A constatação
de que se gasta, em média, mais de cem litros
de água para a lavagem de um automóvel
pequeno foi o ponto de partida da engenheira civil
Priscila da Cunha Teixeira para desenvolver um processo
que permite reciclar a água proveniente de
equipamentos de lavagem automática de veículos.
Durante dois anos, ela estudou, nos laboratórios
da Faculdade de Engenharia Civil (FEC), uma alternativa
chamada sistema de flotação, que consiste
em um tratamento com produtos químicos para
eliminar os resíduos da água e assim
reutilizá-la para a lavagem de carros. Segundo
a engenheira, a qualidade da água alcançada
permite, inclusive, sua utilização em
descargas de vaso sanitário, lavagem de pisos
e outros fins que não necessitem do líquido
potável.
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A
engenheira civil Priscila da Cunha Teixeira e
o orientador da pesquisa, professor Carlos Gomes
da Nave Mendes: economia |
Os testes foram realizados
em escala de laboratório e em poucos meses
deve-se iniciar a construção de um protótipo
para os experimentos em máquinas do tipo túnel
em postos de gasolina. A vantagem econômica
do processo não foi estudada pela engenheira,
mas ela garante que a economia de água poderá
chegar a taxas significativas. Isto porque, em sua
pesquisa, Priscila constatou que nessas máquinas,
o gasto médio é de 80 litros, no mínimo,
para veículos pequenos. Já no sistema
de lavagem a jato manual, a média de gasto
é de 75 litros a cada enxágüe na
lavagem.
Outro método avaliado
foi o equipamento conhecido como rollover.
Neste, o gasto é ainda maior, gira em
torno de 120 litros. Por isso, a proposta apresentada
pela engenheira na dissertação de mestrado
Emprego da flotação por ar dissolvido
no tratamento de efluentes de lavagem de veículos,
visando a reciclagem da água, apresentada
na FEC, vai beneficiar os postos de gasolina, lava-rápidos
e empresas de ônibus ou veículos, que
se utilizam desses processos para a limpeza de automóveis,
ônibus e caminhões.
A idéia inicial de
desenvolver uma alternativa para a água desperdiçada
na lavagem de carros surgiu justamente de um empresário,
tradicional fabricante das máquinas automáticas.
Eles nos procurou, pois estava com problemas
para vender seu produto e já havia procurado
diversas opções de tratamento no mercado
internacional, mas o custo era altíssimo e
inviável, explica o orientador da pesquisa,
professor Carlos Gomes da Nave Mendes.
Flotação
Para seu estudo, Priscila pegou um exemplo
próximo: a Seção de Transportes
da Unicamp. Lá a engenheira coletava as amostras
de água e levava ao laboratório para
avaliação. Numa primeira etapa
foram testados diversos produtos químicos para
promover o tratamento por coagulação
e floculação, explica Mendes.
O objetivo nesta fase era identificar uma formulação
química disponível no mercado que permitisse
que os resíduos se agregassem em flocos para
facilitar a sua remoção. Em um aparelho
chamado floteste que simula a flotação
foi desenvolvida a segunda fase do trabalho.
Dentro de um recipiente, uma água pressurizada
é injetada liberando bolhas que se aderem aos
flocos e lançados para cima, permitindo a sua
remoção. Em cada ensaio eram testados
a eficiência do sistema.
Ao final do processo os pesquisadores
conseguiram remover mais de 90% das substâncias
suspensas e de 60% a 85% das substâncias dissolvidas.
Esse resultado permite afirmar que é
possível reciclar, diz Priscila. A próxima
etapa é estudar a tendência de certos
poluentes de se concentrarem cada vez que ocorre a
circulação da água. Isto poderia
ocasionar a necessidade de diluição
com a água de chuva, por exemplo. A preocupação
maior, segundo a engenheira, é garantir uma
qualidade que não cause nenhum tipo de prejuízo
para quem eventualmente entra em contato com a água.
Priscila explica também
que os principais poluentes encontrados deste efluente
são os sais e cloretos, pois acima de uma certa
concentração eles podem acarretar a
corrosão da carroceria dos veículos.
Em cada tipo de lavagem são gerados os mesmos
poluentes em concentrações diferentes.
Nas lavagens com jatos, por exemplo, se a água
é utilizada na parte inferior do carro, fatalmente
a água escorrida vai conter maior concentração
de metais pesados e graxa. Nos efluentes da lavagem,
comumente são encontrados resíduos de
detergente, poeira, óleo e graxa. No caso dos
detergentes, eles causam a dissolução
de alguns poluentes, dificultando a sua remoção.
O simples tratamento físico não seria
aconselhado, por isso a necessidade da utilização
de produtos químicos. Mesmo assim, as dosagens
desses poluentes são mínimas. Por
isso é lamentável não reciclar
esta água.
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