A idéia, segundo André, surgiu no projeto de mestrado, em 1997, realizada no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O objetivo era utilizar o poder da web e, de alguma forma, integrar isso com a televisão, criando dessa maneira uma nova proposta de interação. O trabalho foi iniciado com a TV analógica. Porém, naquela época, segundo o pesquisador, já se falava em TV digital. O objetivo, portanto, foi o de estender o trabalho para a tecnologia digital.
O projeto de doutorado, intitulado TV interativa baseada na inclusão de informações hipermídia em vídeos no padrão MPEG, teve início na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, em 2000, sob a orientação do professor Yuzo Iano. O objetivo, à época, era tornar a televisão um browser e, a com base nas informações fornecidas, aprofundar o conhecimento, ou seja, poder navegar na web a partir de um aparelho de TV.
A partir de um software da TV digital, que é um codificador e decodificador, o pesquisador desenvolveu um protótipo incluindo uma estratégia para inserção de informações hipermídia. De acordo com André, isso significa que na hora que o programa está sendo transmitido é possível inserir essas informações. Ele cita como exemplo uma corrida de Fórmula 1. “Posso alimentar uma base de dados com históricos de todos os pilotos, equipes, patrocinadores e, à medida que a prova vai sendo transmitida, o usuário pode, ao clicar em qualquer parte da imagem, obter as informações sobre o objeto escolhido na cena”, explica.
Isso possibilitará ao usuário, quando a transmissão não estiver agradando, poder navegar na internet sem perder a noção do que está sendo transmitido pela TV. André analisa isso como sendo a forma mais simples desse protótipo. “É possível incrementá-lo, por exemplo, criando um chat para conversas on line. Assim, teremos a verdadeira TV interativa”. O chat poderá criar um canal de interação e discussão, capaz de alterar programação à medida que ela está ocorrendo. O diretor do programa pode, de acordo com o conteúdo das conversas, direcionar a programação, inclusive a sua linguagem. O objetivo é fazer com que a televisão seja o mais interativa possível.
Além disso, um dos grandes problemas que Gradvohl enxerga na internet é que as pessoas não sabem navegar e nem para onde navegar. Isso significa que dificilmente elas poderão detectar a confiabilidade de um determinado conteúdo. Em um programa de rede nacional, por exemplo, ao qual milhares de pessoas têm acesso, se o conteúdo não for confiável a emissora perderá credibilidade. O pesquisador vê nessa tecnologia um grande potencial para a questão da educação a distância.
A grande vantagem, segundo André, é que a televisão é um aparelho doméstico presente em quase todos os lares, além do que o protótipo tem um custo muito baixo. Segundo o pesquisador, qualquer aparelho pode receber uma pequena caixa, que nada mais é do que uma CPU com pouquíssimos recursos e um HD de pequenas proporções capaz de guardar apenas as informações instantâneas. Desde o início, o objetivo principal sempre foi conceber um protótipo simples, visando atingir a maior parte da população de forma rápida, sem perder a compatibilidade com o que existe, que são os padrões de codificação e decodificação.
Porém, nada impede que o aparelho seja incrementado. Uma das vertentes do projeto é fazer essa convergência de TV e internet em um dispositivo único, para que o usuário não necessite comprar outros equipamentos. “O máximo seria acoplar um mouse e um teclado. Porém, de maneira simples, para acessar a web apenas para colher informações, uma solução prática seria utilizar o próprio controle remoto”, explica André.
Até o final desse ano o Brasil deverá definir o padrão de televisão digital que deverá adotar. Após essa definição, o software sofrerá uma pequena modificação para ser compatível com o modelo escolhido. O protótipo foi desenvolvido no padrão mpeg2, que é a base para vários outros padrões. “O nosso pensamento foi de desenvolver um produto simples, de baixo custo e de padrão aberto para que qualquer pessoa tivesse acesso, podendo inclusive propor mudanças”, finaliza o pesquisador.