LUIZ
SUGIMOTO
O
professor Carlos Lenz César é
capaz de discorrer longamente sobre as novas
aplicações da fibra óptica
em todas as áreas do conhecimento, sobretudo
nas ciências da vida como a medicina e
a biologia. Este será o tema de sua palestra
no evento comemorativo dos 30 anos da fibra
óptica brasileira, em 22 de maio na Unicamp.
Lenz demonstra nesta entrevista que os maiores
avanços que estão vindo ou por
vir envolvem as aplicações das
fibras ópticas como sensores. Eles vão
detectar, com precisão e rapidez cada
vez maior, um vírus no corpo humano a
partir de um sopro, um ladrão ou um foco
de incêndio dentro de casa, um atentado
a gás no metrô de Nova York, as
propriedades do petróleo no fundo do
poço recém descoberto.
No âmbito das telecomunicações,
que motivaram o desenvolvimento das fibras ópticas,
o aumento da largura de banda e a instalação
de novas fibras criaram, inclusive, uma ociosidade
na capacidade de transmissão da informação.
Por isso, paralelamente às pesquisas
de ponta, o professor da Unicamp defende a universalização
da tecnologia conquistada.
“O
impacto da fibra óptica na vida da humanidade
não foi pequeno e esta conexão
com a Internet vem implicando em uma reorganização
social no mundo inteiro. Gostaria que as sociedades
passassem a ver a comunicação
não como um bem para quem pode comprá-la,
mas como uma necessidade de infra-estrutura,
assim como as vias públicas e as redes
de esgoto, água e eletricidade”,
afirma.
Levar a fibra óptica para pontos de uma
favela, na visão do pesquisador, traria
benefícios imediatos que vão além
da teórica democratização
da informação. “A comunidade
pode se juntar e comprar computadores baratos,
acessando serviços públicos já
disponíveis na Internet, sem pegar ônibus
e filas infernais”.
Ainda na favela, os moradores também
poderiam gerar renda oferecendo serviços
pessoais na comunidade. “Não é
exagero prever que a universalização
da comunicação provocaria forte
crescimento no PIB do país. PIB é
o número de transações
por unidade de tempo. E na Internet negocia-se
24 horas por dia”.
Um exemplo de uso social mais amplo da fibra
óptica, lembra Carlos Lenz, é
a infovia, objeto de pesquisa e de experiências
práticas coordenadas pelo professor Leonardo
Mendes, da Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (FEEC). Já
retratada pelo Jornal da Unicamp, a infovia
é uma rede de alta velocidade que cobriria
a cidade como as vias públicas, oferecendo
postos de serviços à população.
Já
nos países ricos como o Japão,
o governo está aproveitando a capacidade
ociosa para oferecer o Fiber-to-the-home (FTTH),
levando a fibra óptica até a casa
do usuário, com serviços como
comunicação de dados, televisão
a cabo e digital, acesso a Internet e telefonia
convencional a 100 megabits por segundo.
“Para a evolução da ciência
e da sociedade, ajudaria muito se começássemos
com programas de universalização,
que ocupariam toda a capacidade excedente e
ainda exigiria mais. Já estudamos materiais
para viabilizar chaves ópticas que vão
a um terabit (1 milhão de bits) por segundo.
As companhias, no entanto, chegaram a usar apenas
5% da capacidade instalada”, lamenta Lenz.
Wireless – Se o quadro
de momento é este, um pesquisador de
fibras ópticas deveria se preocupar com
a recente capa da revista The Economist, anunciando
a “revolução do wireless”,
a comunicação sem fios. O telefone
celular, com recursos que surpreendem a cada
lançamento, é o exemplo mais imediato
desta revolução.
Os
dispositivos eletrônicos conectados sem
cabos, porém, também vêm
sendo disseminados em ambientes de trabalho,
apesar de limitações como o número
de máquinas, a distância e a velocidade.
“Por mais que se fale em wireless, ele
não traz riscos para a fibra óptica.
É uma tecnologia muito útil, mas
com banda limitada. No fim, acabamos recorrendo
à fibra para descarregar toda a comunicação”,
observa o professor.
Da mesma forma, Lenz está certo de que
as cidades ficarão cheias de câmeras
de segurança e que um chip instalado
no carro permitirá localizá-lo
e até fotografá-lo em caso de
roubo. “Imagens representam muita informação
e precisam ser enviadas rapidamente para a fonte
onde serão guardadas”.
No final, em relação à
Internet, o professor afirma que os pesquisadores
já se perguntaram quanta informação
uma pessoa, usando todos os seus sentidos, conseguiria
consumir. “Avaliou-se algo em torno de
10 megabits. Portanto, uma capacidade de 20
megabits por usuário, que corresponde
a um canal de TV de alta definição,
extrapolaria nossa necessidade”.
