O
Grupo de Estudos e Projetos em Engenharia de
Alimentos (Gepea), primeira empresa júnior
da Unicamp, surgiu em 1990. De lá para
cá, outras 17 se instalaram no campus.
Mais que desenvolver fornadas de projetos inovadores
e preparar estudantes para o mercado de trabalho,
essa massa de empresas, conhecidas pela sigla
de EJs, forjou uma geração de
empreendedores que, de uns anos para cá,
assumiu a liderança do Movimento de Empresas
Juniores (MEJ) no país.
Duas das entidades mais representativas do setor,
a Confederação Brasileira de Empresas
Juniores (Brasil Júnior) e a Federação
das Empresas Juniores de São Paulo (Fejesp),
vêm sendo sucessivamente comandadas por
alunos da Unicamp (veja quadro na página
7). Juntas, contam com cerca de 140 federadas.
O MEJ movimentou, em 2005, cerca de R$ 4,5 milhões.
"EJs
da Universidade abrigam alunos que apostam na
inovação e assumem posição
de liderança nacional no setor"
“Não resta dúvida
de que uma parcela significativa do ideário
que sustenta hoje o MEJ nasceu na Unicamp. Sem
a contribuição de seus alunos,
o movimento estaria certamente num patamar inferior”,
observa Daniel Junqueira, que preside a Fejesp
e o Conselho da Brasil Júnior. Das seis
empresas fundadoras da Fejesp, duas são
da Unicamp. “Minha visão pode estar
contaminada, e é complicado falar do
protagonismo da Unicamp em detrimento de outras
instituições, mas é inegável
sua importância nos novos rumos do MEJ
no país”.
O peso da Universidade pode ser mensurado por
outros indicadores. As EJS da Unicamp são
responsáveis por cerca de 45% do faturamento
das 30 empresas da federação estadual,
calcula Junqueira, que ingressou em 2004 no
curso de Mecatrônica. No mesmo ano, o
estudante deu os primeiros passos no empreendedorismo
no departamento de projetos da Mecatron, empresa
júnior da unidade, para chegar em seguida
à presidência do Conselho Deliberativo
da Fejesp. Atualmente, ocupa o cargo de presidente
executivo da Federação.
A receita das EJs vem de clientes – de
microempresas a multinacionais. Os projetos
desenvolvidos pelos alunos, em sua maioria supervisionados
por docentes, trazem a chancela das pesquisas
desenvolvidas nas unidades da Unicamp. Angariam
reconhecimento nos mais importantes certames
do setor.
No ano passado, por exemplo, projetos nascidos
nas EJs da Unicamp conquistaram quatro das cinco
categorias do Prêmio de Qualidade Fejesp,
considerado o “Oscar” do gênero.
Os projetos foram analisados por uma banca de
jurados independentes, todos profissionais experientes
nas respectivas áreas.
Ambiente –
“Tudo isso tem a ver com a estrutura voltada
para a inovação oferecida pela
Unicamp. Trata-se de uma universidade mais jovem
e empreendedora. Não é à
toa que a Agência de Inovação
Inova Unicamp passou a ser referência
no Brasil”, avalia Junqueira.
Na opinião do presidente da Fejesp, a
proximidade das unidades e o perfil multidisciplinar
dos cursos favorecem a troca de idéias
entre representantes das várias instâncias
da Universidade, inclusive a institucional.
“Colegas de outras escolas ficam surpresos
quando digo que, na Unicamp, você conversa
com o reitor em eventos, além de conseguir
agendar uma reunião caso seja necessário”.
A opinião de Junqueira é corroborada
por Danilo Herrero Macedo, diretor administrativo
do Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp.
Para o estudante, membro da empresa júnior
Mecatron, a Unicamp oferece todo o suporte e
o ambiente necessários para o desenvolvimento
da educação empresarial, do empreendedorismo
e da geração de novos negócios,
três das principais missões do
MEJ.
“A qualidade acadêmica faz da Unicamp
um celeiro diferenciado. Inovação
e empreendedorismo andam juntos. Prova disso
é o grande número de ‘empresas
filhas’, muitas das quais comandadas por
ex-membros de EJs da Universidade. A maioria
delas tem ‘sacadas’ inovadoras,
aplicando, no mercado, tecnologia gerada na
Universidade”, observa Herrero, aluno
do curso de Engenharia Mecatrônica, onde
ingressou em 2006.
“Vi uma grande oportunidade de aprendizado,
sobretudo na área de gestão comercial
e empresarial, ao entrar no movimento”,
revela o estudante, que assumiu em 2006 o cargo
diretivo no Núcleo, além de ser
o coordenador geral do “i – inovação
e tecnologia”, evento que ocorre de 28
de maio a 1 de junho na Unicamp (leia texto
na página 7).
Pólo –
Na opinião do empresário júnior,
o evento sintetiza a posição de
liderança da Unicamp. “Além
de trazer o que de mais inovador temos no mundo,
ele vai mostrar porque a região é
o maior pólo tecnológico do país
e refletirá, nesse contexto, o papel
da Universidade, que não por acaso é
líder nacional em número de patentes”.
