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Junho de 2000 Um ato simples Débora Pereira Fernandes Domingues, 38 anos, casada, técnica de informática. Há algum tempo, os médicos detectaram nela problema de rim: o Lúpus eritematoso, doença ainda hoje de origem desconhecida pela ciência, que ataca o tecido conjuntivo. Logo começaram a aparecer os primeiros sintomas da doença: febre, emagrecimento, manifestações cardiovasculares, renais e nas articulações. Há quatro anos os rins de Débora deixaram de funcionar e ela passou a fazer hemodiálise. Hoje Débora ocupa a incômoda nonagésima primeira posição na fila de espera por um órgão para transplante do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. "Pelo jeito, essa espera ainda vai ser muito longa. Vivo para isso, tenho fé e muita esperança de que ainda vou conseguir o transplante e viver uma vida normal. O que me consola é saber que tem gente médicos e pessoas comuns que se preocupam com isso", diz Débora. É com o objetivo de reverter esse triste e doloroso quadro que o Hospital das Clínicas da Unicamp acaba de lançar uma grande campanha para captação de órgão e, por conseqüência, acelerar o número de pessoas doadoras. E mais: até o final do ano, o hospital vai criar uma unidade exclusiva para a realização de transplantes, segundo o superintendente do HC, Paulo Rodrigues da Silva, construída com recursos do Ministério da Saúde. "Hoje, quem precisa de um transplante é internado com outras pessoas, e a nova unidade vai possibilitar que o hospital dobre o número de pacientes atendidos", ressalta. Atualmente, mais de duas mil pessoas estão aguardando na fila para conseguir um transplante de órgãos como rim, fígado, coração e córneas. Segundo o urologista Adriano Fregonesi, coordenador da Central de Captação de Órgãos do HC, a média de espera desses pacientes é de aproximadamente três anos, período em que cerca de 30% dos pacientes morrem antes mesmo de receber um órgão. "O nosso maior problema é que a oferta de órgãos é muito inferior ao que efetivamente precisamos", diz ele. Receio Com a finalidade de reverter esse perfil, médicos, transplantados e pacientes de lista de espera estão se mobilizando para alterar leis que regem os mecanismos para doação, de forma a elaborar estratégias eficazes para conscientizar a população sobre a importância de se doar um órgão. Com esse mesmo objetivo, a Secretaria Estadual de Saúde descentralizou o sistema de captação de órgãos em São Paulo em quatro blocos, medida que facilita o trabalho dos médicos para encontrar órgãos que possam ser transplantados. Um desses blocos de informações é centralizado pela Unicamp, que administra 127 municípios da região de Campinas. Fregonesi explica que a demora das famílias em tomarem a decisão se devem ou não doar os órgãos de algum parente morto é um dos problemas que acabam por inviabilizar o processo. "Um transplante de coração deve ser feito dentro de, no máximo, quatro horas, depois da retirada do órgão. Mas nem sempre isso ocorre. Por isso é que propomos que o assunto deva fazer parte de discussões entre os familiares", assinala o médico. Ele adianta que a fila de espera por um transplante no Brasil ganha um novo paciente a cada hora. O mais dramático é que a extensão da fila parece não se alterar, em virtude do número de pessoas que morrem enquanto aguardam pela doação. O receio das pessoas em doar seus órgãos parece ser o principal motivo que impede que a lista de doadores cresça. "As famílias temem, por exemplo, os laudos que identificam a morte do cérebro de seus parentes. Situações em que a pessoa está clinicamente morta, embora tenha outros órgãos no corpo funcionando com o auxílio de aparelhos", diz Fregonesi. "Sempre circulam, boatos de que os médicos divulgam laudos com objetivo de retirar os órgãos da pessoa para comercializá-los, e isso não existe em hipótese alguma". Para se fazer um transplante, participam do processo cerca de 50 pessoas, que vai desde a retirada do órgão até o seu implante no paciente que o aguarda e é praticamente impossível efetuar algo ilegal com a participação de tanta gente. Para ele, há muito tempo o transplante de órgãos deixou de ser um procedimento experimental ou de alto risco para o paciente, e hoje o índice de sucesso com esse tipo de cirurgia é de aproximadamente 80%. Os interessados em participar dessa campanha da Unicamp poderão entrar em contato com a Universidade por meio dos telefones 788-8003 ou 788.800. (A.R.F.) |
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