.. Leia nessa edição
Capa
Comentário
Artigo
Computador que fala
Parceria estratégica
Previdência
Cérebro em 3D

Peso de mulher

Reciclagem de água
Unicamp na Imprensa
Painel da Semana
Oportunidades
Teses da Semana
Desastre Ambiental
Reis do Rau-tu
Sebartião Martins Vidal
 

9

Estudo monitora peso
de mulher em idade reprodutiva

O ganho de peso é um dos pretextos mais comuns evocados por mulheres em idade reprodutiva para justificar o abandono dos métodos anticoncepcionais. Vários estudos na literatura médica tentaram avaliar o efeito do uso dos contraceptivos hormonais sobre o peso corpóreo. Se por um lado especialistas defendem a ocorrência de ganho de peso, outros contestam essa hipótese. Preocupada com a questão por causa da descontinuação do uso de anticoncepcionais, principalmente pelas adolescentes, a médica Daniela Fink Hassan fez um estudo retrospectivo, durante cerca de cinco anos, com cinco mil prontuários médicos de mulheres que passaram pelo atendimento no Ambulatório de Planejamento Familiar da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM). Ela buscou saber a variação do peso das mulheres em idade reprodutiva que não faziam uso de contraceptivo hormonal. O levantamento constatou que ocorreu ganho progressivo e significativo de peso das pesquisadas. Também considerou que esse ganho seria conseqüência da tendência natural da mulher em adquirir peso relacionado com o aumento da idade e com o fenômeno da transição alimentar, ocorrido nos anos 80.

A médica Daniela Fink Hassan: ganho de peso seria conseqüência da tendência natural da mulher

O estudo, orientado pelo professor Carlos Alberto Petta, resultou na dissertação de mestrado “Avaliação da variação do peso corpóreo de usuárias de um método contraceptivo não hormonal”. Segundo Daniela, a pesquisa deverá servir de referência internacional, pois parâmetro semelhante enfocando a mulher brasileira não existia na literatura médica. O estudo será publicado nos próximos meses na revista científica americana Contraception.

Para chegar à conclusão, a médica partiu da tese de que todos os estudos relacionados ao ganho de peso pela utilização de métodos anticoncepcionais hormonais são feitos com base em comparações entre as diversas opções existentes. “Essas pesquisas já partem do princípio que o método engorda e ignoram a questão da tendência natural, associando diretamente o ganho ao método hormonal utilizado”, esclarece Daniela. Ao se avaliar a influência do fator idade sobre o peso corpóreo das mulheres, define-se que com o passar dos anos a taxa metabólica indivíduos diminui, caindo em torno de 2% por década após os 18 anos. Isto torna inevitável o ganho de peso ao longo da vida. Por isso, a médica quis adotar uma metodologia inédita e comprovar que as mulheres em idade reprodutiva ganham peso independente do contraceptivo adotado.

Em sua pesquisa nos prontuários médicos, Daniela acabou fechando o espectro da avaliação em 1.697 mulheres, na faixa etária entre 16 e 48 anos, usuárias do Dispositivo Intra-Uterino (DIU) com cobre e não hormonal, por um período mínimo de cinco anos. A seleção do grupo levou em consideração que o método não influenciaria no peso e as mulheres não estariam expostas a uma elevada taxa de gravidez. Essas mulheres foram acompanhadas no Ambulatório, no período de 1977 a 2002.

Tendência natural – Foram consideradas para a pesquisa, as variáveis de: paridade, idade, década de início do acompanhamento e presença de hipertensão arterial. A médica realizou uma análise descritiva e aplicou o “Teste t” de Student com a finalidade de estabelecer a evolução da média do peso e o índice de massa corpórea (IMC) das mulheres ao longo dos anos. Houve uma associação entre as variáveis da faixa etária e da década de início de acompanhamento. As mulheres de idade mais avançada, ou seja, acima de 30 anos, adquiriram mais peso que as jovens e evoluíram com aumento maior do IMC, sugerindo ser o ganho de peso um fenômeno relacionado à idade.

Com relação à década de início do acompanhamento, a médica sugere que o aumento poderia estar relacionado com o fenômeno de transição alimentar ocorrido exatamente no período analisado. “Na década de 80, observa-se o surgimento de um grande número de redes de fast food, da troca por alimentos ricos em gordura e do aumento do poder aquisitivo da população em geral, que passou a ter maior acesso aos produtos alimentícios”. As outras variáveis como paridade e a presença de hipertensão não exerceram influência no ganho de peso entre as mulheres analisadas.

Abandono expressivo – Mesmo com vários contraceptivos disponíveis no mercado, são expressivas as porcentagens de abandono de seu uso freqüente. Segundo levantamento feito pela pesquisadora, a taxa de descontinuação com os anticoncepcionais orais atinge 50% em adultos após um ano de uso e 50% em adolescentes nos primeiros três meses, já com o injetável acetato de medroxiprogesterona, conhecido comercialmente como Depoprovera, a taxa é de 50 a 80% no primeiro ano, caindo para 40% a 60% no segundo ano de uso. No caso dos implantes subdérmicos e injetáveis combinados (de prescrição mensal), as taxas de abandono foram, respectivamente, de 16,8% e 7,5% após um ano.

Daniela explica que essa taxa de abandono é atribuída aos efeitos adversos dos principais componentes hormonais destes contraceptivos, constituídos pelo estrogênio e progestógeno. Estudos indicam que, dependendo do tipo de anticoncepcional, pode ocorrer: aumento da pressão arterial, desordens menstruais, cefaléia, mastalgia, retenção hídrica, sintomas depressivos, nervosismo, náuseas e o “questionável” aumento do peso corpóreo. De acordo com a médica, o “provável” ganho de peso se tornou uma das principais causas de interrupção dos contraceptivos hormonais nos primeiros anos de uso. “Contudo, existem grandes controvérsias na literatura quanto a esse possível ganho de peso”.

---------------------------------------------------------

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP