“Todos os projetos estão em condições de serem implementados”, garante o diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Roberto de Alencar Lotufo. Segundo ele, a expectativa é que após o evento surja uma grande demanda por novas parcerias. “Para isso contamos com uma equipe especializada e com longa experiência em convênios com o poder público”.
De acordo com Lotufo, a coleta de projetos seguiu o modelo do Workshop de Parcerias, evento criado pela Inova para estreitar a colaboração entre a Universidade e o setor produtivo privado. A iniciativa consiste em convidar uma empresa para apresentar suas atividades e demandas e, posteriormente, fazer uma chamada aos pesquisadores para sugestões de idéias inovadoras que possam atender às necessidades da convidada. “A filosofia é a mesma, só que adaptada à realidade dos municípios”, explica.
Para dar consistência a esse novo formato, a organização do Inova nos Municípios lançou em novembro do ano passado uma solicitação aos pesquisadores no sentido de apresentarem projetos que pudessem colaborar na formulação de políticas públicas. “O número de sugestões superou as expectativas”, comemora Lotufo. O resultado também acabou inovando as características do próprio evento. Em 2003 e 2004, os temas centrais foram, respectivamente, Responsabilidade Fiscal e Saúde. “Desta vez houve uma diversidade de temas já que recebemos projetos de todos os setores da Universidade”, comenta o diretor da Inova.
Ao fazer um balanço do encontro, Lotufo destaca que as parcerias constituem uma via de mão dupla, com resultados positivos tanto para os municípios quanto para a Universidade. “Existe o benefício pontual, que é disseminar o conhecimento através de uma aplicação prática, mas os efeitos dos convênios têm um alcance muito maior”, enfatiza. “Para nós, o principal impacto ocorre no aperfeiçoamento dos cursos e na qualidade da formação de nossos alunos de graduação e pós-graduação”, completa. Segundo ele, do ponto de vista interno, as parcerias exercem um efeito multiplicador na geração de conhecimentos novos.
Educação tem maior
número de propostas
As propostas agrupadas nas quatro áreas selecionadas reúnem um variado leque de opções, que vão desde o aprendizado musical para desenvolvimento da consciência de cidadania até programas de geração de renda para idosos. O grupo de idéias para a área de educação tem o maior número de projetos apresentados, 18 ao todo, incluindo temas como educação a distância, capacitação de professores da rede pública de ensino e treinamento para a população da área rural dos municípios.
Um dos destaques neste grupo é o curso Gestão Estratégica Pública para Governantes. Coordenado pelo professor Renato Dagnino, o curso foi desenvolvido pelo Grupo de Análise de Políticas de Inovação vinculado ao Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG) e está orientado para aumentar a efetividade das ações dos dirigentes públicos no cenário atual de mudanças no estado brasileiro, com foco nos processos de inovação no nível municipal.
Ainda no grupo voltado para educação, há projetos que fazem a interface com a área de saúde, como segurança de alimentos, treinamento em cultivo de plantas medicinais e treinamento em manipulação e controle de qualidade de fitoterápicos. Este último projeto, por exemplo, coordenado pelos pesquisadores Rodney Rodrigues e Marili Rodrigues, ambos do Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) já conta com uma experiência bem-sucedida com a prefeitura de Campinas. O objetivo é capacitar profissionais da área farmacêutica quanto à tecnologia de produção e padronização de fitoterápicos.
Na área ambiental foram disponibilizados 14 projetos, envolvendo tratamento de lixo, gestão de recursos hídricos, reciclagem de materiais e propostas para administrar os impactos do processo de urbanização das cidades de maneira sustentada. O projeto Gestão Sustentável dos Resíduos Municipais e Saneamento Ambiental, por exemplo, oferece condições para que o gestor público produza um diagnóstico do quadro local e consolide um sistema integrado e sustentável do ponto de vista ambiental e financeiro para a gestão de resíduos municipais. O trabalho é coordenado pelo pesquisador Waldir Bizzo, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM).
Entre os projetos da área cultural, foram apresentadas 16 idéias que sugerem oficinas de arte circense, teatro, dança e espetáculos de música, cujos benefícios vão desde o lazer e o entretenimento até a formação de consciência crítica. Um dos destaques é o Projeto Artístico para o Desenvolvimento Social (Pades), que já conta com experiências bem sucedidas desde 2001 em Campinas. Desenvolvido a partir da tese de doutorado da pesquisadora Ana Carolina Rocha Mundiam, sob orientação do professor Fernando Manoel Aleixo, ambos do Instituto de Artes (IA), o trabalho tem como objetivo oferecer cursos e apresentações artísticas voltados para comunidades que não têm acesso aos circuitos regulares de atividades desta natureza.
Segundo os autores do projeto, a proposta disponibiliza para crianças e adolescentes processos de aprendizagem sensíveis, reflexivos e críticos que lhes permitam conhecer e associar às suas vidas conhecimentos que compõem as práticas de criação artística, bem como o exercício da cidadania. O trabalho resulta no desenvolvimento da capacidade de expressão artística em desenho, pintura, escultura, teatro, dança, música e audiovisual, além de dar suporte técnico para que a própria comunidade tenha iniciativas para desenvolver dinâmicas de criação e expressão artística.
No grupo de projetos voltados para administração pública, 18 ao todo, há propostas envolvendo geração alternativa de energia, transporte urbano, segurança alimentar, turismo e geração de renda. O projeto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, por exemplo, é apontado como importante alternativa para geração de emprego e renda nos municípios. Coordenado pelo professor Juan Miguel Bacic, do Instituto de Economia (IE), o trabalho tem como objetivos apoiar a formação e organização das cooperativas populares prestando serviços de assessoria jurídica e consultoria em diversas áreas.
Segundo o coordenador, o projeto sugere alternativas de geração de trabalho e renda para trabalhadores excluídos do mercado formal de trabalho através de parceria entre a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Unicamp com prefeituras e outros órgãos públicos. O trabalho já foi desenvolvido com a prefeitura de Campinas durante os anos de 2003 e 2004, quando foram formadas cinco cooperativas. No momento existe um convênio com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para atuação nas áreas de agricultura familiar (Mogi Mirim e Hortolândia), juventude (Limeira e Campinas) e construção de redes cooperativas de separação de recicláveis (Campinas).