Também guitarrista, Visconti cumpriu um longo caminho até fechar a pesquisa. Inicialmente, ele ouviu toda a discografia de Heraldo, para selecionar as composições e improvisações que seriam posteriormente transcritas e analisadas. Ao final dessa tarefa, foram escolhidas quatro composições e quatro improvisações que priorizavam os gêneros nordestinos, elementos marcantes na construção da guitarra brasileira. Para fazer a análise das transcrições, o pós-graduando foi forçado a desenvolver uma metodologia própria, dado que não existia outra que abrangesse as diferentes matrizes musicais articuladas pelo músico. Assim, Visconti criou um modelo híbrido, contendo aspectos de vários outros métodos de análise. "Como a nova metodologia não se restringiu a um único gênero, foi possível entender que a construção da guitarra brasileira, como Heraldo a denominou, é de fato a articulação da música urbana (choro, samba, jazz), das manifestações musicais regionais e do jazz", afirma.
No decorrer da pesquisa, Visconti também procurou compreender como tais influências foram incorporadas à obra do guitarrista. O pós-graduando procedeu, então, a uma análise sociológica, com o objetivo de identificar como a brasilidade foi sendo construída na música de Heraldo. "Para entender essa questão, eu estudei a relação do Modernismo com a música, além de vários textos que abordavam a presença do imaginário popular na música brasileira, sobretudo nos anos 60. A intenção era tentar confirmar a hipótese de que determinadas opções estéticas feitas por Heraldo teriam sido estimuladas justamente por esse imaginário", explica o autor da dissertação.
A contextualização sociológica, somada às análises musicais, permitiu identificar, de acordo com Visconti, que as escolhas estéticas foram feitas por Heraldo sobretudo na década de 60, quando ele integrava o Quarteto Novo, formado ainda por Théo de Barros, Airto Moreira e Hermeto Pascoal. O contato com a chamada "canção de protesto", no entender do pós-graduando, contribuiu de forma decisiva para a definição do estilo do guitarrista. "Era um momento de valorização da brasilidade em vários segmentos. O curioso é que o próprio Heraldo admitiu que tinha, a priori, um certo preconceito contra a música regional. Mas naquele ambiente novo, ele acabou descobrindo que era justamente a incorporação daquele elemento que poderia diferenciar a sua música e lhe garantir maior destaque no cenário nacional", esclarece Visconti.
Essas conclusões acabaram sendo reforçadas pela entrevista que o pós-graduando fez com Heraldo, e que foi propositadamente deixada para o final da dissertação. Nela, o guitarrista admite que existe uma "filosofia" que sustenta a escolha do caminho para a construção da sua guitarra brasileira. No último contato que teve com Heraldo, Visconti foi informado que ele acabara de finalizar o álbum mais recente, que contou com a produção do seu filho, Luís do Monte. Título do disco: Guitarra Brasileira. Visconti foi orientado pelo professor Antonio Rafael Carvalho do Santos e contou com a colaboração do professor José Roberto Zan, ambos do IA. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O pesquisador continua investigando o tema "guitarras brasileiras" em seu trabalho de doutorado, ainda em curso.