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Farmacêutica analisa nuances do perfume

Desempenho técnico do produto é avaliado
em método desenvolvido por pesquisadora

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

Nunca o mercado consumidor de cosméticos e perfumes foi tão dinâmico e exigente - e, por vezes, efêmero. Todos os dias surgem novos produtos. Muitos deles, no entanto, saem de circulação com a mesma rapidez com que entram. Mas há produtos, como observa a farmacêutica Elaine Cristine Guerra, que resistem ao tempo graças à credibilidade que conseguem junto aos consumidores.

Elaine passou três anos estudando formas de avaliação de perfumes para a Natura, empresa em que trabalha desde 1996. Seu propósito foi desenvolver uma metodologia específica para a avaliação do que a farmacêutica denomina de "desempenho técnico do perfume", que nada mais é do que a análise do odor da fragrância, da intensidade e da sua permanência na pele.

A metodologia pode ser aplicada durante o processo de desenvolvimento do produto, e revela se determinado perfume está adequado ou não aos padrões que o fabricante espera dele, com relação à sua intensidade e ao tempo de duração. Essa apreciação é feita, basicamente, por meio de análise sensorial, em que um grupo de pessoas treinadas avalia o olfato do perfume aplicado na pele a cada 90 minutos, por um período de seis horas.

"Por meio dessa análise sensorial, é possível qualificar as percepções humanas relacionadas ao produto, para se descobrir quais os atributos que devem ou não estar presentes em sua fórmula e qual a intensidade a ser empregada", diz a pesquisadora. Trata-se de um procedimento que auxilia a equipe de profissionais que atuam na área da pesquisa de desenvolvimento das empresas a gerar produtos de alta qualidade e com grandes chances de aceitação no mercado consumidor. Se a empresa espera produzir um perfume com grande poder de permanência da fragrância na pele por algumas horas, o método desenvolvido por Elaine revela essa eficiência.

Elaine é autora da dissertação de mestrado profissional Proposta e análise de uma metodologia para avaliação do desempenho técnico de perfumes, apresentada recentemente junto à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, sob a orientação da professora Maria Aparecida Pereira da Silva, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA).

Corrigir falhas - Segundo a farmacêutica, no passado, desenvolviam-se produtos que, de imediato, eram colocados no mercado para uma pesquisa junto aos consumidores. Se nesses testes, normalmente dispendiosos, o produto não era bem avaliado pelo consumidor, "voltava-se à estaca zero". Gastava-se muito tempo, dinheiro e o projeto por vezes tinha seu lançamento adiado.

"Fazendo uma série de avaliações durante o processo de desenvolvimento e, previamente, ao teste de mercado, conseguimos obter maiores chances de bons resultados e ser mais eficientes nos lançamentos de novos produtos", observa Elaine. A introdução dessa etapa no processo de desenvolvimento de produtos obriga, forçosamente, o fabricante a reestruturar todo o trabalho de elaboração do produto.

O tempo de duração de um projeto de elaboração de um perfume é variável, segundo a farmacêutica. "Alguns duram quatro meses e há outros que levam até dois anos para que o perfume possa ser colocado à venda". Quando não se alcançam resultados satisfatórios, há que se retrabalhar todo o processo: rever onde existem oportunidades de melhorias e corrigir eventuais falhas para oferecer um produto que tenha boa performance e, por isso mesmo, garantia de mercado.

Grupos – A farmacêutica explica que em perfumaria trabalha-se em média com duas mil a três mil matérias-primas diferentes, classificadas como naturais, que vêm da natureza (os vegetais e animais) ou sintéticas, as produzidas artificialmente. O universo das matérias-primas pode ser dividido em 13 grupos olfativos: cítrico, herbal, aldeídico, verde, frutal, floral, especiaria, madeira, couro, animais, musc, âmbar e vanila. Um perfume pode ser definido como uma solução alcoólica contendo de 15% a 30% de óleos essenciais ou fragrância, que é a composição de diversas matérias-primas elaboradas pelo perfumista.

O teste sensorial é feito por um grupo de quinze colaboradores da empresa. Atualmente esse grupo é composto por deficientes visuais, prestadores de serviço. São eles que avaliam e classificam a intensidade e o tempo de duração do perfume na pele. A estrutura de um perfume é composta de três partes: "as notas de cabeça", conforme denomina a farmacêutica, que se caracterizam pelos ingredientes mais leves e altamente voláteis, que são responsáveis pela primeira impressão de odor que se tem da fragrância e duram até quinze minutos após a aplicação do perfume.

As notas de corpo são o "coração" da fragrância e determinam seu caráter. São formadas por ingredientes de volatilidade intermediária e têm duração de algumas horas e são responsáveis pelo sucesso do perfume, "pois são as notas mais sentidas pelas mulheres que usam a fragrância, e por quem se aproxima delas", diz Elaine. Finalmente, tem-se a nota de fundo, que é a porção residual do perfume, constituída de ingredientes de baixa volatilidade, considerados "fixadores".

Para que um fabricante tenha certa garantia de sucesso ao lançar um produto de alta qualidade e com grandes chances de aceitação pelo consumidor, torna-se fundamental a análise e o monitoramento das seguintes características sensoriais do perfume: agradabilidade do odor da fragrância. A intensidade se refere ao grau de percepção do odor, se ele é fraco, moderado ou forte. É observada ainda a substantividade do perfume, ou seja, o tempo que a fragrância permanece na pele.

O grupo de deficientes visuais que presta serviços para a Natura está com Elaine há cerca de dois anos. Elaine explica que eles possuem um talento sensorial especial para as atividades a que foram escolhidos. "É claro que já desfrutavam de tais habilidades, mas aqui na empresa é que receberam treinamentos específicos, principalmente no que se refere ao conhecimento em perfumaria".

Olfato mais acurado

Sandra Taioli Cassares é uma das participantes do painel olfativo. Ela diz que essa habilidade de poder identificar o cheiro do perfume, em suas mais diversas fases, é uma questão de educação. "Com o tempo, você aprimora o olfato à medida em que vai precisando usufruí-lo. E aqui é muito bom trabalhar porque todos os cheiros são muito bons de sentir. E mais: não há qualquer dificuldade de desempenhar a nossa tarefa; pelo contrário, até que é gostoso", diz.,

"A falta de visão deixa o indivíduo com uma percepção mais acurada em todos os sentidos", revela Eduardo Soares da Silva Costa. "É claro que os testes que fizemos aqui na empresa serviram para que pudéssemos aprimorar essa habilidade, aumentando a percepção olfativa", diz.

Paulo Aparecido da Silva explica que "para uma pessoa que enxerga normalmente, muita coisa que parece não ter importância, para nós adquire um valor inestimável, quando percebemos que o nosso olfato é significativamente mais acurado" .

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