| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 360 - 28 de maio a 10 de junho de 2007
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Artigo: Incrível Felowships
Colírio chega à indústria
Energia do sucroalcooleiro
Perfil - Fernando Galembeck
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Pesquisadora da FEM e do Nipe desenvolve projetos
na área de otimização de sistemas de energia

Integração energética ganha
força no setor sucroalcooleiro

MANUEL ALVES FILHO

A professora Silvia Nebra, da FEM e do Nipe:  "Nossas pesquisas objetivam levar o novo conceito para o interior das usinas"  Foto: Antoninho PerriDentro de aproximadamente uma década, conforme as estimativas mais ponderadas, o Brasil deverá ter dominado a técnica das hidrólises ácida e enzimática, processos que permitirão ao país obter etanol (álcool) também a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Com isso, será possível aumentar significativamente a produção do combustível, sem a necessidade de ampliar de forma drástica a área cultivada.

Embora ansiosamente aguardada por todos, a solução poderá se constituir em um sério problema para as usinas, que atualmente aproveitam o bagaço para gerar a energia que consomem e, em alguns casos, vendem. A alternativa que vem ganhado corpo para enfrentar essa provável dificuldade é o desenvolvimento de métodos e tecnologias baseados no conceito da integração energética. A idéia é utilizar ao máximo a energia disponível na indústria, da maneira mais inteligente.

A professora Silvia Nebra, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), ambos da Unicamp, vem trabalhando há quase duas décadas na área de otimização de sistemas energéticos. No Brasil, de acordo com ela, a integração energética é adotada com bons resultados por alguns segmentos industriais, notadamente o químico e petroquímico. “Entretanto, o setor sucroalcooleiro só agora tem começado a despertar para essa nova realidade. Nossas pesquisas objetivam justamente levar o conceito para o interior das usinas”, afirma. Tradicionalmente, explica, os produtores de álcool e açúcar adotavam posições relativamente conservadoras em relação às inovações. Ela lembra que até a década de 80, por exemplo, os usineiros não demonstravam interesse pela co-geração de energia elétrica para venda, produto até então considerado de difícil mercado por eles. A energia co-gerada era apenas para consumo próprio.

“Marco regulatório foi divisor de águas"

A partir de meados da década seguinte, com a mudança do marco regulatório do setor elétrico, os donos de usina mudaram de idéia. Começaram a ampliar o faturamento dos negócios com a venda do excedente da co-geração. Com a perspectiva da introdução das hidrólises ácida e enzimática, um novo e promissor cenário deverá se descortinar para a indústria sucroalcooleira. O processo permitirá a ampliação significativa da produção de etanol – algumas projeções apontam para um incremento de até 40% num prazo de 20 anos –, sem a necessidade de estender de forma brutal a área cultivada de cana-de-açúcar. Um avanço extraordinário, mas que trará um efeito adverso para as usinas.

Como o bagaço e a palha da cana poderão ser empregados para a obtenção de etanol, obviamente faltará insumo para a produção de energia. Nas palavras da professora Silvia Nebra, “o cobertor ficará curto demais”. Mas como, afinal, superar essa iminente dificuldade? De acordo com a docente da FEM, a saída está no uso otimizado da energia disponível. Uma das alternativas é o aproveitamento da lignina, subproduto que surge do processamento do bagaço, como combustível para a geração de vapor. Além disso, prossegue Silvia Nebra, o conceito de integração energética contempla outras medidas, como a transferência de calor de correntes quentes para correntes frias. “Muitas vezes, isso exige não apenas o uso de novos equipamentos, mas também a mudança do layout das indústrias”, explica.

Um exemplo de integração energética vem de uma tecnologia desenvolvida a partir de pesquisa coordenada pela própria Silvia Nebra, voltada ao melhoramento da capacidade térmica da indústria sucroalcooleira. Trata-se de um equipamento que aproveita os gases emitidos pelas caldeiras da usina para secar o bagaço de cana. Com a matéria-prima previamente seca, a sua queima torna-se muito mais eficiente, melhorando conseqüentemente o desempenho do sistema como um todo. Dentro do mesmo contexto da integração energética, uma proposta que vem sendo investigada pela equipe da docente é utilizar o calor da vinhaça, subproduto advindo da produção do etanol. Para compreender a lógica desse processo, primeiro é preciso saber como o álcool é produzido.

