Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 254 - de 31 de maio a 6 de junho de 2004
Leia nessa edição
Capa
Artigo: O Vestibular
Impactos: atuação de lobistas
Colírio para olho seco
HC: balanco positivo
Programa inédito: Vestibular
Perfil Social do estudante
 da Unicamp
Purificação da água
  Castanha na farinha de
   mandioca
Velocidade dos nanocristais
Painel da semana
Unicamp na mídia
Oportunidades
Teses da semana
Transferência de tecnologia
Fóruns permanentes
A Arte mais brasileira
 

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Produto vai começar a ser testado e deve
chegar ao mercado em aproximadamente dois anos

Médico desenvolve colírio
para síndrome do olho seco


MANUEL ALVES FILHO


O oftalmologista Eduardo Melani Rocha, pesquisador da FCM: síndrome do olho seco atinge entre 2% a 15% das pessoasO oftalmologista Eduardo Melani Rocha, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, desenvolveu um novo colírio para ser empregado no tratamento da síndrome do olho seco. Pela primeira vez, o especialista incorporou à formulação, que está sendo objeto de pedido de patente, a insulina, hormônio que estimula o metabolismo dos tecidos e, nesse caso, pode contribuir para a produção da lágrima. A expectativa de Rocha é que o medicamento possa chegar ao mercado dentro de aproximadamente dois anos. Antes, porém, o colírio ainda terá que ser submetido a testes em humanos para comprovar a sua segurança e eficácia.

Insulina entra na fórmula do medicamento

De acordo com o oftalmologista, já foram iniciados os trâmites para obter o consentimento da Unicamp para o início dos testes. Ele destaca que esta etapa requer uma série de cuidados, pois os procedimentos devem obedecer a critérios éticos e científicos rigorosos. Rocha conta que ação dos hormônios nos tecidos oculares sempre esteve entre os temas de suas pesquisas. A insulina, afirma, tem largo uso terapêutico, como no caso do tratamento do diabetes. Além disso, alguns estudos em andamento investigam outras aplicações para o hormônio. “Alguns pesquisadores acreditam, por exemplo, que a via ocular pode servir ao transporte da insulina até a corrente sanguínea”.

Rocha explica que, graças a essas pesquisas, os cientistas já sabiam que o hormônio tem um papel importante na nutrição das células. Restava descobrir, entretanto, se a insulina estava presente nos tecidos oculares e que papel ela desempenhava em relação a eles. Para responder a essas perguntas, o oftalmologista recorreu ao Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia (IB) da própria Unicamp. Lá, os especialistas isolaram tecidos oculares da circulação sangüínea, para checar se o hormônio chegava até eles. Se a substância fosse identificada, seria uma evidência de que fora transportada pela lágrima. “De fato, nós localizamos nos tecidos oculares receptores específicos para a insulina, indicando assim a sua ação no local”, diz o oftalmologista.

A partir desse dado, somado aos conhecimentos já consolidados sobre a insulina, Rocha imaginou que o hormônio poderia compor um novo colírio destinado ao tratamento de pessoas que apresentam deficiência de lágrima. A proposta era que a fórmula, mais do que repor a umidade dos olhos, como fazem os medicamentos presentes no mercado, também estimulasse o tecido a produzir mais fluido lacrimal. “Agora resta testar a eficácia da formulação em seres humanos, pois não existem bons modelos animais, dado que os olhos destes são muito mais resistentes”, esclarece Rocha.

Segundo o oftalmologista, a síndrome do olho seco atinge entre 2% a 15% das pessoas, variando conforme as condições ambientais e a presença de doenças sistêmicas, como o reumatismo. O especialista lembra que, além de incomodar, a deficiência da lágrima pode ocasionar outros problemas. “A lágrima carreia células importantes para a defesa dos olhos contra as agressões do ambiente, por exemplo. Isso pode levar a problemas de cicatrização. O olho seco severo pode exigir até mesmo o transplante de córnea ou levar à perda da visão”, adverte. Rocha destaca a importância da ação da Agência de Inovação da Unicamp (Inova) no processo de proteção da propriedade intelectual. “Sem essa orientação, a formulação talvez não tivesse a chance de vir a ser um produto comercial”.

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