Levantamento inédito no País, feito com
sete mil crianças e jovens, vai servir de padrão de referência
Estudo vincula estatura
e maturidade sexual às condições socioeconômicas
Estudo
inédito coordenado pelo pediatra Antonio de
Azevedo Barros Filho, professor da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Unicamp, pretende conferir
a evolução da estatura e a maturidade
sexual de crianças e jovens entre 7 e 18 anos
de Campinas, levando em consideração
o aspecto socioeconômico. O trabalho, que está
em fase final de
coleta de dados, representa um avanço em relação
às informações disponíveis
no Brasil, que se restringem apenas ao peso e altura
dos jovens. Uma constatação já
feita pela equipe envolvida na pesquisa é que
a menarca (primeira menstruação) das
meninas que pertencem à classe social mais
elevada ocorre antes do que a das garotas de nível
socioeconômico mediano - 11, 4 anos contra 12,
3 anos, em média.
Composição
corporal dos escolares é analisada
Os fatores que concorrem para acelerar a maturidade sexual de crianças "ricas", conforme o coordenador do estudo, estão relacionados ao bom estado nutricional, às condições sanitárias adequadas e à ausência de doenças que comprometem o desenvolvimento. "Esse fenômeno, porém, não é uma exclusividade brasileira. Ele é verificado em várias partes do mundo", esclarece o pediatra. De acordo com Barros Filho, esse aspecto da pesquisa faz parte de uma tese de doutorado em fase de conclusão.
Nela, o autor contesta uma teoria consagrada, segundo a qual a primeira menstruação é determinada pelo nível de gordura do corpo. "Esse trabalho, ao contrário, relaciona a menarca à massa magra, composta pelos músculos, vísceras e esqueleto. Trata-se de uma tese que deve gerar alguma polêmica, uma vez que já se sabe que mulheres muito magras não têm menstruação. O que se tenta demonstrar é que a gordura é importante, mas não é fundamental para a ocorrência do fenômeno", afirma o pediatra. Segundo o professor da FCM, a pesquisa está sendo realizada junto a estudantes de escolas públicas e particulares de Campinas.
O trabalho envolverá cerca de 7 mil jovens. Aproximadamente 5 mil deles já tiveram a altura e o peso conferidos. Além disso, acrescenta Barros Filho, os especialistas também estão medindo a dobra da pele e a área muscular dos braços e das costas para checar o nível de gordura corporal, informações ainda indisponíveis no país. "Embora a pesquisa não seja uma representação de todo o Brasil, ela é importante porque pode ajudar a ajustar os dados internacionais que são utilizados para aferir o crescimento e o desenvolvimento da nossa população", explica o pediatra.
O principal padrão de referência aplicado no País foi concebido nos Estados Unidos pelo National Center for Health Statistics (NCHS). Acontece, porém, que há diferenças entre as populações dos dois países, o que torna provável a necessidade de sua adequação às características brasileiras. "Nossa expectativa é que, no futuro, essa massa de dados sirva de ferramenta para auxiliar no planejamento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento dos nossos jovens", afirma Barros Filho. Intitulada "Composição Corporal de escolares: dimorfismo sexual e diferenciação social", a pesquisa coordenada pelo professor da FCM conta com financiamento da Fapesp.
Corpo
- Ainda como parte da linha de pesquisa que investiga
os fatores ligados ao crescimento e desenvolvimento
dos jovens campineiros, a equipe coordenada por Barros
Filho está analisando a composição
corporal dos escolares. Os especialistas "dividem"
o corpo humano em dois compartimentos: massa gorda
e massa magra. Trata-se, na definição
do docente, de um trabalho simples de campo, mas que
poderá dar respostas importantes a questões
ainda desconhecidas. "Queremos saber, por exemplo,
se as crianças obesas ricas apresentam semelhanças
com as obesas pobres", explica.
Outro aspecto que os cientistas querem entender é que influência essa composição corporal tem no dimorfismo sexual da população analisada. Sabe-se que a mulher tem mais massa gorda do que o homem. Entretanto, entre indivíduos pobres as diferenças diminuem, uma vez que, em virtude da carência nutricional, tanto o homem quanto a mulher apresentam características corporais semelhantes. "A redução da massa gorda aproxima um do outro. Queremos verificar como isso anda", afirma.