Docente da Feagri adota procedimentos simples
para tornar produto potável em comunidades rurais
Pesquisador 'descomplica' purificação de água
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Acondicionar água em uma garrafa plástica pintada de preto, expondo-a ao sol por mais ou menos quatro horas, pode inativar bactérias. As sementes de Moringa oleifera, árvore indiana facilmente encontrada no Nordeste brasileiro, também se constituem numa importante alternativa para melhorar a qualidade da água de mananciais, muitas vezes inadequada para o consumo. Estes prosaicos procedimentos são adotados há alguns anos pelo professor José Euclides Stipp Paterniani, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), para solucionar o problema da qualidade da água em áreas rurais onde não há sistema de tratamento e distribuição de água. “As alternativas proporcionam água de boa qualidade, que pode ser utilizada pela população de forma segura”, garante o professor.
Paterniani explica que, tempos atrás, muitos dos mananciais localizados em zonas rurais mantinham níveis aceitáveis de qualidade. “Atualmente essas fontes estão contaminadas com esgotos das cidades. Faltam também análises e monitoramento. O pior é que as populações rurais não sabem disso”. Outro agravante é que nesses locais não há sistema de distribuição e não se tem acesso a informações sobre a qualidade da água.
O pesquisador sempre aperfeiçoou alternativas para obter sistemas de simples construção, de fácil operação e de baixo custo. Em suas pesquisas, tem adotado a técnica de filtração lenta por oferecer vantagens para as pequenas comunidades, nas quais o tratamento pode ser feito no domicílio. Além disso, as garrafas plásticas de refrigerantes são facilmente encontradas por se tratar de material descartável. O professor defende também a implementação de programas de incentivo e campanhas de conscientização, nessas regiões.
Sodis A divulgação de pesquisas voltadas para países de terceiro mundo de um centro de pesquisas na Suíça chamou a atenção de Paterniani. Uma das alternativas, reconhecida e incentivada inclusive pela Organização Mundial da Saúde, consiste no uso de radiação solar para desinfecção de água. A técnica é denominada Solar Disinfection ou Sodis. Praticamente desconhecido no Brasil, este tipo de tratamento já foi testado com sucesso em outros países. Conseguiu-se a inativação total de coliformes e de outros microorganismos, além da redução da mortalidade infantil e de ocorrências de doenças diarréicas em crianças.
Pelo método, a combinação do calor e da radiação ultravioleta do sol que incide na água colocada em garrafas plásticas pintadas de preto em uma das extremidades, inativa até 99% de bactérias. O pesquisador destaca, porém, que o sistema deve ser usado em locais onde a incidência de sol seja grande o suficiente para que a água alcance mais de 50o C de temperatura dentro das garrafas por, pelo menos, uma hora.
Depois de vários testes utilizando as garrafas, o pesquisador partiu para a montagem de um protótipo adaptado para um sistema de fluxo contínuo. Para isso, ele utilizou chapas de aço e bordas de acrílicos simulando uma garrafa gigante. A água entra nesse sistema e passa por uma série de canais recebendo a luz solar, proporcionando a desinfecção da água tratada para uma média de 30 pessoas. O protótipo projetado equivale a um filtro grande e teria a capacidade de abastecer em torno de cinco casas. Essa pesquisa conta com o apoio da Fapesp.
Moringa A outra técnica simples, mas também pouco difundida no Brasil o uso de sementes de Moringa oleifera , consiste em misturar as sementes na água a ser tratada. A vantagem está no grande poder de coagulação e formação de flocos de partículas sólidas presentes na água, que podem ser removidas com mais facilidade por sedimentação. O professor Paterniani vem conduzindo outra pesquisa, também com auxílio da Fapesp, na qual, através de ensaios em “jar test” com variações nas dosagens de coagulantes, nas velocidades e nos tempos de agitação, pretende-se obter parâmetros otimizados para a coagulação e floculação. Isso possibilitaria maior aproveitamento das sementes e uma maior eficiência do processo. Para as pesquisas, o professor contou com a doação das sementes pela Embrapa de Sergipe e do Ceará, e de uma ONG de Brasília.