Pelas
contas de Herrero, cerca de 600 alunos da Unicamp
estão envolvidos diretamente no MEJ.
A adesão e um maior envolvimento de pessoas
com o movimento, segundo ele, tendem a aumentar
graças à oficialização
do Núcleo. Fundado em 1993 e faturando
mais de R$ 600 mil anuais, o centro carecia
de formalização legal.
No ano passado, o órgão foi legalizado
e ganhou uma sede, cedida pela Reitoria, no
Ciclo Básico. “Sem o apoio institucional,
não conseguiríamos trabalhar”,
reconhece o dirigente. A próxima meta,
revela Herrero, é consolidar a estrutura
gerencial do Núcleo a partir da centralização
de trabalhos e da criação de um
ambiente desenvolvedor. “Queremos que
os alunos não façam parte apenas
de suas respectivas EJs, mas que também
interajam com o Núcleo”.
Herrero evita falar em números, mas a
expectativa é de um grande aumento no
faturamento das 18 EJs, em trabalho escorado
na estruturação e no planejamento
estratégico que ele e seus colegas pretendem
desenvolver na atual gestão. “Juntas,
as EJs têm um potencial incrível.
O alinhamento otimizará a geração
de projetos, empregos e, conseqüentemente,
causará mais impacto no mercado”.
Tradição –
Na opinião do reitor da Unicamp, José
Tadeu Jorge, a força do empreendedorismo
da Unicamp tem raízes históricas,
que remetem à criação da
Universidade. Tadeu lembra que Zeferino Vaz,
fundador e reitor por doze anos, não
ignorou o fato de que, com a industrialização,
havia no Brasil, a partir da década de
50, uma nova demanda pela formação
de pessoal qualificado na área da pesquisa
científica e tecnológica.
Emergiu, a partir da criação da
Unicamp, segundo o reitor, uma categoria vinculada
com o setor de produção de bens
e serviços. “Até então,
o ensino superior tinha-se ocupado de formar
majoritariamente profissionais liberais solicitados
pelo processo de urbanização”.
Ademais,
lembra Tadeu, muitos dos cursos tecnológicos,
sobretudo nas engenharias, foram desenhados
a partir de sugestões feitas por empresários
da região em reuniões promovidas
por Zeferino. Não raro, os executivos
opinavam sobre os currículos, apontando
as áreas emergentes. A região
de Campinas já era, à época,
o principal pólo econômico e industrial
do interior paulista.
Três outros fatores contribuíram
para este quadro: política agressiva
de captação de recursos para a
pesquisa, o fortalecimento das agências
nacionais de fomento e a arregimentação,
por Zeferino, de centenas de cientistas renomados.
“Desde os seus primórdios a Unicamp
se firmou como um centro emergente de investigação
científica e tecnológica”.
Estava consolidada, segundo Tadeu, a base do
empreendedorismo e, mais recentemente, da inovação.
A ênfase na pós-graduação,
prossegue o reitor, daria contornos definitivos
às diretrizes.
Na opinião de Tadeu, as raízes
da cultura do empreendedorismo e da inovação
foram plantadas, em muitos casos, nos processos
de aprendizagem e na atividade extracurricular
dos alunos de graduação. “Enquanto
os estudantes mais afeitos à pesquisa
são atraídos para o programa de
iniciação científica que
a universidade mantém, com um investimento
de aproximadamente R$ 20 milhões anuais
em assistência estudantil, os jovens vocacionados
para o empreendedorismo integram-se à
malha de empresas juniores existente na instituição”.
Foram justamente essas condições
que atraíram Aleandro Ricardo Oliveira
dos Anjos, diretor de relações
institucionais da Mecatron, empresa que gerencia
atualmente 14 projetos nas mais diversas áreas
da engenharia de controle e automação.
Paraense, o aluno ingressou em 2006 no curso
de Mecatrônica. Sempre teve interesse
em participar do MEJ, mesmo antes de entrar
na Universidade.
Aleandro encontrou, na Unicamp, as condições
para levar adiante suas ambições
no movimento. “Aprendi muito, em apenas
um ano. Além de conhecer projetos inovadores,
tive a oportunidade de dominar ferramentas administrativas
e de gestão”. Na opinião
de Aleandro, o estudante da Universidade tem
à disposição condições
de estudo e de trabalho raras de serem encontradas
em outras instituições de ensino
superior do país.
“A qualidade dos cursos reflete diretamente
nos projetos desenvolvidos pelas EJs. É
comum, por exemplo, a pesquisa nascida na iniciação
científica ser adaptada para o mercado,
atingindo clientes e causando impacto econômico”,
observa o estudante. “A meta mais ambiciosa
do MEJ é mudar a cara do Brasil. Queremos
difundir valores e competências para criar
um país mais justo. E isso está
sintonizado com o que faz a Unicamp'.
Continua
na página 7