Os trabalhos identificados por Regina relatam uma abordagem da sexualidade, por parte dos educadores, ainda em nível do senso comum atrelado ao sexo orgânico, perpetuando valores, conceitos e preconceitos. As produções que investigaram as posturas e as práticas pedagógicas, segundo a pesquisadora, afirmam que, ao abordar o assunto, professores/educadores tomam por base seus próprios valores, com condutas discriminatórias e posturas pouco reflexivas. “Foram verificadas atitudes retrógradas, controladoras e repressivas em relação à sexualidade. Cabe ressaltar que na minha pesquisa incluo, como educadores, profissionais da área de saúde que lidam com educação sexual no espaço escolar, ou na educação superior ou no ensino médio preparados para esta abordagem.”
A omissão também não é o melhor caminho, na opinião da pesquisadora. “Mesmo quando os professores se omitem, negando-se a abordar a educação sexual na escola, o fazem pelo não-dito.” Ela observou que quando as informações chegam aos alunos, a educação sexual é passada, geralmente, por meio de conteúdos ligados ao corpo humano, em que apenas os aspectos biológicos são enfocados. Ficam de fora, afirma, as dimensões ligadas aos aspectos socioculturais e políticos. Esta forma de abordagem leva à reprodução de conceitos e valores já estabelecidos pela sociedade e assumidos pelo professor como verdades absolutas. Tratar a educação sexual desta maneira, acredita, ainda que não implique grandes repressões, não contribuirá para fazer dos alunos adultos mais conscientes e felizes.
A orientação baseada simplesmente em fundamentos biológicos também não atende a necessidade e a curiosidade dos alunos e se atêm apenas ao aspecto informativo. Especialista em saúde pública, a pesquisadora considera esta visão reducionista e simplificadora sobre a sexualidade. “Além disso, está muito associada ao enfoque higienista que reforça a prevenção a doenças como DST/Aids e gravidez na adolescência, muitas vezes por meio de abordagens que geram medo e levam ao descrédito dos adolescentes, como se a educação sexual se referisse apenas a isto”, argumenta.
Regina enfatiza que os alunos têm direito de conhecer tudo o que está relacionado à sexualidade humana, inclusive a questão de gênero, o direito ao prazer, as formas de discriminação impostas pelo sexo, o planejamento familiar. “São questões como estas que repercutem diretamente no direito à cidadania.”
Ainda é preciso sensibilizar alguns educadores para a abordagem da educação sexual, mas, pelo que a autora da dissertação pôde observar nos relatos das produções, vários professores se encontram dispostos a ultrapassar seus limites, suas dificuldades e falta de preparo. Regina acredita que a colaboração da mídia na divulgação de experiências e pesquisas na área seria muito importante para a desmistificação do trabalho.
Algumas iniciativas, segundo a pesquisadora, podem ser tomadas para tornar a orientação sexual mais eficiente nas escolas. “Hoje, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) já possibilitam a abordagem da educação sexual nas escolas, mas não existem políticas públicas que a garantam”. As pesquisas também mostram que o processo reflexivo para formação dos profissionais tem que ser coletivo e contínuo de forma a possibilitar a construção de vínculos, a abertura e o resgate do diálogo em relação ao tema, e o trabalho com as situações cotidianas vividas no contexto escolar, o que, além de tudo, com certeza irá contribuir com a revisão do papel do professor/educador e a recuperação da sua auto-estima.
Em relação à formação inicial, Regina diz que é fundamental que na educação superior as faculdades e as universidades assumam a responsabilidade pela inclusão da educação sexual nos cursos em que os profissionais estão mais diretamente envolvidos com tal abordagem: pedagogia, medicina, enfermagem, psicologia, serviço social, biologia. Para isso, é necessário que seja garantido aos professores da educação superior o espaço para formação continuada. E a inclusão também no ensino médio, nos cursos de habilitação ao magistério e cursos técnicos da área da saúde, já que a realidade mostra que estes últimos, quando profissionais, poderão abordar o tema nas escolas e também deverão ser preparados.