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Dissertação de mestrado analisa as transformações
ocorridas em várias áreas entre os anos 1930 e 2000

Pesquisa investiga oscilações
da economia fluminense



MANUEL ALVES FILHO


O professor Wilson Cano (à esquerda), orientador da pesquisa de Robson Dias da Silva (à direita): economia  depende das receitas geradas sobretudo pelo petróleo (Foto: Antoninho Perri)Dissertação de mestrado elaborada por Robson Dias da Silva, apresentada no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, promoveu uma profunda investigação sobre as transformações sofridas pela economia do Rio de Janeiro entre os anos de 1930 e 2000. Dividido em três partes, o estudo analisa em detalhes a perda da importância relativa do Estado na economia brasileira e aponta, pela primeira vez, em que setores a região obteve crescimento acima ou abaixo da média nacional ou, ainda, queda real. Atualmente, conforme a pesquisa, a economia fluminense depende fortemente das receitas geradas pelo extrativismo mineral [leia-se petróleo e gás natural], situação que ganhou vigor a partir dos anos 90. “O desempenho do Rio é um com o petróleo e outro sem ele”, afirma Silva, que foi orientado pelo professor Wilson Cano.

Rio detém hoje 12,5% do PIB nacional

Para se ter uma idéia da importância do petróleo no contexto atual da economia fluminense, que recentemente tem apresentado crescimento acima da média nacional, basta observar os números relativos à participação dos estados brasileiros na receita total das 100 maiores empresas instaladas no país. Segundo dados de 2003, São Paulo respondia por 38,1% do total daquelas receitas e o Rio de Janeiro por 37,1%. Nesta última cifra, porém, está contida a Petrobrás, que representa metade do montante. Destaque-se que, ao contrário do setor extrativo mineral, a indústria fluminense sofreu perdas de grande dimensão na última década do século passado. De acordo com Silva, essa realidade tem gerado uma crescente preocupação em torno da necessidade de se criar maiores encadeamentos na estrutura produtiva local, de modo a garantir efeitos mais dinâmicos sobre toda a economia.

Há a compreensão por parte de variados segmentos da sociedade de que o Estado não pode manter tamanha dependência de um único setor, sobretudo porque este está baseado em recursos naturais finitos. “O desafio está na busca por alternativas que permitam a sustentabilidade da economia”, explica o autor da dissertação. Formado em Economia pela Universidade Federal Fluminense, Silva destaca que uma das motivações para desenvolver o estudo foi a tentativa de oferecer respostas à controvérsia gerada pela tese de doutorado do professor Cano, defendida em 1975. Embora tratasse da concentração industrial em São Paulo, o trabalho também fazia considerações sobre o retrocesso industrial relativo do Rio.

“Em razão da inexistência de trabalhos acadêmicos que contemplassem esse tema de forma mais aprofundada, ampliaram-se as dúvidas e gerou-se uma polêmica, por vezes, distorcida acerca do movimento econômico fluminense. Minha dissertação buscou justamente preencher esse espaço”, esclarece Silva. Assim, antes de chegar ao momento atual do Rio de Janeiro, o pesquisador fez uma investigação minuciosa do comportamento da economia local através dos tempos. Inicialmente, ele tratou da formação econômica regional, que remonta à inserção do Estado nos fluxos da economia do ouro (século 18). Silva estudou a estruturação das atividades mercantis e financeiras e o papel do setor público na conformação urbano-econômica regional. “Vale destacar que em 1763 a cidade do Rio passou a ser a sede colonial e, mais tarde, a capital brasileira, condição que perdurou até 1960”, lembra.

Na passagem do século 19 para o 20, diz Silva, já é possível identificar o retrocesso relativo da economia do Rio. A indústria fluminense de então começa a perder posição para a paulista. Em 1907, por exemplo, a primeira detinha 37,6% do valor gerado pelo setor industrial brasileiro, enquanto a segunda alcançava apenas 16,2%. Passada pouco mais de uma década, Rio e São Paulo apresentavam, respectivamente, 28,5% e 31,5% de participação. Na segunda etapa da pesquisa, o economista debruçou-se sobre o movimento econômico fluminense durante as etapas de industrialização nacional, compreendidas entre 1930 e 1980. O período, de acordo com Silva, foi marcado pelo acelerado crescimento econômico do país e pela consolidação de São Paulo como epicentro da economia brasileira. O foco da análise, nesse intervalo específico, foi dirigido à dinâmica econômica regional, a partir das transformações observadas na estrutura “produtivo-terciária nacional” e das modificações institucionais sofridas pelo Rio, em razão da transferência da capital federal para Brasília (1960) e da fusão entre os antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, ocorrida em 1975.

A partir de dados fornecidos por censos demográficos, industriais, comerciais e de serviços, o autor da dissertação calculou as taxas de expansão regional e apurou em quais setores e ramos a economia fluminense cresceu abaixo da média nacional, paulista e do conjunto formado pelas demais economias regionais brasileiras. Com base em aprofundada análise econômica e no exame desses índices, o economista criou o que ele classificou como uma “tipologia do esvaziamento fluminense”, em face do desempenho dos demais recortes regionais. Silva lembra que, após a transferência da capital federal para Brasília e da fusão com o Estado da Guanabara, o Rio sofreu um impacto financeiro negativo. Perdeu, por exemplo, o status de principal praça bancária do país, título que passou a ser de São Paulo.

Nos anos 70, embora tivesse sido beneficiado com a construção do complexo nuclear em Angra dos Reis e com a consolidação da produção petrolífera, na Bacia de Campos, o Rio não conseguiu acompanhar o crescimento da economia nacional, segundo o pesquisador. Na década seguinte e no início dos anos 90, períodos abordados na terceira e última parte da pesquisa, o Estado enfrentou uma grave crise econômica e social. À época, foi cunhada a expressão “Rio de todas as crises”, em referência à situação regional, que experimentou, ainda, a explosão dos índices de desemprego, violência e favelização. “Se os anos 80 foram considerados a ‘década perdida’ para o Brasil, para o Rio ela foi mais do que perdida”, sustenta Silva. Na ocasião, enquanto o país crescia a taxas de 2,2% ao ano, o Estado não passava de 0,6%.

A despeito desse grave quadro, um setor da economia fluminense passou a sofrer uma fantástica expansão a partir de meados da década de 90, como já mencionado: o extrativista mineral. Se nos anos 80 o Estado detinha apenas 2% da renda gerada pelo segmento no âmbito nacional, dez anos depois esse percentual já atingia 40%. “Nesse período, é possível verificar o início da retomada da importância relativa do Rio, dado que o Estado passou a crescer acima da taxa nacional”, diz Silva. Embora a indústria de transformação local tenha sofrido perdas reais significativas na mesma época, as rendas geradas pelo petróleo, segundo Silva, induziram a média geral da economia. Atualmente, conforme dados contidos na pesquisa, o Rio detém 12,5% do PIB nacional, contra 10% nos anos 90. Este último período, na visão do economista, merece uma investigação mais aprofundada. Para desenvolver a dissertação de mestrado, Silva contou com bolsa de estudo concedida pela Capes.



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Fotos: Antoninho PerriFoto: Divulgação(Foto: Antoninho Perri)(Foto: Antoninho Perri)