Fundador do Cotuca lança livro aos 90 anos
6/6/2008 Uma degeneração ocular poderia inibir a realização de um dos mais perfeitos sonhos do doutor em educação Osmar Salles de Figueiredo, primeiro diretor do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), da Unicamp: a publicação de mais um livro. Mas aos 90 anos, completados em 30 de maio deste ano, o “menino de ouro” de Casa Branca, interior do Estado de São Paulo, e fundador do Colégio, não se rendeu às circunstâncias e teve outra brilhante idéia: gravou em áudio o texto de Sofia e Moria e acabou desenvolvendo uma técnica de gravação de voz sintetizada para ser usada em qualquer mídia. Além da versão impressa, Sofia e Moria pode ser vista em libras e ouvida na televisão, no computador, no MP4 e no iPod. O pedido de patente já foi feito junto ao Inpi.
Sofia (sabedoria) e Moria (loucura) são irmãs gêmeas, brasileiras, que vivem uma história de amor, visitando Jerusalém, Cairo, Istambul, Alexandria, Ilhas Gregas, inclusive a Ilha de Delos, local do antigo oráculo de Delfos, onde era profetizado o futuro e a volta ao Brasil, pela imaginação da avó Angélica. “É uma história de amor em dobro, dedicada a gêmeos do mundo todo”, alegra-se o autor.
Telas da autoria de Figueiredo, que decoram as paredes da sala e do corredor de seu apartamento, levam ao escritório no qual produziu Sofia e Moria, inspirado no Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam, e O Alienista, de Machado de Assis. As limitações oculares em nenhum momento o levam a pedir ajuda. Tateia teclado e controle remoto com a mesma facilidade de quem possui acuidade visual. Esta é uma característica forte perceptível em Salles: ser sempre o “menino de ouro” mencionado por sua alfabetizadora, a professora Isolina de Faria e Souza. No escritório, mostra os equipamentos nos quais desenvolveu as ferramentas para Sofia e Moria. “A técnica é acessível a deficientes visuais, auditivos, físicos e até acamados, que podem fazer a leitura pela televisão com letras em tamanho grande”, explica o autor.
Entre uma ou outra demonstração de aspectos da obra, conta sua história de amor eterno com a Unicamp, desde o momento em que foi convidado para ser assessor do fundador da instituição, Zeferino Vaz, até a atuação como coordenador do Departamento de Problemas Brasileiros da Universidade e o doutorado em educação. “Estive no lançamento da pedra fundamental. Aquilo era um extenso canavial”, relembra, já com os olhos marejados, o jornalista, advogado, educador, artista plástico e escritor.
Osmar Salles de Figueiredo formou-se normalista em 1937, professor de educação física e esporte pela USP em 1938, químico industrial pela Universidade Mackenzie São Paulo, em 1941, jornalista em 1948, cientista jurídico pela PUC-Campinas em 1959 e doutor em educação pela Unicamp em 1984. (Maria Alice da Cruz Paula)
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