A entrevista com o professor Wilson Cano, nesta edição, traz duas grandes questões à tona de uma discussão que ainda não se aprofundou de todo: a primeira é o dilema que vive a esquerda trabalhista brasileira que, tendo chegado nominalmente ao poder, protagoniza um enorme e inusitado desforço de quebra de direitos de uma importante categoria de trabalhadores a do servidor público.
A outra questão é o destino amargo que, a se confirmar o desmonte da Previdência do setor público, está reservado aos servidores e ao próprio setor público, onde se inserem as melhores universidades do país e em particular a Unicamp.
Para a universidade pública, serão também duas as conseqüências nefastas. Uma, de pronto, é o impacto da perda de direitos individuais (e de auto-estima) pelos servidores colocados na zona de transição ou seja, aqueles que, não tendo reunido ainda condições para requerer sua aposentadoria, serão apanhados nas malhas da nova lei. A outra, de médio e longo prazo, será o empobrecimento intelectual da universidade decorrente da perda de atratividade que ela representará para os talentos que, em início de carreira, escolherão talvez opções mais compensadoras como a iniciativa privada ou, no caso dos pesquisadores, o exterior.
Quem sabe falte profundidade histórica aos promotores dessa débâcle para que ignorem que o sistema universitário público brasileiro, mesmo sendo um dos mais recentes das Américas, é um dos melhores do Hemisfério Sul (na pós-graduação isso é indiscutível), e que só foi possível construí-lo graças a uma política de apoio do Estado onde se insere, muito notadamente, a política previdenciária.
Se o governo sair vitorioso nesse embate o que não é impossível, dado o arrastão parlamentar a que se assiste ele terá tido menos que uma vitória de Pirro; poderá ficar na história, infortunadamente, como aquele que desmontou a universidade pública brasileira e tornou-a irrelevante.