Ao ter como objetivo principal o resgate das obras, Lilia descobriu uma diversidade de estilos musicais produzidos por autores contemporâneos que estavam no anonimato. Com o aval e a doação dos compositores, ela acabou recuperando produções que adormeciam em poder de seus autores desde a reforma curricular da Lei de Diretrizes e Bases, em 1971. "Com a introdução da educação artística, o profissional de música foi afastado da escola e isso fez com que as editoras perdessem o interesse em publicar as obras de nossos compositores e educadores musicais", explicou.
A catalogação feita por Lilia consistirá na primeira coleção especial de música para coros infantil do Brasil. Apesar de concentrar a divulgação apenas nas peças a cappella, durante o mestrado, o catálogo será enriquecido com seu projeto de doutorado, no qual resgata músicas sinfônicas e de câmara, óperas, oratórios, missas e cantatas.
Mais que contar a história, a música irá ajudar educadores e regentes no trabalho com escolares, já que as informações que se recebem, principalmente na rede pública, restringem-se às produções veiculadas em rádios particulares, programas infantis de televisão e gosto pessoal do professor.
Especializada em psicopedagogia, ela atua não só como uma professora de música incumbida de ensinar a leitura de partituras ou tocar um instrumento, mas como alguém que deseja e propõe mudanças na formação cultural da criança. Em suas aulas, usa vários elementos que envolvem a educação musical, teatro, bonecos, brincadeiras, jogos. “Eu procuro ensinar música por meio de brincadeiras que exercitem o pensamento lógico-musical e o fazer artístico. Como educadora, sinto falta da presença do pedagogo em música nas escolas e da licenciatura em música nas universidades”, diz.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, aprovou a volta da música às escolas, mas até agora, a maioria das instituições não têm um profissional especializado. Essa dificuldade, Lilia atribui à falta da licenciatura. “Eu mesma sou especializada em música e psicopedagogia para crianças, mas só posso atuar como professora de docentes, pois tenho bacharelado e não licenciatura”, revela. Por não poder atuar em escolas públicas, ela ministra aulas particulares para crianças e jovens, como também orienta mais de 200 educadores e psicopedagogos, por e-mail, recomendando o que é ou não adequado às crianças.
Prêmios O volume de informações e possibilidades que a dissertação e o doutorado (em andamento) oferecem fez com que Lilia preenchesse sua agenda por mais ou menos um ano, com apresentações de palestras e oficinas já previstas. Dois meses depois de ter sido aprovado e indicado a publicação pela banca de mestrado, o projeto recebeu dois importantes prêmios.
O mais recente, recebido em 7 de abril, foi o Prêmio Lei de Incentivo à Cultura de Amparo 2005, no qual Lilia recebeu R$ 5 mil para desenvolver o projeto “Musicalização para crianças através da expressão coral”. A musicista está empolgada por coordenar, entre outubro e novembro deste ano, a montagem de um coro infantil, formado por 30 crianças da cidade de Amparo, de 7 a 12 anos, provenientes da rede pública municipal. Serão realizadas cinco apresentações musicais, cujo repertório resgata o patrimônio cultural histórico resgatado em sua dissertação.
A primeira conquista depois da dissertação foi o Vitae “Bolsas de Pesquisa em Artes 2004/2005”. A missão será realçar a História da Federação dos Meninos Cantores do Brasil, “referência ímpar e tradicional no cenário da música sacra e erudita brasileira”, afirma Lilia. Segundo ela, o projeto envolve 17 coros de excelência do país, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, e inclui a catalogação de três mil obras sacras do arquivo do Coral Mater Verbi, de Juiz de Fora. O trabalho será desenvolvido com uma bolsa mensal no valor de R$ 3.500,00, dirigida para a formação de uma equipe de cinco pesquisadores auxiliares. Após a finalização da pesquisa histórica, pretende-se buscar apoio para a publicação do livro.