Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 254 - de 31 de maio a 6 de junho de 2004
Leia nessa edição
Capa
Artigo: O Vestibular
Impactos: atuação de lobistas
Colírio para olho seco
HC: balanco positivo
Programa inédito: Vestibular
Perfil Social do estudante
 da Unicamp
Purificação da água
  Castanha na farinha de
   mandioca
Velocidade dos nanocristais
Painel da semana
Unicamp na mídia
Oportunidades
Teses da semana
Transferência de tecnologia
Fóruns permanentes
A Arte mais brasileira
 

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Artigo

O Vestibular e o
programa de ação afirmativa
e inclusão social da Unicamp



RENATO H. L. PEDROSA E
LEANDRO R. TESSLER

Renato Hyuda de Luna Pedrosa  é engenheiro eletrônico, professor do IMECC e coordenador de Pesquisa da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest)O Conselho Universitário da Unicamp – Consu – aprovou, em 25 de maio, proposta que estabelece o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp – PAAIS, que propõe uma série de medidas visando aprimorar a seleção do corpo discente de Graduação da Universidade e ampliar a inclusão social no campus.

A Comissão Permanente para os Vestibulares – Comvest - elaborou vários documentos utilizados pelo Grupo de Trabalho do Consu que formulou a proposta que deu origem ao programa. Além disso, as medidas aprovadas terão grande impacto sobre os resultados do próximo vestibular da Unicamp. Assim, pretendemos expor neste artigo dados e informações que consideramos relevantes para que as comunidades universitária e externa possam entender melhor e avaliar o programa adotado.

Na Unicamp, na média dos últimos 10 anos, 28,8% dos candidatos ao vestibular fizeram todo o ensino médio da rede pública. Como mais de 80% dos egressos do ensino médio estudaram na rede pública, muitos destes nem sequer se candidatam a uma vaga na nossa universidade. Este fenômeno é o que se chama auto-exclusão deste grupo no acesso à universidade. No entanto, no mesmo período, os alunos oriundos da rede pública eram 29,1% dos matriculados. Portanto, o vestibular da Unicamp não pode ser considerado excludente em relação aos que estudaram na rede pública.

O programa aprovado pelo Consu, além de ampliar as chances de alunos da escola pública, será um instrumento valioso para a redução da auto-exclusão, pois candidatos deste grupo, bem preparados, se sentirão incentivados a participar do processo.

O programa de isenção da taxa do vestibular, existente desde 2000, conta, agora,Leandro R. Tessler é físico, professor do IFGW e coordenador executivo da Comvest. com três modalidades: 1) 5.968 isenções integrais (duas vezes o número de vagas do vestibular) para candidatos que tiveram toda a formação básica (ensino fundamental e médio) na rede pública e têm renda familiar per capita até R$389,39; 2) 100 isenções integrais para funcionários Unicamp ou Funcamp; 3) Um número ilimitado de isenções integrais para candidatos que tiveram toda a formação básica na rede pública e que se candidatarem exclusivamente (todas as suas opções) aos quatro cursos de Licenciatura noturnos: Ciências Biológicas, Física e Química, Letras e Matemática.

Esta proposta, encaminhada ao Consu pela Câmara Deliberativa da Comvest, amplia significativamente o programa existente. Desde 2000, o programa de isenções já beneficiou mais de 10.000 candidatos, sendo que 277 foram aprovados nos cursos da Unicamp e 12 nos da Faculdade de Medicina e Enfermagem de Ribeirão Preto – Famerp, que participa do nosso vestibular. Em 2004, houve 4.030 candidatos isentos, 117 matriculados na Unicamp e 3 na Famerp. A relevância social do programa de isenções é evidenciada pela Tabela 1, que compara aspectos sócio-econômicos deste grupo com os de todos os matriculados em 2004.

