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"Ambiente e Sociedade", criado pelo Nepam/IFCH,
vai privilegiar visão crítica e humanização das pesquisas



Curso de doutorado
aposta no diálogo interdisciplinar



ADRIANA MENEZES
Especial para o JU

Foto: Antoninho PerriUma questão mundial e interdisciplinar. Essa é a concepção básica do curso de doutorado “Ambiente e Sociedade”, que acaba de ser criado na Unicamp pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) e pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), de acordo com a definição da coordenadora do programa e professora da Unicamp Leila Costa Ferreira. O foco está na humanização das pesquisas e na visão crítica do atual processo de conhecimento na área. “Tudo o que está relacionado a ambiente e sociedade tem dimensão mundial e engloba o problema da pobreza, da urbanização e todo seu processo caótico e predatório prejudicial à natureza, além de questões como a biodiversidade e a sustentabilidade”, explica Leila. Mas, segundo ela, o maior desafio e também uma das principais particularidades do novo doutorado é a proposta do diálogo interdisciplinar com embasamento teórico-metodológico. Nesse aspecto, a iniciativa é inédita no Brasil, onde existem outros cinco doutorados na área.

Inscrições podem ser feitas até 4 de junho

Nos últimos seis anos, a área interdisciplinar é a que mais cresce no meio acadêmico, segundo Marcel Bursztyn, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Capes (na função até fevereiro de 2004). Dentro da interdisciplinaridade, o estudo do meio ambiente, em particular, cresce duas vezes mais que as outras áreas (24% e 12%, respectivamente). No entanto, segundo ele, as avaliações da Capes sobre a maioria dos cursos têm ficado abaixo da média 4, ao mesmo tempo que o método de avaliação tem sido motivo de críticas, por não ser feita por pessoas da área. No meio de toda esta polêmica interdisciplinar, surge o curso do Nepam/IFCH. “É uma iniciativa diferenciada porque não está apenas pintando de verde um curso existente. Não se trata de uma ambientalização de cursos que ganham novos nomes, como Sociologia Ambiental”, diz Bursztyn.

A professora Leila Costa Ferreira, coordenadora do curso: iniciativa inédita no país - Foto: Antoninho PerriNa opinião do professor, muita gente tem percebido que suas ferramentas não estão resolvendo suas inquietações e necessidades, por isso buscam a interdisciplinaridade. “O Nepam está vinculado a uma das universidades de maior prestígio do Brasil e, por sua história, seria natural que chegasse ao doutorado”, conclui.

O presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (Anppas), Pedro Jacobi, acredita que o doutorado da Unicamp é um desafio por propor geração de conhecimento a partir de uma “boa definição conceitual e metodológica”. “Será uma busca de respostas pela inter-relação de áreas de conhecimentos. Pode haver alguma dificuldade de orientação ou a necessidade de buscar outras áreas de conhecimento, mas é preciso avançar”, conclui o professor da Universidade de São Paulo (USP) e orientador de doutorado ambiental da mesma universidade.

Na opinião de Jacobi, um biólogo, por exemplo, precisa adquirir elementos do social. “Essa é uma mudança que está ocorrendo gradualmente. O diálogo interdisciplinar às vezes é sofrido e lento, mas há real possibilidade de conhecimento científico”. Jacobi é favorável à direção de teses para temas que requerem soluções. “O tema ambiente e sociedade é de extremo interesse social. O corpo docente deve estar afinado com a realidade do país”, ainda que uma tese não dê respostas prontas. “Os estudos fazem reflexões e análises do tema, a partir das quais pode surgir uma resposta.”

Para Daniel Hogan, pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp, não existe apenas um caminho para se estudar meio ambiente. “Não estamos imaginando formar uma nova ciência”, completa o sociólogo e demógrafo que faz parte do corpo docente do curso de Doutorado. A idéia é trabalhar na interface ecologia e sociedade. “Vamos formar sociólogos e ecólogos que conseguem não só dialogar, mas incorporar conceitos e metodologias das outras ciências”, explica Hogan. Segundo ele, o modelo proposto não é juntar químicos, engenheiros, advogados e ecólogos, para depois dividir funções e finalmente juntar resultados num trabalho separado por capítulos. “Pretendemos fazer com que as pessoas incorporem conceitos. Fazer isso numa universidade do porte da Unicamp é um desafio muito grande”, conclui. “Não é um curso guarda-chuva, onde cabe qualquer tema ambiental”.

Hogan lembra que o embrião do Nepam surgiu por iniciativa de um grupo de ecologia humana dentro da Faculdade de Medicina. Em 1982, a idéia foi formalizada, cinco anos depois, em 1987, ganhou o formato de núcleo. A proposta inicial de ecologia humana passou a ser muito limitada, em termos teóricos, o que resultou na pluralidade atual do Nepam. Há mais de 20 anos, portanto, o Nepam está comprometido com a interdisciplinaridade. Segundo o pró-reitor, o doutorado está sendo discutido há mais de dez anos. Daqui a quatro anos ele espera poder ver a primeira leva de doutores do Nepam/IFCH. “A qualidade dessa produção é o que vai indicar se estamos fazendo o que pretendemos”.

Uma revisão crítica do próprio processo de conhecimento da área ambiental é, enfim, a proposta do curso. O objetivo é inovar na solução dos problemas através da interface sociedade e ambiente. “O doutorado se propõe a buscar novos parâmetros para o entendimento destes problemas, muitos deles também novos”, diz a coordenadora, Leila Costa Ferreira. As aulas terão início em agosto para uma turma de 15 alunos com formações diversas, entre biólogos, sociólogos, ecólogos, geógrafos e profissionais da saúde.

O corpo docente permanente é formado por Alpina Begossi, Carlos A. Joly, Carlos Rodrigues Brandão, Daniel J. Hogan, Keith S. Brown, Laymert Garcia dos Santos, Leila da Costa Ferreira, Lúcia da Costa Ferreira, Sônia Regina Cal Seixas Barbosa e Thomas M. Lewinsohn. O corpo docente colaborador tem participação de Ademar Romeiro, Álvaro Crosta, Bernardino R. de Figueiredo, Ennio Peres da Silva, Gilberto de M. Jannuzzi, Hildebrando Herrman, Luís A.B. Cortez, Rachel Negrão Cavalcanti, Sônia Bergamasco e Wilson F. Jardim. Roberto Guimarães (Nações Unidas/Cepal) será professor visitante colaborador. Além de IFCH e Nepam, outros institutos também participam da iniciativa: Instituto de Biologia, IG, IC, Sistema de Energia (Direito Ambiental, Feagri, Química Ambiental).

As inscrições estão abertas até dia 4 de junho e as aulas da primeira turma terão início em agosto. Informações pelos telefones (19) 3788-7690 (Nepam) ou 3788-1612 (IFCH). E-mails: doutorado@nepam.unicamp.br , nepam@nepam.unicamp.br .


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