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Aluna do IFGW consegue acoplar várias
ferramentas em microscópio óptico convencional

Trabalho na área de
biofotônica rende prêmio internacional a pós-graduanda



CARMO GALLO NETTO



O professor Carlos Lenz Cesar, do Laboratório de Aplicações de Lasers, e Adriana Fontes, a aluna premiada: sistema de pinças ópticas em microscópio (Foto: Antoninho Perri)O evento BIOS (Biomedical Optics) é o maior congresso internacional na área de óptica biomédica e faz parte do congresso Photonics West em que se apresentam os mais modernos e recentes trabalhos na área de física, biofísica e biomedicina. Participam do evento os mais renomados conferencistas internacionais em laser e eletro-óptica. Realizado há mais de dez anos, a última versão aconteceu no início deste ano em San Jose, na Califórnia, e teve cerca de 15 mil participantes.

Congresso reuniu 15 mil participantes

O grupo do professor Carlos Lenz Cesar, do Laboratório de Aplicações de Lasers, do Departamento de Eletrônica Quântica do Instituto de Física da Unicamp, apresentou nesse congresso cinco trabalhos, três expostos oralmente e dois em forma de pôster. O trabalho desenvolvido por Adriana Fontes, “Micro-espectroscopia não-linear em um sistema de pinças ópticas: aplicação para células marcadas com quantum dots” (Non-linear micro-spectroscopy in an optical teweezers system: application to cells marked with quantum dots), ganhou o prêmio “2005 Best Poster Award” na área de biofotônica.

O diferencial do trabalho de Adriana consistiu em juntar em um microscópio óptico convencional várias ferramentas que existiam isoladamente. Esse pequeno mas significativo detalhe deve oferecer condições para que os biólogos comecem a encontrar respostas para uma série de indagações. A pesquisadora conseguiu colocar em um microscópio convencional o sistema de pinças ópticas, que permite aprisionar micro-organismos vivos utilizando laser, o sistema de espectroscopia linear, o sistema de espectroscopia não linear e a utilização dos marcadores de quantum dots em substituição aos marcadores orgânicos convencionais, o que permite acompanhar as transformações químicas que estão ocorrendo em um organismo vivo. Não existia o sistema de pinça óptica acoplado à espectroscopia: ela juntou tudo.

Com isso, o sistema permite manusear uma partícula sem manipulação mecânica e acompanhar as transformações como se fosse um filme e não mais através de instantâneos, como no processo convencional.

Pinça óptica captura organismos vivos

Em meados da década de 80 descobriu-se a possibilidade de capturar e manipular partículas e microorganismos vivos com dimensões de alguns micrômetros no foco de um laser em um microscópio óptico, efeito denominado pinça óptica. Uma pinça óptica de qualidade, por exemplo, consegue capturar e manter preso um espermatozóide vivo tentando escapar.

Como a luz atravessa as paredes das células, tornou-se possível manipular e medir propriedades mecânicas de membranas e organelas intracelulares sem destruir as paredes celulares. Tornou-se também possível a captura de parasitas vivos e estudar forças por eles geradas e a forma como se orientam quando em deslocamento à procura de substâncias de que se alimentam ou de que se afastam por lhes serem nocivas. Em muitos casos, esses parasitas aderem às paredes de determinadas células e as infectam. Evitar a adesão e a infecção de células pelos parasitas tem sido uma das estratégias utilizadas para neutralizar-lhes a ação. Para isso, têm sido realizados, com esses organismos vivos capturados por pinças ópticas, estudos que envolvem observações e medidas em tempo real.

Embora a pinça óptica mantenha um microorganismo vivo na mesma posição, ela por si só não permite acompanhar o desenvolvimento de reações bioquímicas. Para tanto deve-se usar a espectroscopia. “Técnicas de espectroscopias ópticas com resolução sub-micrométrica são especificamente adequadas para esse tipo de necessidade”, diz o professor Lenz, que complementa: “Então decidimos equipar o sistema de pinças ópticas com sistema de micro-espectroscopia, o que nos permite manipular os micro-organismos vivos e observar as modificações químicas que neles se processam. Para tanto, utilizamos várias técnicas espectroscópicas. O trabalho premiado envolveu a utilização de dessas várias técnicas em um único sistema de microscopia”.

Nas técnicas de espectroscopia de fluorescência utilizadas, introduziu-se também uma inovação. Usualmente essa técnica envolve a marcação de determinadas proteínas ou grupos orgânicos com marcadores fluorescente bem conhecidos e a observação da luz emitida por eles. No sistema montado, os marcadores convencionais foram substituídos por quantum dots, ou pontos quânticos, que são nanopartículas de semicondutores, cujos níveis de energia associados, e portanto cores, dependem fundamentalmente do tamanho e do tipo de material utilizado.

A maior vantagem dos quantum dots em relação aos marcadores convencionais é que sua fluorescência mantém-se por longo tempo, contrastando com os poucos minutos dos corantes orgânicos. Além disso, apresentam citotoxidade muito menor e podem ser excitados em uma vasta gama de comprimentos de onda, gerando cores diferentes e que facilitam o acompanhamento dos processos. O professor Lenz esclarece que “no trabalho premiado apresentamos resultados com células marcadas com quantum dots produzidos e funcionalizados no Brasil”. A funcionalidade consiste em agregar-lhes determinadas moléculas que os tornam seletivos em relação a algumas substâncias ou grupos funcionais que serão estudados.

Outra inovação introduzida na excitação multifóton do sistema, explica Lenz, foi a utilização de lasers com pulsos ultracurtos que, além de resolver uma série de problemas observados na microscopia, permite a reconstrução da imagem em três dimensões e a obtenção de detalhes microscópicos. Atualmente o sistema de microscopia confocal multifóton é oferecido por uma única empresa. “Nosso sistema confocal multifóton, montado pelo próprio grupo, embora não ofereça a facilidade de uso e limites de resolução de um equipamento comercial, tem a grande vantagem de integração com a pinça óptica, que permite estudar fenômenos bioquímicos dinamicamente e controlar o ambiente em torno de microorganismos vivos”.

O professor Lenz conclui: “A integração de todas essa técnica com a pinça óptica permite a manipulação e observação simultânea de processos bioquímicos intracelulares. Disparada uma reação podemos acompanhar sua evolução através das espectroscopias. Além disso, pode-se utilizar métodos de medidas de grandeza mecânicas como forças, elasticidades, viscosidades, através das pinças ópticas”.




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