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Junho de 2000 O evento "Ritmos da Terra", promovido pela Unicamp, trouxe o ancestral e o moderno para a cidade, em uma festa da arte percussiva que fez história no mês de maio. Quem ouviu, não esquecerá a beleza do urbano/rural de Mestre Ambrósio, a energia do Djambafolê, as festas maranhenses do Bumba-meu-Boi e Tambor de Crioula, o som colhido na África, Índia e América e cozido pelos norte-americanos do Hand On Semble, o arrepiante pandeiro italiano de Alessandra Belloni, entre outros. Foram 34 apresentações de grupos e solistas do Brasil e de mais 8 países (Argentina, Uruguai, Venezuela, EUA, Portugal, Espanha, França e Itália), 18 oficinas oferecidas pelos músicos que se apresentaram na Mostra, uma exposição de 240 instrumentos de percussão representando 40 países e o I Simpósio Brasileiro de Percussão e Ação Social (com 300 pessoas entre mais de 30 projetos sociais que utilizam a percussão como tema de trabalho), além de três festas populares - Samba Paulista, Boi do Maranhão e Samba Enredo. Juntar tudo isso num uníssono realizando o maior evento de percussionistas do País e certamente um dos mais importantes do mundo foi o trabalho de Dalga Larrondo, professor do Instituto de Artes (IA). Apesar de Ritmos da Terra ter acontecido em meio à greve, superou as expectativas, tanto na parte das apresentações como no alcance social. "Foram mais de 100 horas de atividades simultâneas, entre workshops, debates, exposição e oficinas", relembra Larrondo. Ação Social O I Simpósio Brasileiro de Percussão e Ação Social aconteceu no Centro de Convenções da Unicamp, de 24 a 26 de maio, e reuniu educadores, percussionistas, músicos, pedagogos, terapeutas, psicólogos, crianças e adolescentes. Como parte do encontro internacional de percussão, o simpósio tinha entre suas propostas discutir a criação de mecanismos e formular projetos que visem tirar das ruas crianças e adolescentes em situação de risco. Segundo o professor Roberto Teixeira Mendes, Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, a Unicamp deseja e procura participar do fenônemo que é fazer uma criança de periferia interessar-se pela percussão coletiva e adotá-la como atividade. "A Universidade está apenas cumprindo o seu papel, que é produzir e divulgar conhecimentos e cultura", disse. O simpósio reuniu aproximadamente 400 pessoas, integrantes de conjuntos de percussão de diversas regiões do Brasil. Eles responderam pela apresentação de cerca de trinta projetos de caráter social, que têm como principal elemento de trabalho o instrumento de percussão. Um dos objetivos foi a busca de alternativas, como financiamentos ou contratos de parcerias, para que os projetos tenham êxito. A maioria dos grupos queixou-se da dificuldade de se conseguir apoio, principalmente financeiro, de órgãos governamentais ou de empresas particulares. No entanto, as dificuldades não se limitam a isso. "Apesar das boas intenções, é difícil encontrar pessoal especializado para trabalhar com a gente. Seria interessante que os governos criassem meios de instruir melhor esse pessoal", diz Silvia Laís Camargo e Silva, do Grupo Raiz Afroxé, formado por 40 adolescentes. Consciência Para Dalga Larrondo, a percussão tem o poder mágico de despertar na criança ou no adolescente a disciplina, a responsabilidade e a consciência que eles precisam para mudar de vida. "Seja como músico ou como qualquer outro profissional", diz Larrondo. Segundo Max Nunes de França, de 18 anos, integrante do grupo Raiz Afroxé, o projeto do grupo é "batalhar para que possamos chegar à mídia, e não apenas mostrar a nossa arte nas feiras e escolas da periferia de São Paulo. Só assim é que vamos nos desenvolver, ampliar a nossa infra-estrutura, o nosso know-how". O percussionista afirma que no Brasil há excelentes grupos à margem. "É preciso, entretanto, criar uma