). Neste caso, a estrutura seria utilizada para carregar este alérgeno para um determinado local, onde será liberado de forma controlada no organismo . O imunologista Ricardo Zollner, do Laboratório de Imunologia do Departamento de Clínica Médica da FCM explica que tal técnica traz como benefícios a dimunição da hiperreatividade dos pacientes ao alérgenos e o possível encurtamento de tempo do tratamento.

Zollner esclarece ainda que as etapas para alcançar os resultados esperados incluem o conhecimento do antígeno, o material a ser usado, a resposta desse alérgeno e o veículo de transporte da droga. O que está se estudando no Laboratório de Imunologia da FCM em conjunto é, justamente, a diminuição da resposta do alérgico, o que resultaria numa imunoterápico mais efetivo (a vacina) para as doenças alérgicas.

Os experimentos em laboratórios, embora em etapas avançadas, ainda não são suficientes para os ensaios em humanos. Segundo Zollner, as expectativas são de iniciar os testes em 2002. "A partir disso, ainda temos que adotar as fases requeridas pelos órgãos competentes".

O câncer – De acordo com a aplicação, os lipossomas devem ser projetados e construídos para uma finalidade específica. Para a terapia do câncer, por exemplo, é necessário direcionar o veículo para o tumor e projetar uma liberação localizada do medicamento para maior eficiência. A utilização de lipossomas nas terapias do câncer são as mais estudadas no mundo, explica Maria Helena. Estudos com drogas potentes como a camptotecina, fazem parte dos trabalhos do grupo, sob a orientação dos professores Francisco Pessine, do IQ e Maria Helena Andrade Santana da FEQ.

Conforme a aplicação, vários tipos de lipossomas podem ser projetados e produzidos. Atualmente, as pesquisas desenvolvidas na Unicamp envolvem os vários tipos de lipossomas, e alguns deles já encontram-se em fase de estudos na FEQ para o aumento de escala do processo de produção.

O desenvolvimento da tecnologia envolve também a produção da matéria-prima, principalmente quando se trata de lipídios especiais como é o caso de lipídios chamados diacetilênicos, para produção dos lipossomas polimerizados. "Para chegar neste estágio foi mais difícil do que se imaginava inicialmente", afirma o professor Carlos Roque, do Instituto de Química. Ele lembra que o processamento de diferentes tipos só foi possível depois de um ano e meio de experiências. "No início das pesquisas, só contávamos com um tipo de lipídio importado e de difícil aquisição", lembra. Daí surgiu a idéia de se produzir o material no próprio laboratório. Com isso, abriu-se o leque de possibilidades, pois os pesquisadores sintetizaram duas novas espécies de estrutura, inéditas na literatura.

O que são lipossomas
Os lipossomas são partículas esféricas de lipídeos com tamanhos que variam 50 namômetros a alguns micra, possíveis de se enxergar somente em microscópio de alta resolução. Elas são capazes de encapsular em seu interior substâncias de diversas naturezas. Foram descobertos em 1960 pelo cientista inglês Alec Bangham. Somente em 1980, no entanto, as pesquisas em torno dessa estrutura foram intensificadas, alcançando na década atual, presença constante na indústria cosmética e farmacêutica.


© 1994-2000 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail: webmaster@unicamp.br