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Seminário Diversidade na Ciência reúne, na
Unicamp, Moacyr Scliar, Iván Izquierdo e Amir Caldeira


Um olhar sobre as
fronteiras do conhecimento


O professor Oscar Ferreira Lima: estimulando o debate, o pensamento crítico e a reflexão sobre o conhecimento - Foto: Neldo CantantiA Unicamp promoverá no próximo dia 27, quinta-feira, a segunda edição do evento Diversidade na Ciência II – uma reflexão sobre o conhecimento e seu modo de produção. Organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG), o encontro integra a programação do “Seminários Unicamp”. Segundo o professor Oscar Ferreira Lima, assessor da PRPG e um dos coordenadores da série de conferências, o objetivo do seminário é estimular o debate, o pensamento crítico e a reflexão sobre o conhecimento e seu modo de produção.
De acordo com o professor Lima, a escolha de quatro palestrantes que atuam com destaque em diferentes áreas é um dos objetivos da série de debates. “O título Diversidade na Ciência procura justamente passar essa idéia de que no mundo de hoje, sobretudo no campo acadêmico, é muito importante a multidisciplinaridade”, esclarece o docente, titular do Instituto de Física da Unicamp.
As conferências serão proferidas por Catherine David (curadora do Centro de Arte Contemporânea de Roterdã), Amir O. Caldeira (professor do Instituto de Física da Unicamp), Moacyr Scliar (escritor e médico) e Iván Izquierdo (bioquímico e pesquisador da UFRS). “Todos são expoentes em suas áreas de atuação”, destaca o docente. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas no endereço http://www.prpg.unicamp.br.
Na entrevista abaixo, o pró-reitor de Pós-Graduação, professor Daniel Hogan, fala sobre o seminário, a desterritorialização das ciências e a importância da multidisciplinaridade no cenário acadêmico.

Jornal da Unicamp – Quais serão as maiores contribuições do seminário que a PRPG está promovendo?
O professor Daniel Hogan, pró-reitor de Pós-Graduação: “A internet rompe com esse encadeamento temporal das coisas” - Foto: Neldo CantantiDaniel Hogan – As pessoas precisam saber que periodicamente estamos preocupados com questões que transcendem o dia-a-dia e a área disciplinar de cada um. É um pouco o objetivo dessa série. Nem sempre temos tempo de ter a oportunidade de pensar além do que a gente habitualmente pensa. É bom que a sociedade saiba que estamos nos questionando. Esse tipo de seminário foge do formato tradicional. Nele, refletimos além daquele trabalho conhecido como ciência incremental. Às vezes é preciso transcender o nosso horizonte.

JU – O senhor poderia dimensionar o tamanho do impacto da teia mundial na comunicação científica e nas instituições de ensino e pesquisa?
Hogan – Trata-se de uma questão complexa. De um lado, é impressionante como foi rápida essa introdução da rede e como nós, em termos práticos, estamos dependentes desse processo, em todas áreas, mesmo na sociologia. Em termos de conexão de pessoas com outras instituições, não faz mais diferença se a pessoa está do outro lado do corredor ou do mundo. Antes, você pensava dez vezes antes de telefonar ou escrever uma carta. Hoje, essa comunicação foi incorporada por nós muito rapidamente. Não sou especialista em sociologia do trabalho, mas caso fosse, ia pensar como isso intensifica nosso ritmo de trabalho. Acabamos, de fato, trabalhando muito mais em termos de produtividade, minuto a minuto; não existe mais aquela espera. Tudo acontece em tempo real. Esse é um aspecto.

JU – Qual seria o outro?
Hogan – É a disponibilidade de informações. Quem trabalha, por exemplo, com demografia e meio ambiente tem à disposição um banco de dados do outro lado do teclado que é fantástico. Um pesquisador de um país periférico dispõe dos mesmos dados de alguém do primeiro mundo. Uma universidade de primeira linha norte-americana vai acessar o mesmo banco que você. No campo da demografia, as instituições nacionais estão super aparelhadas neste aspecto. Podemos citar como exemplos o IBGE e a Fundação Seade. A prospecção que demorava dias ou semanas é feita num instante. No meio ambiente, área em que os dados não são tão padronizados em razão dos diversos campos de pesquisa, você obtém dados que seriam inacessíveis no passado. Um terceiro aspecto, que é mais difícil para se trabalhar na sociologia, é como isso muda o conceito de produção de conhecimento. Basta conversar com pesquisadores que integram os projetos Genoma e Biota. Essa formação de rede de pesquisadores seria impossível se não fosse essa nova possibilidade de comunicação.

JU – E no caso das ciências humanas, pode-se dizer que essas mudanças foram responsáveis pelo surgimento de paradigmas?
Hogan – Sem dúvida. Tem coisas que não enxergamos. A produção nas ciências humanas historicamente foi mais vagarosa. Havia um ritmo de reflexão e escrita muito peculiar. A internet rompe com esse encadeamento temporal das coisas. Você de uma certa forma é bombardeado o tempo todo com informações.