infra-estrutura legal para que os seus integrantes não se envolvam com drogas, em delitos ou com qualquer outro tipo de violência", diz. E para que isso não ocorra é necessário que "os instrumentistas tenham orientação de gente especializada, um psicólogo ou um professor", acredita Paulo Henrique. Entre os muitos projetos apresentados durante o simpósio, a terapeuta Giovanna Augusta da Silva Delorenzo Said ressalta os do Arreda-Boi, de Santa Catarina, o Axé Opô Afunjá, da Bahia, o Tabinha, de Minas Gerais e o Raiz Afroxé. Todos, com poucas variações, buscam, indistintamente, a valorização do folclore, seja ele local ou regional, e, sobretudo, ocupar com uma atividade artística as crianças que ficam ociosas pela rua, levando-as para dentro de suas próprias comunidades. Um bom exemplo disso é o caso do Bate-Lata, de Campinas. Dois outros grupos que estão se sobressaindo são o Tabinha, de Uberlândia (MG), e o Kamu, de Belém (PA). O primeiro tem como proposta preservar e valorizar os ritmos afro-brasileiros, a exemplo do congo, moçambique e coco, executados pelos moradores mais antigos do bairro. O segundo, além de aprender a executar músicas do folclore brasileiro, fabrica seus próprios instrumentos. Os dois grupos buscam apoio de empresas particulares e também do governo municipal para levar seus projetos adiante. O tam-tam de várias culturas, aqui Maracas, reco-reco, temble block, djambê, sinos, kalimba ou o simples pandeiro de fabricação brasileira. Quem visitou a Expo-Percussão no Teatro de Arena do Centro de Convivência Cultural de Campinas, durante o megaevento "Ritmos da Terra Mostra Internacional de Percussão", seguramente teve a rara oportunidade de apreciar instrumentos diferentes e viajar pela arte, pela cultura, pela história e pela religião de diferentes povos das três Américas. Batizados com nomes que poderiam soar estranho ao ouvido da maioria dos brasileiros, havia ali, entre os 240 instrumentos expostos, o pouplar berimbau brasileiro, os não menos conhecidos pandeiros, de origem asiática e africana, até peças mais curiosas como o tambor falante (feito de madeira e pele animal), original da África, e fabricado na Costa do Marfim. O Brasil é um importante fabricante de alguns dos mais usados instrumentos de percussão por povos estrangeiros. Um deles é o célebre reco-reco, muito executado não só pelo músico brasileiro, como por africanos. Isso sem falar da tumbadora, de origem cubana, largamente construída e disseminada no Brasil. O visitante pôde ver (e tocar) as maracas de origem latina, de cabaça, madeira e contas feitas na Venezuela. Havia também o flexatone e o tambor de apache, ambos de origem norte-americana; o temble block cubano, e o djambê africano, construído no Senegal. Pôde contemplar ainda a tabla da Índia, os sinos do Egito, o pandeiro africano, de fabricação japonesa, e o bendir, de origem oriental, mas de construção espanhola. Interesse do público Guilherme da Silva Leme, de dez anos, considerou a exposição "muito interessante. Tem coisas aqui que eu nunca vi antes". E o instrumento que mais gostou foi o vibrafone, muito usado em música de jazz, que tem uma série de lâminas de aço que se percutem com baquetas e com ressoadores, dentro dos quais uma pequena pá elétrica agita o ar ampliando as vibrações. "Mas acho que é um instrumento difícil de aprender", diz Guilherme. Já o garoto Vitor Hosoe, também de dez anos, gostou mais do berimbau, "devido ao som diferente que produz". Embora toque violino, vive a incerteza de ser ou não ser músico no futuro. Andando de um lado para o outro, Carolina Pereira Lopes, de nove anos, pára na frente de um instrumento simples, mas um tanto curioso: o tam-tam, pequeno tambor de origem chinesa, confeccionado com liga de metal. "Tem muita coisa bonita aqui, mas isso é o que me chamou mais a atenção", diz ela. |
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