Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 257 - de 28 de junho a 4 de julho de 2004
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Pesquisa desenvolvida na FEA conclui que PTS
fortificada em baixas concentrações é alternativa para tratamentos


Soja enriquecida
com nutrientes abre perspectivas para o combate à anemia

MANUEL ALVES FILHO


Lilia Zago Ferreira Santos, autora da dissertação de mestrado: dados importantes para orientar eventuais programas de fortificação (Foto: Antoninho Perri)A deficiência de ferro no organismo humano, doença conhecida como anemia ferropriva, é a principal causa de mortalidade materna e do baixo peso de recém-nascidos no Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também é apontada como fator desencadeador do atraso no desenvolvimento mental de crianças e da fadiga em adultos. Estudos recentes indicam que o mal atinge cerca de 50% dos brasileiros com até 5 anos de idade, 20% dos adolescentes e 30% das gestantes. Trata-se, portanto, de um grave problema de saúde pública. Aqui, como em outros países, esse tipo de anemia tem sido combatido principalmente por meio da adoção de programas de fortificação de alimentos com ferro, medida preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudo desenvolvido recentemente para a dissertação de mestrado de Lilia Zago Ferreira Santos abre novas perspectivas para essa linha de ação. A pesquisadora concluiu, a partir de ensaios com ratos, que a Proteína Texturizada de Soja (PTS) enriquecida com sultafo ou quelato ferroso constitui um alimento efetivo para a recuperação da anemia.
(Foto: Antoninho Perri)

A pesquisa realizada por Lilia, desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, surgiu da necessidade prática de um grupo da área alimentícia. A empresa estava interessada em conceber um produto à base de soja que fosse fortificado com ferro. A PTS foi escolhida como “veículo” por se tratar de um alimento relativamente barato – o Brasil é o segundo maior mundial do grão - e que pode substituir total ou parcialmente a carne, principal fonte natural de ferro. O desafio era definir que nutrientes poderiam ser associados a ela para promover o efetivo controle da anemia nas cobaias. Assim, a opção recaiu sobre o sulfato e o quelato ferroso. O primeiro, explica a autora da dissertação, é considerado um fortificante universal, de custo reduzido.

O segundo, mais caro, é apontado na literatura como uma substância que pode ser quatro vezes mais absorvida pelo organismo humano, se comparado com o sulfato. Antes de determinar em que quantidade os fortificantes deveriam ser incorporados à PTS e de verificar se a composição de fato poderia combater a anemia, Lilia avaliou a biodisponibilidade do ferro presente na PTS sem enriquecimento. Em outras palavras, ela checou o nível de absorção do nutriente pelo organismo dos roedores. “Ficou comprovado que o ferro presente originalmente na PTS foi suficiente para recuperar a anemia não-severa dos animais”, afirma.

Posteriormente, a pesquisadora, que foi orientada pela professora Débora de Queiroz Tavares, da FEA, analisou a eficácia da fortificação. Assim, ela acrescentou o sulfato ferroso à Proteína Texturizada de Soja em duas concentrações, uma menor e outra maior. O mesmo procedimento foi adotado em relação ao quelato ferroso. Diferentemente do que era apontado na literatura, Lilia não constatou diferenças de biodisponibilidade entre os fortificantes. Entretanto, o estudo apontou que as baixas concentrações apresentaram maior eficiência na recuperação da anemia. “Quando há excesso de oferta de ferro, o organismo estabelece um patamar de absorção para evitar a sobrecarga. Isso acaba interferindo negativamente no aproveitamento do fortificante”, explica.

O dado, segundo ela, é importante para orientar eventuais programas de fortificação, pois pode evitar o uso excessivo desses nutrientes. A principal conclusão da pesquisa foi que a PTS fortificada em baixas concentrações é de fato um alimento efetivo no combate à anemia ferropriva. Lilia destaca que as ações de fortificação de alimentos são bem-vindas, mas devem ser compreendidas como uma alternativa mais preventiva do que curativa. Os resultados do estudo já foram apresentados à indústria, que agora analisa a possibilidade de desenvolver um produto para o mercado. A autora da dissertação lembra que, antes disso, será necessário promover novos estudos e análises, como testes sensoriais para aprovação de aroma e sabor. Atualmente, a especialista está preparando artigos sobre o seu trabalho.

Farinhas – O Brasil, assim como a maioria dos países em desenvolvimento, tem lançado mão dos programas de fortificação para combater a anemia ferropriva. A medida mais recente entrou em vigor no último dia 18 de junho, por meio de uma resolução do Ministério da Saúde. Esta determinou que os fabricantes de farinhas de milho e trigo incluam o ferro em seus produtos. Nas ações desse tipo, a escolha dos “veículos” normalmente recai sobre alimentos básicos e baratos, para que estes possam chegar à mesa da população mais carente, principal vítima da doença. Lilia lembra que o mercado oferece vários produtos fortificados, como biscoitos e achocolatados, mas que são inacessíveis ao bolso de quem mais precisa.

A anemia pode ser entendida como a redução dos valores da hemoglobina, proteína presente nos glóbulos vermelhos. Além de conferir a cor vermelha ao sangue, ela é a responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos. Quando o número de hemoglobinas cai significativamente, fica caracterizada a anemia. Com isso, ocorrem sérios danos ao organismo. A pessoa anêmica pode apresentar dificuldade de aprendizado ou ter a sua capacidade de trabalho afetada, o que traz impactos negativos à economia.

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