A segunda parte da proposta estabelece que sejam adicionados 30 pontos às notas finais dos candidatos que cursaram todo o Ensino Médio na rede pública. Outros 10 pontos serão adicionados se ele tiver se declarado preto, pardo ou indígena. O candidato destes grupos deverá declarar interesse em participar do programa, sua situação não será divulgada publicamente (como ocorre com todos os dados do questionário socioeconômico).

Tabela 1

Até o momento em que a nota final é calculada, o programa não terá nenhum impacto. Não há modificação nem em relação à primeira fase ou na forma de padronizar as notas, nem quanto aos pesos de disciplinas prioritárias.

Considerando-se a base de dados do Vestibular 2004, deverá ocorrer um aumento médio em torno de 33% na aprovação dos alunos que cursaram todo o ensino médio em escola pública, de 11% entre os que se declararam pretos, pardos ou indígenas, e de 29% entre os que receberam isenção da taxa, os mais carentes.

A Tabela 2 inclui o detalhamento das projeções por curso, com os números de alunos que foram chamados com o sistema atual (coluna Atual) e quantos seriam convocados com o programa proposto (coluna PAAIS). Os números se referem à lista de primeira chamada, pois as demais envolvem decisões dos candidatos que não podem ser previstas.

Ressaltamos que o aumento relativo é maior, em geral, nos cursos de maior demanda (relação candidatos/vagas, incluída na coluna Demanda), um efeito muito importante do programa. A razão é simples: nesses, a concentração das notas finais dos candidatos se dá nos extratos mais altos de notas, onde uma pequena variação da nota tem um efeito mais significativo sobre a classificação.

Um dos documentos analisados pelo GT do Consu foi uma pesquisa sobre desempenho acadêmico dos alunos de Graduação que a Coordenação de Pesquisa da Comvest realizou durante o ano de 2003. O objetivo do trabalho foi estudar a associação de aspectos da condição socioeconômica do candidato ao prestar o Vestibular com seu desempenho durante o curso. Foi analisado o desempenho dos 7.094 alunos admitidos na Unicamp de 1994 a 1997. Maiores detalhes estão no boletim técnico Comvest Pesquisa N. 1, de 24/05, que está disponível na página WEB da Comvest.

Foram consideradas 6 faixas de notas dos vestibulares daqueles anos, com populações iguais, sendo analisado o desempenho relativo dos alunos em cada uma das faixas, usando as seguintes variáveis socioeconômicas para agrupar os estudantes: renda familiar, graus de instrução dos pais, se o candidato trabalhava ou não, se teria feito curso pré-vestibular ou não, natureza administrativa da escola de ensino médio (2º grau) cursada, se pública ou particular. As notas do Vestibular também foram incluídas como variável no estudo.

O resultado mais relevante foi que alunos que cursaram o ensino médio exclusivamente na rede pública têm, em média, desempenho final superior ao dos que estudaram na rede particular, especialmente nas faixas próximas à média da distribuição das notas. Nos extremos da distribuição, as faixas eram maiores e a nota do vestibular foi a variável mais relevante, como era de se esperar. Os 30/40 pontos a serem adicionados às notas correspondem à média dos valores das faixas intermediárias das notas do vestibular utilizadas no estudo.

A decisão do Consu pode ser considerada cautelosa, pois a pesquisa indica que os candidatos das escolas públicas não estariam apenas “empatados” no desempenho final, mas que teriam desempenho melhor, na maioria dos casos. Portanto, ao admitir estes alunos, a Unicamp estaria selecionando aqueles com maior probabilidade de apresentar melhor desempenho acadêmico.

A Comvest e a PRG acompanharão o desempenho dos alunos que participarem do programa. Os resultados fornecerão subsídios para reavalições das medidas adotadas, tanto no âmbito do Consu como no da Câmara Deliberativa da Comvest.

Veja
Tabela 2 - Programa de ação afirmativa e inclusão social - Unicamp Projeções da implementação do programa


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