Seria
como retirar um cérebro do crânio, segmentá-lo
em regiões responsáveis pela memória,
movimento, sensibilidade, audição, etc,
e analisar cada região tanto na sua forma tridimensional
(3D) como por um número ilimitado de cortes,
visando, por exemplo, caracterizar a extensão
e as sutilizas de uma lesão. Se os filmes tomográficos
trouxessem tal detalhamento e nitidez, os médicos
garantiriam maior precisão e rapidez nos diagnósticos
e melhor planejamento dos tratamentos e cirurgias.
Equipamentos de ressonância magnética
possibilitam extrair muitas dessas informações
das imagens tomográficas, melhorando a precisão
do diagnóstico médico e o planejamento
de cirurgias e de outros tratamentos. No campo da
pesquisa, esta tecnologia permite o estudo aprofundado
do funcionamento daquele que é um dos órgãos
menos conhecidos do corpo humano.
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Técnico
analisa imagens tomográficas: no futuro, ao invés
do filme com o laudo do radiologista, o médico
pode receber um DC |
A estreita colaboração
entre engenheiros do Instituto de Computação
(IC) e médicos da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) vem permitindo o desenvolvimento
de um software para analisar a anatomia e a fisiologia
do cérebro a partir de imagens de ressonância
magnética. A computação de imagens
médicas mostrou grandes avanços nos
últimos 20 anos, mas no Brasil ainda é
incipiente, mesmo considerando sua utilização
crescente nas áreas de cardiologia e ortopedia.
As ferramentas em desenvolvimento na Unicamp, porém,
são dirigidas à neurologia e representam
inovações tecnológicas em sua
grande maioria.
A ressonância magnética
oferece imagens de seções do cérebro
seguindo orientações de cortes transversais,
coronais e sagitais. No método convencional,
estas imagens são impressas em filme e traduzidas
pelo radiologista em laudo enviado ao médico,
explica Alexandre Falcão, professor do IC e
engenheiro elétrico especializado em processamento
de imagem médica. A idéia é
explorar essas imagens no computador. Como as seções
são consecutivas, quando sobrepostas elas formam
uma imagem 3D contendo informações anatômicas
e funcionais sobre estruturas do corpo humano. No
futuro, ao invés de um filme tomográfico,
o médico receberia um CD e um programa para
analisar as imagens, podendo extrair medidas e outras
informações para a preparação
de uma cirurgia, acrescenta.
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Seqüência
de imagens em 3D |
Falcão informa que a pré-análise
de imagens já pode ser feita através
de computadores que acompanham o tomógrafo,
mas que são caríssimas. Chegam
a cobrar 40 mil dólares pela máquina
e o software, compara. A vantagem do software
em desenvolvimento é que ele pode ser executado
em qualquer micro e tem baixo custo é
possível, inclusive, que seja disponibilizado
gratuitamente na internet. Mas precisamos passar
por várias etapas até que as ferramentas
entrem na rotina médica de uma clínica
de tomografia ou de um consultório. Os estudos
têm apenas dois anos e estamos atacando basicamente
os problemas de segmentação e visualização.
No momento, trata-se de uma pesquisa multidisciplinar
importante para resolver problemas tanto da computação
quanto da medicina, observa.
Segmentação significa
a identificação de uma ou mais estruturas
3D existentes nas imagens, separando-as das demais.
A visualização implica diferentes formas
de observar essas estruturas, não apenas em
3D, mas em inúmeros cortes por superfícies
arbitrárias que o tomógrafo não
consegue gerar. Podemos inclusive inserir texturas,
colocando mais realismo para fins de educação
médica, exemplifica o professor do IC.
A rapidez na segmentação é um
diferencial crucial, pois na forma convencional o
processo levaria de 20 a 30 minutos, quando o software,
em seu estágio atual, já realiza este
seccionamento em segundos.
A terceira ferramenta, de análise das imagens,
possibilitaria que o médico, entre outras coisas,
quantificasse deformações de um órgão
correlacionando-a com algum problema clínico
detectado no paciente. Um exemplo simples é
o de produzir somente a imagem da pele, semitransparente,
localizando o tumor no cérebro. O médico
vai girando a imagem e obtém uma posição
relativa da lesão em relação
à pele, verificando com maior exatidão
o local onde deve ser feita a incisão cirúrgica,
explica Falcão.
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Projeção
volumétrica do cérebro |
O engenheiro de computação
Felipe Bergo, mestrando processamento de imagens 3D,
acrescenta uma aplicação já descrita
na literatura: É a de localizar o tumor
ou a estrutura a ser operada, projetando-se a imagem
sobre a cabeça do paciente, como um slide,
orientando o médico no corte, ilustra.
Bergo reitera que o processo de segmentação
é muito lento e que a pesquisa visa primeiramente
agilizar o processo. Depois, à medida
que o software for sendo disponibilizado, os próprios
médicos vão sugerir novas e melhores
aplicações.
O professor Fernando Cendes, chefe do Departamento
de Neurologia da FCM, lembra que o cérebro
é um órgão ao qual não
se tem acesso a não ser por métodos
muito invasivos. Estamos falando de uma metodologia
computacional para ter acesso a esta anatomia, como
se extraíssemos virtualmente o cérebro
da cabeça do paciente ou de uma pessoa normal.
Para um pesquisador, a ferramenta traz a possibilidade
de averiguar centenas e centenas de casos e de criar
um banco de dados para que se entenda a estrutura
do cérebro, comenta.
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Felipe
Bergo, Alexandre Falcão e Fernando Cedes: pesquisa
interdisciplinar |
Segundo o neurologista, um exame
de ressonância magnética resulta em um
número limitado de filmes tomográficos,
contendo poucos cortes. Normalmente, isto é
suficiente para avaliar uma lesão de forma
grosseira. Mas essas ferramentas permitem um número
ilimitado de cortes, aumentando a sensibilidade de
detecção de lesões sutis. Além
disso, na pesquisa, elas facilitariam o estudo de
regiões do cérebro ligadas ao movimento,
destreza, audição e por aí vai.
É uma utilização muito mais dinâmica,
afirma.
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