O ganho de peso é um 
                            dos pretextos mais comuns evocados por mulheres em 
                            idade reprodutiva para justificar o abandono dos métodos 
                            anticoncepcionais. Vários estudos na literatura 
                            médica tentaram avaliar o efeito do uso dos 
                            contraceptivos hormonais sobre o peso corpóreo. 
                            Se por um lado especialistas defendem a ocorrência 
                            de ganho de peso, outros contestam essa hipótese. 
                            Preocupada com a questão por causa da descontinuação 
                            do uso de anticoncepcionais, principalmente pelas 
                            adolescentes, a médica Daniela Fink Hassan 
                            fez um estudo retrospectivo, durante cerca de cinco 
                            anos, com cinco mil prontuários médicos 
                            de mulheres que passaram pelo atendimento no Ambulatório 
                            de Planejamento Familiar da Faculdade de Ciências 
                            Médicas da Unicamp (FCM). Ela buscou saber 
                            a variação do peso das mulheres em idade 
                            reprodutiva que não faziam uso de contraceptivo 
                            hormonal. O levantamento constatou que ocorreu ganho 
                            progressivo e significativo de peso das pesquisadas. 
                            Também considerou que esse ganho seria conseqüência 
                            da tendência natural da mulher em adquirir peso 
                            relacionado com o aumento da idade e com o fenômeno 
                            da transição alimentar, ocorrido nos 
                            anos 80. 
                            
                          
                            
                              |  | 
                            
                              | A 
                                médica Daniela Fink Hassan: ganho de peso seria 
                                conseqüência da tendência natural da mulher | 
                          
                          O estudo, orientado pelo professor 
                            Carlos Alberto Petta, resultou na dissertação 
                            de mestrado Avaliação da variação 
                            do peso corpóreo de usuárias de um método 
                            contraceptivo não hormonal. Segundo Daniela, 
                            a pesquisa deverá servir de referência 
                            internacional, pois parâmetro semelhante enfocando 
                            a mulher brasileira não existia na literatura 
                            médica. O estudo será publicado nos 
                            próximos meses na revista científica 
                            americana Contraception. 
                            
                          Para chegar à conclusão, 
                            a médica partiu da tese de que todos os estudos 
                            relacionados ao ganho de peso pela utilização 
                            de métodos anticoncepcionais hormonais são 
                            feitos com base em comparações entre 
                            as diversas opções existentes. Essas 
                            pesquisas já partem do princípio que 
                            o método engorda e ignoram a questão 
                            da tendência natural, associando diretamente 
                            o ganho ao método hormonal utilizado, 
                            esclarece Daniela. Ao se avaliar a influência 
                            do fator idade sobre o peso corpóreo das mulheres, 
                            define-se que com o passar dos anos a taxa metabólica 
                            indivíduos diminui, caindo em torno de 2% por 
                            década após os 18 anos. Isto torna inevitável 
                            o ganho de peso ao longo da vida. Por isso, a médica 
                            quis adotar uma metodologia inédita e comprovar 
                            que as mulheres em idade reprodutiva ganham peso independente 
                            do contraceptivo adotado. 
                            
                          Em sua pesquisa nos prontuários 
                            médicos, Daniela acabou fechando o espectro 
                            da avaliação em 1.697 mulheres, na faixa 
                            etária entre 16 e 48 anos, usuárias 
                            do Dispositivo Intra-Uterino (DIU) com cobre e não 
                            hormonal, por um período mínimo de cinco 
                            anos. A seleção do grupo levou em consideração 
                            que o método não influenciaria no peso 
                            e as mulheres não estariam expostas a uma elevada 
                            taxa de gravidez. Essas mulheres foram acompanhadas 
                            no Ambulatório, no período de 1977 a 
                            2002. 
                          Tendência natural 
                             Foram consideradas para a pesquisa, as variáveis 
                            de: paridade, idade, década de início 
                            do acompanhamento e presença de hipertensão 
                            arterial. A médica realizou uma análise 
                            descritiva e aplicou o Teste t de Student 
                            com a finalidade de estabelecer a evolução 
                            da média do peso e o índice de massa 
                            corpórea (IMC) das mulheres ao longo dos anos. 
                            Houve uma associação entre as variáveis 
                            da faixa etária e da década de início 
                            de acompanhamento. As mulheres de idade mais avançada, 
                            ou seja, acima de 30 anos, adquiriram mais peso que 
                            as jovens e evoluíram com aumento maior do 
                            IMC, sugerindo ser o ganho de peso um fenômeno 
                            relacionado à idade. 
                            
                          Com relação 
                            à década de início do acompanhamento, 
                            a médica sugere que o aumento poderia estar 
                            relacionado com o fenômeno de transição 
                            alimentar ocorrido exatamente no período analisado. 
                            Na década de 80, observa-se o surgimento 
                            de um grande número de redes de fast food, 
                            da troca por alimentos ricos em gordura e do aumento 
                            do poder aquisitivo da população em 
                            geral, que passou a ter maior acesso aos produtos 
                            alimentícios. As outras variáveis 
                            como paridade e a presença de hipertensão 
                            não exerceram influência no ganho de 
                            peso entre as mulheres analisadas.
                            
                            Abandono expressivo  Mesmo com vários 
                            contraceptivos disponíveis no mercado, são 
                            expressivas as porcentagens de abandono de seu uso 
                            freqüente. Segundo levantamento feito pela pesquisadora, 
                            a taxa de descontinuação com os anticoncepcionais 
                            orais atinge 50% em adultos após um ano de 
                            uso e 50% em adolescentes nos primeiros três 
                            meses, já com o injetável acetato de 
                            medroxiprogesterona, conhecido comercialmente como 
                            Depoprovera, a taxa é de 50 a 80% no primeiro 
                            ano, caindo para 40% a 60% no segundo ano de uso. 
                            No caso dos implantes subdérmicos e injetáveis 
                            combinados (de prescrição mensal), as 
                            taxas de abandono foram, respectivamente, de 16,8% 
                            e 7,5% após um ano.
                            
                          Daniela explica que essa taxa 
                            de abandono é atribuída aos efeitos 
                            adversos dos principais componentes hormonais destes 
                            contraceptivos, constituídos pelo estrogênio 
                            e progestógeno. Estudos indicam que, dependendo 
                            do tipo de anticoncepcional, pode ocorrer: aumento 
                            da pressão arterial, desordens menstruais, 
                            cefaléia, mastalgia, retenção 
                            hídrica, sintomas depressivos, nervosismo, 
                            náuseas e o questionável 
                            aumento do peso corpóreo. De acordo com a médica, 
                            o provável ganho de peso se tornou 
                            uma das principais causas de interrupção 
                            dos contraceptivos hormonais nos primeiros anos de 
                            uso. Contudo, existem grandes controvérsias 
                            na literatura quanto a esse possível ganho 
                            de peso. 
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