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São Paulo: 1918
 

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Família de um dos mais importantes jornalistas econômicos do país doa documentos ao Arquivo Edgard Leuenroth

Unicamp vai abrigar acervo pessoal de Aloysio Biondi


MANUEL ALVES FILHO


Elaine Marques Zanatta, Maria Aparecida Remédio, Antônio Biondi e Vânia Regina Personeni: fonte de pesquisa O acervo do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), considerado um importante centro de pesquisa e preservação da história social e política brasileira, ligado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, será brevemente ampliado e enriquecido com a incorporação do arquivo pessoal do jornalista Aloysio Biondi, que acaba de ser doado pela sua família. No último dia 7 de maio, uma comitiva formada por técnicas e pesquisadoras do AEL esteve em São Paulo para conhecer a coleção (livros, jornais, revistas, artigos, fotos e documentos pessoais e internos ao ambiente de trabalho) e orientar os familiares de Biondi no trabalho de preservação e organização do material. A transferência do arquivo para a Unicamp deverá ocorrer dentro de um ano, assim que a nova sede do AEL estiver concluída. A doação faz parte do projeto "O Brasil de Aloysio Biondi”, idealizado por sua mulher e filhos com o objetivo de manter vivos e divulgar os ideais de um dos mais respeitados jornalistas econômicos do país.

Integrantes da família de Biondi e a equipe do AEL: dicas sobre seleção, organização e catalogação do arquivoDurante a visita à casa dos Biondi, a comitiva da Unicamp ficou impressionada com o grau de envolvimento dos familiares, amigos e ex-alunos do jornalista com o projeto. De acordo com Elaine Marques Zanatta, supervisora da Seção de Pesquisa do AEL, o trabalho de organização e preservação do arquivo realizado por eles é inédito. "Normalmente, ou as famílias jogam fora esse tipo de acervo ou o doam, mas sem tomar esses cuidados. É a primeira vez que vejo tal iniciativa”, afirmou. Algumas das recomendações dadas pelas especialistas da Universidade foram acatadas imediatamente pelo grupo que está selecionando a catalogando a coleção.

Ao saber que o plástico colocado na face da estante para proteger os livros da umidade poderia provocar resultado adverso, pois impede a circulação do ar entre os exemplares, Pedro Biondi, um dos filhos do jornalista, não titubeou: pegou um estilete e começou a remover o material no mesmo instante. Os familiares foram orientados, ainda, a tomar alguns cuidados em relação ao uso de materiais (caixas, plásticos etc) para o acondicionamento dos documentos. Também receberam dicas sobre procedimentos relativos à seleção, organização e catalogação do arquivo.

O jornalista Antônio Biondi: família virá conhecer o AELConforme Maria Aparecida Remédio, supervisora da Seção de Preservação do AEL, até que o arquivo seja transferido para a Unicamp, os especialistas da Universidade manterão contato com a família Biondi, assessorando no que for necessário. Elaine Zanatta lembrou que ainda falta ser assinado um acordo formal para que a doação seja efetivada, mas já existe o compromisso dos familiares de que o material coletado pelo jornalista será de fato incorporado ao acervo do AEL. "Da nossa parte, já declaramos o interesse em receber esse material, que certamente será uma importante fonte de consulta para estudantes e pesquisadores em geral”. Aqui, segundo Vânia Regina Personeni, supervisora da Seção de Processamento Técnico do Arquivo, a coleção passará por uma nova triagem e organização.

Antônio Biondi, outro filho do jornalista, conta que a escolha da Unicamp como destino do arquivo pessoal de seu pai não foi feita logo de saída, mas mostrou-se a mais adequada. Assim que a família decidiu doar a coleção, foram feitos contatos com outras instituições, como a Escola de Comunicação e Arte (ECA), da USP, e a Faculdade Cásper Libero, onde Aloysio Biondi foi professor. As conversações, entretanto, não evoluíram. Por recomendação do jornalista Dênnis de Moraes, que foi procurado para escrever a biografia de Biondi, outra etapa do projeto, eles recorreram o AEL. "Ao conhecer o arquivo, percebi que ele seria o lugar certo para receber o material. Além da temática do acervo estar relacionada com o trabalho executado por meu pai e das coleções ficarem abertas à consulta pública, ficou claro o comprometimento dos profissionais com o trabalho que executam”, afirmou. Brevemente, adianta Antônio Biondi, a família toda virá a Campinas para conhecer o AEL.

Independência, ética e sacerdócio

Aloysio Biondi é considerado uma referência no jornalismo, sobretudo na área econômica. Sua carreira começou em 1956, na então Folha da Manhã, hoje Folha de S. Paulo. No jornal, exerceu as funções de editor-executivo do caderno de economia e secretário de redação. Também trabalhou na Gazeta Mercantil, Jornal do Commercio (RJ), Diário do Comércio e Indústria (DCI-SP), Correio da Manhã (RJ), Diário da Manhã (GO) e revistas Veja e Visão. Colaborou, ainda, com artigos em diversas publicações alternativas, com destaque para o jornal Opinião, um dos mais importantes espaços de debates e veiculação de idéias durante o regime militar.

Biondi ganhou dois Prêmios Esso, o mais importante do jornalismo brasileiro. O primeiro foi em 1967, quando atuava na Visão, e o outro em 1970, época em que trabalhava na Veja. "Aloysio Biondi é reconhecido como um dos principais jornalistas da história do país, mantendo como marcas em sua carreira a independência, o espírito crítico, a ética e a capacidade de análise. Tinha na profissão um verdadeiro sacerdócio. Dedicava-se a ela dia e noite, pois acreditava estar, assim, contribuindo com a busca da democracia e a luta por um país melhor”, destaca uma breve biografia do jornalista, preparada por seus filhos que, não por acaso, abraçaram a mesma profissão do pai.


Projeto prevê biografia e site


A doação do arquivo pessoal de Aloysio Biondi ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) faz parte de um projeto mais amplo conduzido por seus familiares, amigos e ex-alunos, intitulado "O Brasil de Aloysio Biondi”. A empreitada compreende, ainda, a elaboração da biografia do jornalista e a criação de um site. "Um projeto para contribuir com a retomada dos sonhos de um Brasil para todos, cuja origem remonta aos nossos mais remotos sonhos de soberania: democrático, justo, solidário, que tenha igualdade entre seus cidadãos como horizonte”, explicita o texto de apresentação.

De acordo com Antônio e Pedro Biondi, filhos do jornalista, a pretensão é que o projeto não tenha um fim em si mesmo. Os objetivos são preservar a memória e prestar uma homenagem a Biondi, morto em 2000, mas também "oferecer uma fonte de discussão e informação para jornalistas, estudantes de comunicação, economistas, sindicalistas, pesquisadores e brasileiros no geral”. O site, disseram, está em fase de construção. Sua conclusão depende do trabalho de organização do arquivo e da busca pelos escritos de Biondi nos jornais e revistas onde atuou.

Paralelamente, estão sendo mantidos contatos com profissionais que escreveram biografias de destaque, como Dênnis de Moraes (Henfil, Luiz Carlos Prestes e Vianinha) e Regina Echeverria (Elis Regina), para que um deles se encarregue de contar a história de Biondi. Serão realizadas cerca de 100 entrevistas com pessoas que conviveram com o jornalista, em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, São José do Rio Pardo e Caconde, esta última sua cidade natal. A primeira edição do livro deverá ter 10 mil exemplares. O custo total do projeto "O Brasil de Aloysio Biondi” é de R$ 285 mil, recurso que está sendo levantado por meio de festas promovidas pelos familiares e amigos e por intermédio de contratos de patrocínio.




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