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Participantes da Europa, EUA, Canadá e América
Latina discutem na Unicamp as tendências das bibliotecas digitais
Promovendo o
acesso ao inacessível
LUIZ SUGIMOTO
Vitrúvio escreveu o único tratado sobre arquitetura romana da antiguidade que foi conservado até os nossos dias. O estudioso que quiser saciar a sede por essa arte, no entanto, precisa ir a Roma. A obra integra a biblioteca do conde Francesco Cicognara (1767-1834), que adquiriu praticamente todos os livros de arqueologia e história da arte publicados no período que vai da invenção da imprensa, em meados do século 15, até o final do século 18. Falido, principalmente por financiar artistas sob sua guarda, Cicognara vendeu a coleção pessoal para o Vaticano, onde ela está acessível apenas para privilegiados. A partir do ano que vem, parte significativa da coleção do crítico, historiador de arte, pintor e bibliófilo italiano começa a ser disponibilizada on-line na Biblioteca Digital da Unicamp. Além de Vitrúvio, terão prioridade Cesare Ripa e Muratori.
Seminário discutirá tendências da área
É esta possibilidade de acessar um conhecimento até então inacessível que atraiu mais de 500 inscrições para o II Simpósio Internacional de Bibliotecas Digitais, de 17 a 21 de maio, no Centro de Convenções da Unicamp. Até sexta-feira, os participantes estarão discutindo a difusão de propostas e projetos na área de sistemas informacionais para gerenciamento de conteúdos digitais, e também o compartilhamento de soluções técnicas de acessibilidade a fontes eletrônicas de informação e serviços visuais. Segundo o bibliotecário Luiz Atílio Vicentini, coordenador do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), será uma semana de reuniões técnicas, cursos para o desenvolvimento de bibliotecas digitais, palestras e apresentações de trabalhos.
"Este simpósio é uma continuidade do workshop sobre política de informação em bibliotecas digitais, que realizamos no ano passado. Agora, o público já não discute a necessidade de implantação, mas as tendências em bibliotecas digitais, sistemas de informação, recursos eletrônicos como apoio ao ensino e pesquisa, a informação digital para a inovação e desenvolvimento econômico e social, aspectos legais do documento eletrônico, direitos autorais e propriedade intelectual, preservação digital e consórcios e parcerias", explica. Vicentini ressalta que o evento ganha definitivamente um caráter internacional, com a presença de cerca de 30 palestrantes e participantes dos Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Chile, e inscritos de quase todos os países da América Latina. O evento terá também um estande da Editora da Unicamp.
2.800 teses Luiz Vicentini lembra que o simpósio é comemorativo dos 50 anos do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), órgão que tem um projeto nacional de integração das diversas bibliotecas digitais em implantação no Brasil. Vicentini informa que, nesse sentido, a Biblioteca Digital da Unicamp já disponibilizou perto de 2.800 teses de mestrado e doutorado, somando 190 mil downloads. O Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), por exemplo, está com todas as teses defendidas na unidade digitalizadas, desde a primeira em 1969.
O último dia do simpósio está reservado para a discussão de consórcios e parcerias para compartilhamento e transferência de dados, visando facilitar a divulgação científica através das tecnologias de arquivos abertos. "A tradição de cientistas em publicar voluntariamente os resultados de suas pesquisas, sem ter de pagar por esta publicação, já é possível com o uso de tecnologias da Internet, dentre elas as bibliotecas digitais que utilizam protocolos de arquivos abertos (Open Archives Initiative OAI)", observa Vicentini. Ele acrescenta que as instituições brasileiras serão convidadas a participar do acordo com a Berlin Open Access Accord, iniciativa que prevê o acesso livre e sem restrições a publicações científicas, reduzindo custos com assinaturas de coleções impressas, e da qual participam pelo menos treze países europeus. Maiores informações podem ser obtidas no endereço www.sibd.bc.unicamp.br.
Biblioteca Cicognara
Em setembro de 2002, este jornal destacou a aquisição pela Unicamp de mais de 40 mil microfichas reproduzindo cinco mil títulos da biblioteca particular do conde Francesco Cicognara. O acervo, que está sob os cuidados do setor de Obras Raras da Biblioteca Central (BC) da Unicamp, foi negociado junto à Universidade de Illinois, detentora de um convênio com a Biblioteca Apostólica Vaticana que permitiu a duplicação em microfichas dos livros de Cicognara. "Da noite para o dia, ficamos com a posse da maior biblioteca de fontes da história da arte", recorda o professor Luiz Marques, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), responsável pelo projeto financiado pela Fapesp.
Marques conta que o bibliófilo italiano adquiriu todos os livros essenciais publicados de meados do século 15 ao final do século 18. Ele prevê que o núcleo mais importante da coleção de Cicognara, entre 30% e 40%, estará disponibilizado na Biblioteca Digital da Unicamp até 2006, quando vence o prazo para o projeto. "Vamos privilegiar as obras de Vitrúvio, Cesare Ripa e Muratori, mas vale ressaltar que o nosso primeiro critério é o de uso, ou seja, se um pesquisador solicitar determinado livro, terá a prioridade", observa.
O professor do IFCH informa que Vitrúvio redigiu o único tratado de arquitetura romana que nos restou da antiguidade e que a Biblioteca Cicognara possui um número inverossímil de edições deste teórico. Quanto a Muratori, também escreveu seus livros, mas é fundamentalmente um congregador de fontes da história medieval, antiga e moderna. De Cesare Ripa, o mais importante é a iconologia, o primeiro grande repertório de imagens que ficou conhecido.
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