Produções do Departamento de
Multimeios recebem prêmios e são exibidos na televisão aberta
Para ver, ouvir e interagir
LUIZ SUGIMOTO
Por
volta de 1850, 80% da população de Campinas
era formada por negros. Para mantê-los sob controle,
uma das medidas adotadas pelas autoridades brancas
foi o corte do tendão dos escravos, porque
a mutilação não os incapacitava
para o trabalho e dificultava as fugas, além
de inibir a temida arte da capoeira. Assim começam
os depoimentos em "Benedito e Outros Casos",
documentário narrando a trajetória da
raça negra na cidade. No outro lado do túnel
do tempo, "Dédalo no Labirinto" mostra
a semelhança das cidades de Fritz Lang em "Metrópolis"
e de Ridley Scott em "Blade Runner". Mas
o urbanismo é apenas um dos temas de filmes
de ficção científica comentados
por pesquisadores da Unicamp e USP, cada um em sua
área, como
biotecnologia, informática, comunicação,
máquinas e equipamentos.
Desde o inicio de suas atividades em fins da década de 1980, quando apresentava alguns vídeos e os chamados "programas audiovisuais", o Departamento de Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp já acumulou um volume de projetos de reconhecida importância. São filmes e vídeos premiados e exibidos por todo o Brasil, projetos de navegação na internet por meio de sons, programas de televisão, novelas radiofônicas e até experimentos para avaliar a reação de galinhas quando ouvem o som de um digeridoo (instrumento de sopro dos aborígines australianos).
Para se limitar a produções que dirigiu ou coordenou, à frente de equipes trazendo em média oito alunos de pós-graduação, o professor Paulo Bastos Martins destaca, além de "Benedito e Outros Casos", que foi exibido em rede nacional pela TV Cultura, "O Catedrático do Samba", vídeo sobre o sambista Germano Matias e que arrematou os prêmios de Expressão Cultural e de Montagem no 6º Festival do Filme Universitário, promovido pela Universidade Federal Fluminense e o Centro Cultural do Banco do Brasil. Em 2002, "Cheia de Vida", vídeo adaptando um conto de Clarice Lispector, sob coordenação do professor Fernando Passos, ganhou o prêmio de Contribuição Artística.
O quadro publicado nesta página indica outros vídeos e filmes de boa repercussão. "Nosso estúdio não recebe apenas alunos de multimeios, mas também estagiários de outras unidades da Unicamp, da PUC de Campinas, Unip e de outras universidades da região. É uma produção bastante grande" diz Paulo Martins, ressaltando a participação importante de três funcionários do Estúdio de Multimeios: Celso Palermo, Roberto Roldan e Suzeleim Rodrigues.
Tal produção inclui o programa "Memória Expressa", levado ao ar há três anos pelo Canal Universitário, com 70% da equipe formada por estudantes.
Quanto a novelas radiofônicas, foram elaboradas sete, com transmissão pela Rádio Muda, sediada no campus. "Nessa área vivemos uma experiência interessante com a Rádio Ouro Verde, dos DICs (Distritos Industriais de Campinas). A emissora entrou no ar com um programa sobre viola caipira, produzido pelos alunos, no qual o mestre de cerimônias foi o músico Ivan Vilela. Descobrimos uma quantidade enorme de duplas de viola naquela região da cidade", conta Martins.
Sonoros - Em São João da Boa Vista, transeuntes convidados a entrar no Cine Ouro Branco ficaram por meia hora na sala totalmente escura, mas sem que nenhuma imagem passasse na tela. Eles apenas ouviram histórias e sons cotidianos como o de uma mulher no chuveiro, e outros episódios intercalados com hinos de clubes de futebol. "Com uma câmera de infravermelho, percebemos que as pessoas ficaram o tempo todo olhando para a tela vazia, em plena escuridão. O objetivo da experiência era mostrar que o som possui o mesmo poder da imagem", ilustra o professor.
Outra mostra experimental de som aconteceu na Semana de Comunicação da Unisal, em Americana. Em um dos eventos, os alunos e visitantes tocaram instrumentos musicais para galinhas, patos, marrecos, porcos, vacas e cavalos, que reagiram de maneiras diversas. "As vacas começaram a se afastar, os cavalos iam e vinham, as galinhas entraram em pânico e pularam o muro. Já o acordeão atraía de volta os cavalos, enquanto o digeridoo acalmava até as galinhas", lembra Paulo Martins.