| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Enquete | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 213 - 19 a 25 de maio de 2003
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Comentário

Revoluções

EUSTÁQUIO GOMES

Os dois últimos séculos deram ao mundo três revoluções industriais que, por representarem necessariamente viradas tecnológicas, acarretaram, sem exceção, alterações dramáticas nos modos de produção.

Na raiz da primeira está a passagem da produção artesanal para a fabril. Surgira a máquina e, com ela, a produção em série. Tendo Londres como epicentro, essa transformação levou um século inteiro para, em círculos concêntricos, dar a volta ao mundo e plantar-se até na mais extrema periferia da civilização. No trajeto, gerou riquezas e também a pobreza dos artesãos que, inadaptados, eram progressivamente alijados do sistema.

Nem bem o novo ciclo havia se completado, veio a segunda onda na virada do século 19 para o 20, na esteira da indústria metalúrgica, siderúrgica, do transporte, dos eletrodomésticos e até do cinema - tudo isso potencializado pelo desenvolvimento das usinas de eletricidade, do telefone e da catadupa de descobertas tecnológicas do fim do oitocentos.

Essa segunda revolução foi muito mais benigna que a primeira, pois tinha grande necessidade de mão-de-obra e até criou as políticas de proteção social. Gerou imensa riqueza e avançou inabalável ao longo de três quartos de século, atravessando vastas crises mundiais (a I Guerra Mundial, o crack de 1929, a II Guerra, a Guerra Fria) e transformando as cidades médias em metrópoles e as metrópoles em megalópoles.

Começou, porém, a dar sinais de esgotamento em meados da década de 70 (vide Hobsbawn) com o aparecimento dos satélites e a aceleração da informação (a qual passou a afetar os mercados), apresentou rachaduras sérias nos anos 80 com a automatização, o computador pessoal e o fax para, no início da década de 90, receber um golpe letal com o desenvolvimento e rápida difusão da rede mundial de computadores. Era a nova revolução que entrava com seus clarins, a chamada terceira onda (vide Alvin Toffler) ou, no jargão mais recente, a emergência da sociedade do conhecimento.

Destinada a gerar tanta riqueza quanto a precedente, esta nova mudança (em pleno curso) guarda ao menos uma semelhança com a primeira: derruba paradigmas, envelhece estruturas, provoca deslocamentos de ocupações e, até que as coisas se reacomodem, excluirá tanto quanto inclui.

Este é o sentido da entrevista que o professor Hélio Waldman, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, concede ao editor Álvaro Kassab, nesta edição do Jornal da Unicamp. Com argúcia, o professor Waldman penetra diretamente no cenário contemporâneo, que tanto tem de fascinante quanto de mobilizador, e em cujo epicentro nos encontramos.


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