Após a extração, o caldo da cana é fermentado. Em seguida, são obtidos o vinho, que será destilado e dará origem ao etanol, e a vinhaça, que tem sido usualmente empregada pela agricultura na recomposição do solo. Ocorre que essa vinhaça sai muito quente da planta industrial. “Nossa idéia é criar um modelo que permita transferir esse calor para o vinho, que seguiria para a destilação a uma temperatura mais elevada que a usual. Isso certamente traria um ganho de eficiência para o sistema energético como um todo”, prevê. Também como parte desse conceito está o aperfeiçoamento das caldeiras, de modo que elas permitam a elevação da pressão e temperatura do vapor. “No aspecto específico do melhoramento das caldeiras, o Brasil vem obtendo bons resultados. Entretanto, falta conciliar esse avanço com o esforço de implantação da integração energética”, analisa a professora Silvia Nebra.

De acordo com ela, as pesquisas conduzidas por sua equipe contam com a colaboração de especialistas da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, da USP e de instituições da Argentina, Espanha e Suíça. “Sem essa abordagem multidisciplinar, os estudos certamente não teriam a mesma qualidade”, considera. No Brasil, os trabalhos contam com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Pesquisas integram projeto nacional

Caminhão carregado de cana na região de Ribeirão Preto, com usina ao fundo: segundo Silvia Nebra, uma das alternativas promissoras é a do aproveitamento do subproduto lignina como combustível para a geração de vapor (Foto: Antônio Scarpinetti)As pesquisas conduzidas atualmente pela equipe da professora Silvia Nebra estão inseridas no Projeto Etanol, estudo desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe) da Unicamp em conjunto com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na coordenação geral do trabalho está o físico Rogério Cerqueira Leite, professor emérito da Universidade. De acordo com um relatório já apresentado pelo Nipe, o Brasil teria condições de produzir, em 2025, álcool combustível suficiente para substituir 10% de toda a gasolina consumida no mundo. Isso equivaleria a algo como 205 bilhões de litros por ano.

Em reportagem publicada em março deste ano pelo Jornal da Unicamp, o pesquisador colaborador do Nipe, Carlos Eduardo Rossell, considerou esse objetivo perfeitamente possível de ser alcançado, desde que o país consiga conjugar vontade política do governo, planejamento por parte do setor sucroalcooleiro e desenvolvimento científico e tecnológico. Considerado o principal especialista brasileiro em hidrólise ácida, Rossell afirmou que uma das bases do Projeto Etanol está justamente no aproveitamento do bagaço e da palha da cana-de-açúcar para a produção de álcool combustível.

Diversas nações do mundo estão empreendendo esforços para dominar o processo de hidrólise para a produção de etanol. O Brasil está entre eles. Na Europa e Estados Unidos, no entanto, os estudos se concentram na palha do trigo e nos resíduos da colheita do milho. Assim, é importante que o país busque sua própria alternativa tecnológica, sob pena de vir a se tornar dependente de um modelo que provavelmente não se aplicará à sua realidade e necessidades. Na hidrólise ácida, o catalisador é um ácido, cuja função é quebrar as moléculas de celulose presentes no bagaço e na palha. Com isso, obtêm-se açúcares, que depois de fermentados se transformam em álcool. Ocorre, porém, que essa reação é muito rápida, o que dificulta o seu controle e favorece o surgimento de resultados adversos.

Há ainda a hidrólise enzimática, que como o próprio nome indica utiliza enzimas para promover a quebra das moléculas de celulose. Esse processo está sujeito a maior controle, mas em compensação é muito mais lento. No curto prazo, conforme o professor Rossell, a hidrólise ácida deve se constituir no caminho mais rápido para o Brasil aproveitar o bagaço e a palha da cana para ampliar a sua produção de etanol. “Isso não significa que a hidrólise enzimática não tenha interesse, muito pelo contrário, mas é uma tecnologia mais complexa e levará mais tempo para ser viabilizada”,

 

 

 

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