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Historiadora fala sobre memória e monumentos
Seja ele D. Pedro I, como primeiro imperador do Brasil, ou D. Pedro IV, como rei de Portugal, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim de Bragança e Bourbon recebeu homenagens diferentes no Rio de Janeiro e em Portugal. Em visita à cidade brasileira, a historiadora Magda de Avelar Pinheiro (foto) se surpreendeu ao ver que no monumento da Praça Tiradentes construído no início dos anos 60 do século XIX , D. Pedro aparece rodeado de índios, enquanto nos monumentos portugueses é representado sob modelo real ou imperial. Na conferência “A memória das Revoluções liberais, e a construção do nacionalismo em Portugal nos finais do século XIX”, realizada no dia 25 de abril a pós-graduandos e professores da Unicamp, ela ofereceu uma síntese da memória histórica das revoluções liberais em Portugal utilizando imagens de monumentos como fonte de estudo. “Tento ver em que medida as diversas categorias sociais estão simbolizadas nos monumentos”, explica.
Magda, que encerra dia 7 sua participação na Cátedra Brasil/Portugal da Unicamp, observa que a iniciativa de inserir os índios no monumento de D. Pedro no Rio de Janeiro não se repete em obras urbanas da república. “No Brasil, pelo menos os índios estão representados no monumento a D. Pedro I. No Antigo Regime, as classes populares e os heróis não estão representados em monumentos, apenas os reis.” A imagem de D. Pedro em Portugal é uma imagem de continuidade dinástica, segundo a professora. “Ao abdicar do trono em favor da filha, D. Pedro perdeu o direito à cerimônia da quebra dos escudos. Quando morreu não era mais rei”, explica.
“No entanto existe uma gravura que representa esta cerimônia.” Para ela, a simbologia criada pelo Império Brasileiro demonstra a vontade de criação uma nova identidade. No monumento da praça de Tiradentes, no Rio, a atitude na qual D. Pedro I é representado manifesta paixão romântica, em sua opinião. Ela acentuou que em Portugal, somente após a Primeira Guerra Mundial se celebra a participação de simples soldados em monumentos. A democratização dos monumentos, segundo Magda, acontece só após a Primeira Guerra Mundial, mas então o soldado não é representado como herói, mas como vítima.
O estudo da história permite a formação de cidadãos mais reflexivos e críticos, na opinião de Magda. Além da conferência no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, ela participou num seminário sobre metodologias de pesquisa em Ciências Sociais a graduandos da Faculdade de Educação da Unicamp. “Espero que eles desenvolvam este tipo de trabalho entre seus alunos adolescentes”, reforça. A idéia é motivar os professores a usarem imagens como fonte de estudos de história. As formas de transmitir a história às crianças são muito complexas e a autonomia deveria ser mais fomentada, delegando ao aluno a missão de produzir seus próprios trabalhos de acordo com aspectos familiares da história. “Já em 1941, Marc Bloch, em seu livro Ofício de Historiador, defende que o estudo da história parta de fatos próximos da experiência dos jovens para atingir o estudo de sociedades mais distantes. A história é muito importante como forma de reflexão crítica sobre a sociedade, sobre o presente. O jovem fica mais capacitado a perceber o presente”, acrescenta.