MANUEL
ALVES FILHO
As ações
de preservação ambiental passaram
a contar, recentemente, com uma importante ferramenta
de apoio: a matemática. Um exemplo da aplicação
da ciência nessa área é o
modelo matemático desenvolvido para a tese
de doutorado de Rosane Ferreira de Oliveira, defendida
no último 2 de junho junto ao Instituto
de Matemática, Estatística e Computação
Científica (IMECC) da Unicamp. Por meio
de equações, a autora analisou o
comportamento de manchas de petróleo e
seus derivados no mar. O recurso permite fazer
um prognóstico apurado da trajetória
das substâncias químicas, favorecendo
a adoção de medidas que possam evitar,
por exemplo, que elas atinjam uma área
rica em biodiversidade.
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Vazamento
de petróleo no litoral paulista: tendência
é que pesquisas sejam uniformizadas, de modo
que gerem um “pacote computacional” para ser
usado em planos de contingências |
De acordo com Rosane,
o modelo matemático não é
uma expressão exata da realidade, mas é
capaz de pintar um cenário que possibilite
compreendê-la. Entre as variáveis
consideradas na equação estão
a velocidade do vento, o tipo do óleo e
as condições das marés e
das correntes marítimas. Feitos os cálculos,
a autora antecipa qual será a tendência
do comportamento da mancha. O objetivo da
ferramenta não é dizer que a mancha
vai chegar num determinado local numa dada hora,
mas sim indicar para onde ela estará se
dirigindo. É um recurso mais qualitativo
do que quantitativo, explica.
A expectativa de Rosane
é que o modelo matemático seja utilizado
pelos setores operacionais das empresas que atuam
na área petrolífera e pelos organismos
responsáveis pelo controle, fiscalização,
monitoramento e licenciamento de atividades potencialmente
poluidoras. A legislação brasileira,
segundo ela, já exige que esse tipo de
ferramenta seja emprega por agências como
a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(Cetesb). O problema é que, por ser uma
técnica nova, elas ainda não têm
pessoal qualificado para analisar se uma modelagem
pode mesmo oferecer as respostas que promete.
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A
pesquisadora Rosane Ferreira de Oliveira:
objetivo é indicar para onde a mancha esta
se dirigindo |
Para elaborar sua tese,
Rosane valeu-se principalmente de notícias
publicadas pela mídia. Ao tomar conhecimento
de um acidente envolvendo vazamento de petróleo
e seus derivados no mar, ela buscava junto a várias
fontes os dados para montar a equação.
Depois, simulava o comportamento das manchas no
computador. O cenário virtual, conforme
a autora, sempre se manteve próximo do
real. Quando o jornal dizia que a mancha
havia avançado dois quilômetros numa
determinada direção, o ensaio indicava
uma situação similar, afirma.
Um exemplo de como o modelo
matemático pode evitar que o vazamento
de petróleo no mar ocasione um desastre
ambiental vem de um episódio ocorrido em
2000, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
À época, a Petrobras, causadora
do acidente, afirmava que a mancha de óleo
não atingiria uma reserva ambiental próxima.
Passados alguns dias, aconteceu o que a empresa
assegurava que não ocorreria. Os
ensaios que fiz em computador indicavam que a
mancha estava, sim, se dirigindo para a reserva.
Se a empresa dispusesse da ferramenta, o pior
poderia ter sido evitado, pois ela teria tempo
para colocar bóias de contenção
para segregar o poluente, relata Rosane.
Conforme a autora da tese,
a tendência é que pesquisas como
a sua sejam uniformizadas, de modo que gerem um
pacote computacional para ser usado
em planos de contingências. A idéia
é que, em pouco tempo, nós já
tenhamos softwares que ofereçam soluções
online.