Carlos Lenz acrescenta, entretanto, que na Internet
o maior fluxo não será de pessoas
conversando com pessoas, mas de máquinas
conversando com máquinas. “Isto
vai amplificar violentamente o fluxo de informação,
pedindo uma taxa muito mais alta do que ela
é hoje”.
Resistentes, transparentes e
extremamente sensíveis
No
Centro de Pesquisas em Ótica e Fotônica
(CePOF), o professor Luiz Carlos Barbosa exibe
satisfeito uma torre de puxamento de fibras
ópticas de alta sílica, com forno
de grafite capaz de atingir temperaturas de
2000ºC. A torre, em fase final de implantação,
é capaz de puxar fibras em qualquer tipo
de vidro e vai ser fundamental para o trabalho
do pesquisador: desenvolver fibras inovadoras.
Entre as inovações importantes
dos últimos anos está a fibra
de cristal fotônico, que abre um campo
imenso para o desenvolvimento de sensores. Grosso
modo, trata-se de uma fibra que apresenta vários
furos ao redor do núcleo. Na fibra convencional,
a luz fica presa no núcleo, o que dificulta
seu contato com o material analisado. Na fibra
“com furos”, qualquer material –
líquido, gás, ar – interage
com a luz e pode ser analisado.
O professor Carlos Lenz prevê inúmeras
aplicações deste sensor, especialmente
em ambientes hostis como transformadores e linhas
de alta tensão e poços de petróleo.
Na biologia, ele dá o exemplo do que
poderia ser um bafômetro. “O paciente
sopraria em uma fibra ôca cuja superfície
seria funcionalizada pelos imunologistas, detectando
microorganismos, vírus, bactérias”.
Mesmo sem esta evolução, Luiz
Carlos Barbosa explica que as fibras de vidro
são imunes a ambientes hostis e com alto
nível de ruídos eletromagnéticos,
como é o caso de linhas de transmissão
de altas voltagens. Também suportam temperturas
bem acima dos 1000ºC e são quimicamente
inertes, livres de corrosão.
“Pode cair um raio ao lado dela”,
resume novamente Carlos Lenz. Segundo ele, hoje,
um ataque químico de terroristas no metrô
de Nova York demoraria 72 horas para ser detectado.
Com sensores de fibra óptica, esse tempo
seria reduzido a minutos, com redução
equivalente da quantidade de pessoas infectadas.
Barbosa lembra a possibilidade de fabricar sensores
distribuídos, ou seja, que medem valores
ao longo da fibra. No Japão, sujeito
a terremotos, os prédios muito altos
possuem sensores que detectam inclinações
ou estresse nas estruturas, promovendo uma correção
ativa, jogando um contrapeso no lado oposto.
No incêndio em uma casa, o sensor de sílica
mediria o calor ao longo da fibra, indicando
onde está o foco.
Não por acaso, este jornal já
publicou inúmeras reportagens sobre sensores
de fibra ópticas desenvolvidos na Unicamp,
tanto no Instituto de Física como em
outras unidades que fazem bom uso deste material,
como a Faculdade de Engenharia Mecânica,
a Faculdade de Engenharia Elétrica e
de Computação, Instituto de Química
e áreas biomédicas. (L.S)
A história
passada a limpo
A
história dos 30 anos de fibra óptica
no Brasil será contada por alguns protagonistas
no dia 22 de maio, em evento comemorativo no
Centro de Convenções da Unicamp.
Na parte da manhã, Helio Marcos Machado
Graciosa (CPqD) falará sobre o programa
brasileiro de comunicações ópticas,
José Ripper Filho (Asga) sobre o pioneirismo
das pesquisas na Unicamp, José Mauro
Leal Costa (CTBC) sobre a planta piloto e a
industrialização da fibra óptica,
e Jorge Salomão (Padtec) sobre os sistemas
avançados no presente.
A história da fibra óptica continua
sendo feita. Na sessão da tarde, o professor
Hugo Fragnito, do Instituto de Física
“Gleb Wataghin” (IFGW), colocará
o público a par das pesquisas no Centro
de Pesquisas Ópticas e Fotônicas
(CePOF), da Rede Kyatera (projeto de Internet
avançada) e do futuro das comunicações
ópticas. As novas aplicações
da fibra óptica na indústria e
nas ciências da vida serão o tema
do professor Carlos Lenz César.
O Fiber To The Home (FTTH), que está
levando a fibra óptica até a porta
da casa do usuário, é o tema da
mesa-redonda que encerra o encontro, com Cláudio
Mazzali (Corning), Luis Henrique Vilhena (Telefonica),
Marco Scocco (Prysmian), Ricardo Monteiro (Metrocable)
e Walter Carvalho (Fotônica), sob mediação
de Marco Aurélio Fortes, gerente da Rede
Kyatera.
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