JU – Em artigo publicado recentemente, o senhor afirmou que uma das características da ciência contemporânea é a desterritorialização. O senhor poderia falar sobre suas conseqüências?
Hogan – Uma matéria publicada na semana passada nos jornais aponta a queda da proeminência norte-americana no campo da ciência. Por que ocorreu isso? Justamente porque estão surgindo e crescendo outros pontos de qualificação. A produção do conhecimento está se descentralizando, e a internet tem tudo a ver com isso. O fato de você não precisar estar presente numa grande universidade para ter acesso à informação acaba criando potencialidades que culminam na produção de conhecimentos. Acho que a tendência é que sejam criados mais pontos isolados de produção de conhecimento. O futuro será mais rico, a ciência será menos concentrada.

JU – No mesmo artigo, o senhor afirma que estruturas importantes que contribuíram para o progresso do campo científico no século 20 correm o risco de caminhar para a obsolescência. Como dar conta de arranjos institucionais mais flexíveis?
Hogan – Cada vez menos o modelo de instituição autônoma produzirá ciência. A tendência é que essa produção seja feita em rede de pesquisadores. E não se trata apenas de uma rede em que apresento a você o meu paper e tenho um retorno reflexivo para incorporar suas idéias. A própria produção de conhecimento de resultados tende a ser cada vez mais diluída no espaço. Parte desse processo é a interdisciplinaridade. Na Unicamp, por exemplo, temos um conjunto de departamentos, há poucas exceções. Esses departamentos, em termos de produção de conhecimento, podem ter uma forma muito rígida e limitada. Acho que as colaborações entre departamentos, na Unicamp, não são uma coisa muito fácil. Essa formatação institucional não está apropriada para o século 21. Precisamos de mecanismos institucionais que permitam mais colaborações de pessoas de diferentes unidades.

JU – Mas a Unicamp é reconhecida por seu investimento na interdisciplinaridade. O senhor acha que essa aposta fica aquém da expectativa?
Hogan – A Unicamp investe, mas ainda acho que é pouco. Por outro lado, não quero exagerar. Muitos que defenderam a interdisciplinaridade apostavam no desaparecimento das linhas disciplinares. Não acho isso. Vejo como fundamental o fortalecimento das disciplinas. Alguns tipos de problemas só podem ser mitigados com o avanço da especialização no interior de uma disciplina. Mas outros, não. E são justamente esses outros que, com o tempo, vão assumindo um papel maior. Embora possa apontar várias experiências de interdisciplinaridade na Unicamp, o formato institucional tem um quê de arranjo. Sempre acabamos dando um jeito, e seguimos adiante. Mas entendo que nossa maneira de se organizar ainda é muito tradicional.

JU – Qual a importância do cruzamento de disciplinas nas áreas da demografia e do meio ambiente, que integram seu campo de atuação?
Hogan – A demografia é construída como campo científico por quatro disciplinas distintas. Quando se quer explicar por exemplo mudanças na estrutura da população, tradicionalmente recorre-se à área de saúde. É ela que vai estudar mortalidade; a sociologia e mais a saúde vão estudar também a fecundidade e a reprodução. Os economistas também têm um peso importante. Não é à-toa que um professor escreveu um livro cujo título era Demografia como Interdisciplina. Talvez por isso você não possa pensar uma população sem pensar nesses diferentes componentes e que, cada um deles, tenha sido estudado predominantemente por uma disciplina. Por isso talvez eu esteja tão interessado na interdisciplinaridade. Quando se fala em meio ambiente é mais óbvio. Temos esses problemas ambientais exatamente porque falta uma visão integrada. É uma coisa que precisa ser construída com muito investimento, tempo, energia e reflexão.

PROGRAMAÇÃO

Diversidade na Ciência II uma reflexão sobre o conhecimento e seu modo de produção

“Seminários Unicamp”
Local: Centro de Convenções (Ginásio Multidisciplinar)
Rua Elis Regina

Dia 27/05/2004
8:30 h : Abertura
9:00 h : Catherine David (Witte de With, Center for Contemporary Art, Rotterdam)
A arte contemporânea e a questão do real

10:30 h: Amir O. Caldeira (Instituto de Física Gleb Wataghin, Unicamp)
Informação Quântica

14:00 h: Moacyr Scliar (Escritor, Porto Alegre)
Ciência e literatura: incerta e fértil fronteira

15:30 h: Iván Izquierdo (Centro de Memória, ICBS, UFRGS, Porto Alegre)
As fronteiras da neurobiologia e o processo cognitivo

O idioma oficial do evento será realizado em português. Haverá tradução simultânea. Maiores informações: Fone : ( 19 ) 3788-4729 (Kelly ), e – mail : Kelly@reitoria.unicamp.br Inscrições na homepage: http://www.prpg.unicamp.br/


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