Produto vai começar a ser testado e deve
chegar ao mercado em aproximadamente dois anos
Médico desenvolve colírio
para síndrome do olho seco
MANUEL ALVES FILHO
O oftalmologista Eduardo Melani Rocha, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, desenvolveu um novo colírio para ser empregado no tratamento da síndrome do olho seco. Pela primeira vez, o especialista incorporou à formulação, que está sendo objeto de pedido de patente, a insulina, hormônio que estimula o metabolismo dos tecidos e, nesse caso, pode contribuir para a produção da lágrima. A expectativa de Rocha é que o medicamento possa chegar ao mercado dentro de aproximadamente dois anos. Antes, porém, o colírio ainda terá que ser submetido a testes em humanos para comprovar a sua segurança e eficácia.
De acordo com o oftalmologista, já foram iniciados os trâmites para obter o consentimento da Unicamp para o início dos testes. Ele destaca que esta etapa requer uma série de cuidados, pois os procedimentos devem obedecer a critérios éticos e científicos rigorosos. Rocha conta que ação dos hormônios nos tecidos oculares sempre esteve entre os temas de suas pesquisas. A insulina, afirma, tem largo uso terapêutico, como no caso do tratamento do diabetes. Além disso, alguns estudos em andamento investigam outras aplicações para o hormônio. “Alguns pesquisadores acreditam, por exemplo, que a via ocular pode servir ao transporte da insulina até a corrente sanguínea”.
Rocha explica que, graças a essas pesquisas, os cientistas já sabiam que o hormônio tem um papel importante na nutrição das células. Restava descobrir, entretanto, se a insulina estava presente nos tecidos oculares e que papel ela desempenhava em relação a eles. Para responder a essas perguntas, o oftalmologista recorreu ao Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia (IB) da própria Unicamp. Lá, os especialistas isolaram tecidos oculares da circulação sangüínea, para checar se o hormônio chegava até eles. Se a substância fosse identificada, seria uma evidência de que fora transportada pela lágrima. “De fato, nós localizamos nos tecidos oculares receptores específicos para a insulina, indicando assim a sua ação no local”, diz o oftalmologista.
A partir desse dado, somado aos conhecimentos já consolidados sobre a insulina, Rocha imaginou que o hormônio poderia compor um novo colírio destinado ao tratamento de pessoas que apresentam deficiência de lágrima. A proposta era que a fórmula, mais do que repor a umidade dos olhos, como fazem os medicamentos presentes no mercado, também estimulasse o tecido a produzir mais fluido lacrimal. “Agora resta testar a eficácia da formulação em seres humanos, pois não existem bons modelos animais, dado que os olhos destes são muito mais resistentes”, esclarece Rocha.
Segundo o oftalmologista, a síndrome do olho seco atinge entre 2% a 15% das pessoas, variando conforme as condições ambientais e a presença de doenças sistêmicas, como o reumatismo. O especialista lembra que, além de incomodar, a deficiência da lágrima pode ocasionar outros problemas. “A lágrima carreia células importantes para a defesa dos olhos contra as agressões do ambiente, por exemplo. Isso pode levar a problemas de cicatrização. O olho seco severo pode exigir até mesmo o transplante de córnea ou levar à perda da visão”, adverte. Rocha destaca a importância da ação da Agência de Inovação da Unicamp (Inova) no processo de proteção da propriedade intelectual. “Sem essa orientação, a formulação talvez não tivesse a chance de vir a ser um produto comercial”.