Leia nesta edição
Capa
Opinião
Luta pela terra
Software
Nascimento da imprensa
Sons da natureza
Plantas ornamentais
Grande Desafio
Moléculas
Painel da semana
Livro da semana
Teses
Unicamp na mídia
Portal da Unicamp
Empresa jovem
Jongo
 


8


Engenheiro usa plantas ornamentais
para tratamento de esgoto doméstico

RAQUEL DO CARMO SANTOS

O engenheiro civil Luciano Zanella: baixo custo de operação (Foto: Antoninho Perri)Um sistema natural para tratamento complementar de esgoto doméstico que utiliza plantas ornamentais, sobre leito de bambu e brita, foi desenvolvido na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) e testado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) pelo engenheiro civil Luciano Zanella. O sistema de pós-tratamento foi responsável por 30% da eficiência do sistema de tratamento na remoção de matéria orgânica e consiste em uma alternativa prática do ponto de vista operacional. Não há necessidade de uso de produtos químicos ou eletricidade e, por isso, o sistema torna-se ideal para pequenas propriedades, como sítios e fazendas.

Sistema dispensa uso de produtos químicos

A opção oferece ainda baixo custo de operação e também poderia ser aproveitada por comunidades rurais não-servidas por sistemas convencionais de coleta e tratamento, ou que possuam sistema de saneamento que trate o esgoto de maneira secundária. A utilização de bambu como meio-suporte pode facilitar ainda mais a aplicação em áreas rurais, visto que o bambu é facilmente encontrado em qualquer parte do país.

A proposta, denominada sistema wetland-construído, foi apresentada por Zanella para obtenção do título de doutor na FEC, sob orientação do professor Edson Aparecido Abdul Nour. No Brasil, explica o engenheiro, não havia relato da introdução de plantas ornamentais nesse sistema, embora a utilização desse tipo de tratamento seja crescente. Em outros países, essa configuração de tratamento é largamente usada, sendo encontrada até mesmo para o tratamento de esgoto industrial.

O processo inicial do tratamento testado pelo engenheiro civil Luciano Zanella (Foto: Antoninho Perri)“A idéia surgiu a partir de um problema no Vale do Ribeira em que se exigia o tratamento do esgoto em fazenda de plantação de bananas. Em uma investigação dos sistemas existentes, resolvi testar algo já conhecido, adaptando para o tratamento com plantas ornamentais e utilização de bambu”, explica o autor da pesquisa.

O engenheiro montou seis piscinas de fibra de dois mil litros cada uma, de forma que o esgoto já tratado da Faculdade passasse pelas piscinas. Em três piscinas ele acrescentou brita ou pedras de construção até a borda e nas outras três o material usado foram anéis de bambu.

Na seqüencia, plantou duas espécies ornamentais, o copo de leite e o papiro, uma vez que é sabido que as plantas absorvem os nutrientes do esgoto, colaborando com o tratamento. Em uma segunda etapa, mais oito espécies foram plantadas. “O copo-de-leite sozinho não apresentou uma boa adaptação ao sistema. No entanto, junto com outras espécies, como o biri e o mini-papiro, ele teve um melhor desenvolvimento”, destaca.

Para selecionar as plantas que poderiam oferecer um bom desempenho no sistema, Zanella fez contato com biólogos e pesquisou junto a paisagistas e produtores de mudas as melhores opções para os ambientes próximos a lagos e rios. As análises contemplaram as características de cor e turbidez, a remoção de sólidos, de matéria orgânica, de nutrientes e de microorganismos. Na maior parte das variáveis, o grau de eficiência foi significativo.

O processo final do tratamento testado pelo engenheiro civil Luciano Zanella (Foto: Antoninho Perri)Segundo Zanella, este tipo de sistema é recomendável como um tratamento complementar ao esgoto doméstico já tratado numa primeira etapa em que a remoção dos resíduos mais pesados foi feita. Na proposta do engenheiro, o resultado do tratamento complementar do esgoto poderia ser lançado em rios e lagos.

“O sistema melhora muito a aparência, reduziu quase que completamente os sólidos e, razoavelmente, a matéria orgânica. Porém, não posso afirmar se poderia ser utilizado para irrigação, por exemplo, uma vez que não fiz testes para esta finalidade”, explica. Outra possibilidade, exemplifica, seria o reúso em vasos sanitários, tema de bastante importância no meio científico e tecnológico nos últimos anos, mas para o qual o esgoto ainda necessitaria de uma desinfecção.

Pedras e bambus – A versatilidade na utilização de pedras e bambus para o pós-tratamento de esgoto doméstico não é novidade. Tanto o bambu como as pedras, explica Zanella, atuam como filtro e meio-suporte para microorganismos que proporcionam o tratamento. As análises, no entanto, apontaram o bambu como alternativa viável, embora com eficiência menor que quando utilizadas as pedras.

Testes estatísticos indicaram que, para as condições impostas ao sistema testado, o tipo de material suporte tem mais significância que a espécie vegetal na obtenção de resultados satisfatórios. Mas isso não descarta a utilização de plantas ornamentais. Neste sentido, o engenheiro considerou que a opção pelas plantas ornamentais tem um efeito paisagístico importante, que diminuiria os índices de rejeição do sistema pela população.

A introdução de espécies de plantas comercias proporcionaria, inclusive, uma possibilidade de geração de renda para os pequenos produtores. A idéia inicial do trabalho era utilizar plantas de corte para agregar valor ao serem vendidas, fazendo um tipo de “cultura hidropônicas adaptada”.

Pelos resultados, o sistema de pós-tratamento foi responsável, em média, por cerca de 30% da remoção tanto de sólidos em suspensão, quanto de matéria orgânica, em relação ao total obtido na estação de tratamento. O wetland-construído de leito de brita e vegetado com papiro alcançou valores médios de remoção de fósforo total de 27,7%.

Vantagens do sistema

Esgoto – Possibilidade de pós-tratamento de esgotos de origem doméstica com adequação de parâmetros às exigências legais.
Estética – Melhoria significativa no fator estético de estações com a utilização de plantas ornamentais para o tratamento de esgotos, deixando de lado a sina de local inóspito, podendo, por exemplo, com os devidos cuidados, ser transformadas em parques para visitação e passeio público, facilitando sua aceitação por parte da população.
Água de irrigação – Economia de água de irrigação das culturas vegetais utilizadas no sistema aliadas ao tratamento de efluentes.
Fertilizantes – O esgoto pode ser uma boa fonte de nutrientes, entrando no lugar de fertilizantes industrializados para a vegetação presente no sistema, podendo propiciar bons resultados de crescimento vegetal a baixos custos.
Fonte de renda – No caso de uso de plantas ornamentais e valor comercial, existe a possibilidade de venda das flores de corte cultivadas ou de artesanato produzido com fibras ou folhagens, gerando divisas. O cultivo de flores com a utilização de esgoto como um dos insumos da cultura poderá, por exemplo, tornar-se uma atividade remuneratória alternativa em pequenas comunidades, servindo como uma pequena fonte auxiliar de renda.


Fonte: Tese de doutorado “Plantas ornamentais no pós-tratamento de efluentes sanitários: Wetlands-construídos utilizando brita e bambu como suporte”, defendida em abril de 2008.








SALA DE IMPRENSA - © 1994-2008 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP