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Equipamento obtém rendimento de 10% a 20%
maior do que os que são utilizados pela indústria

Pesquisadores desenvolvem beneficiadora de castanha de caju

JEVERSON BARBIERI

Professor Antonio Carlos de Oliveira Ferraz (Foto: Antoninho Perri) Pesquisadores desenvolveram na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp uma máquina capaz de abrir de 60 a 90 castanhas de caju por minuto, obtendo dessa maneira um rendimento de amêndoas inteiras de 10% a 20% acima do produzido atualmente pela indústria nacional. De acordo com o professor Antonio Carlos de Oliveira Ferraz, responsável pela pesquisa, esse percentual tem um impacto econômico muito forte, uma vez que o Nordeste brasileiro produz anualmente 250 mil toneladas de castanhas, movimentando US$ 140 milhões. "Se considerarmos que poderemos ter um rendimento 20% maior de amêndoas inteiras, esse valor subirá consideravelmente", afirmou Ferraz. A castanha de caju é o terceiro produto mais lucrativo do Nordeste.


Mercado movimenta US$ 120 mil anualmente

Máquina desenvolvida: maior rendimento (Foto: Divulgação)Como manda a tradição de pesquisas da Unicamp, o processo de desenvolvimento surgiu a partir da procura, por parte do professor Max César de Araújo, da Universidade Federal do Piauí, no final de 2001, por uma linha de pesquisa no doutoramento da Feagri. Araújo e o professor Ferraz levantaram várias hipóteses de pesquisa e perceberam uma deficiência no beneficiamento da castanha de caju. Segundo Ferraz, a mecanização existente, responsável pelo beneficiamento de 95% da castanha no país, é deficiente e a idéia foi melhorar o desempenho na abertura das castanhas e liberação de amêndoas inteiras.

Processo de extração - A obtenção de uma amêndoa inteira é um processo bastante trabalhoso. As castanhas in natura passam primeiro por um processo de umidificação, visando o amolecimento da amêndoa. Logo após seguem para um cozimento em óleo com temperatura aproximada de 200ºC. Dessa maneira, as propriedades mecânicas da casca são modificadas, permitindo o rompimento. É nesse ponto que as tecnologias se diferenciam.

No processo de extração tradicional, logo após o banho, as castanhas são levadas a uma máquina de onde são lançadas aleatoriamente contra um anteparo rígido. Algumas vezes elas batem contra o anteparo em uma posição conveniente e abrem; porém, muitas vezes se espatifam.

Na máquina elaborada nos laboratórios da Feagri, o produto final é obtido através da ruptura da casca pela deformação específica limitada, por meio de compressão direcionada entre cilindros paralelos com conformação adequada.

Numa comparação rápida, de acordo com o professor Ferraz, para se obter o número de castanhas inteiras que é obtido pelo novo mecanismo numa única passada, o método tradicional necessita de 11 a 12 passadas. Isto abala a estrutura da amêndoa e quando finalmente se consegue abrir a casca, ela já está comprometida. Portanto, trata-se de um equipamento que tem baixo custo e alta eficiência, com maior rendimento na produção.

A engenharia agrícola, diz Ferraz, se preocupa em conhecer material no qual vai trabalhar. A concepção do mecanismo foi feita em cima do conhecimento das propriedades do produto. Isso implica na escolha da direção mais suscetível, quanto de carga pode ser aplicada, quanto de deformação o produto consegue absorver e se o componente viscoelástico tem ou não importância. "No nosso caso, percebemos que teve uma importância muito grande, por isso resolvemos aplicar uma deformação num curto intervalo de tempo, para que houvesse um rápido crescimento das tensões internas com pequena deformação. A grande tensão interna produz a ruptura. A pequena deformação evita que se danifique a amêndoa lá dentro", ressaltou o professor .

Antecipação da demanda – Observando essa deficiência no processo de extração, o Sindicato das Indústrias de Caju (Sindicaju), sediado em Fortaleza (CE), solicitou à Embrapa Agroindustrial Tropical, também de Fortaleza, um estudo relacionado a essa demanda, buscando uma solução para as perdas significativas. Esta instituição fez contato com a Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos (SP) que, sabendo do equipamento que estava sendo desenvolvido pela Feagri, fez o contato e solicitou a colaboração. Ferraz ressalta que esse foi um momento muito bom no processo desenvolvido por Max, uma vez que a solicitação chegou logo após a qualificação realizada pelo aluno. Portanto, não houve um tempo de maturação pensando no que poderia ser desenvolvido. O protótipo foi apresentado, aprovado e as adaptações necessárias foram sendo realizadas na medida das necessidades. Segundo o professor, o Sindicaju nunca havia tido uma experiência no desenvolvimento de um produto, de uma máquina para a indústria, que incluísse o conhecimento do produto e das suas propriedades mecânicas.

Transformamos o conhecimento numa maneira de trabalhar o produto e eles receberam isso muito bem, disse Ferraz. Agora, um trabalho de engenharia convencional pode ajustar a máquina às necessidades da indústria, porque o princípio já está estabelecido.

A parceria com a Embrapa foi muito feliz, segundo professor, já que, além de agregar conhecimentos, permitiu a construção do protótipo e disponibilizou particularidades das necessidades regionais. Prova disso é que a tecnologia foi uma das três escolhidas, entre as 60 propostas, para serem apresentadas como inovação na cerimônia de comemoração do 32º aniversário da Embrapa, ocorrido no mês passado. Isso é uma expressão da avaliação dos nossos parceiros, enfatizou o docente.

Ferraz afirma que se trata de um sistema considerado único e, por esse motivo, foi depositado um pedido de patente, por causa da concepção do mecanismo, além do baixo custo.

Recursos humanos – Max César de Araújo já está de volta à instituição de origem, onde a instalação de um pequeno laboratório, já sabendo o que ele precisa para dar prosseguimento aos estudos e às pesquisas. Não foi um treinamento apenas acadêmico – envolveu contatos com as indústrias, com outros pesquisadores por meio da parceria e fechou um ciclo com sucesso através do pedido de patente. O orientador ressalta que tudo o que foi desenvolvido aqui, ele tem condições de montar e trabalhar no Piauí. Isso representa um salto muito grande na vida do pesquisador, além do estreitamento de vínculos. Temos uma ex-aluna, professora na Universidade Federal do Acre, que está interessada em trabalhar com outro tipo de castanha. Max vai ser um parceiro natural. E nós podemos estar juntos formando uma equipe, finalizou Ferraz.

O desenvolvimento do equipamento teve financiamento do Fundo de Apoio à Pesquisa e a Extensão (Faepex) da Unicamp, do Sindicaju e da Embrapa, através dos seus macro-programas.

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