Na
entrevista que segue, o diretor executivo da
Agência de Inovação Inova
Unicamp, professor Roberto Lotufo, analisa o
papel do empreendedorismo e da inovação
na Unicamp. Fala também das iniciativas
da agência no sentido de disseminar a
cultura da inovação entre os jovens
empreendedores. “A Inova procura apenas
apontar caminhos. Temos incentivado as empresas
juniores não apenas na busca de uma interação
com o setor empresarial, mas também na
análise de possíveis tecnologias
desenvolvidas na Universidade que possam ser
disponibilizadas para a sociedade”.
Jornal da Unicamp – Pode-se afirmar
que já existe um conceito de empreendedorismo
que traga a marca da Unicamp?
Roberto Lotufo – As características
do empreendedorismo na Unicamp são, de
fato, muito peculiares. As comparações
são complicadas, é bom evitá-las.
Não temos, por exemplo, cursos formais
voltados para o tema na Universidade. Algumas
universidades adotam isso como política
institucional, colocando esses cursos na grade
regular. Não é essa a nossa política.
O conceito que predomina na Unicamp é
diferenciado, até por ela ter uma atividade
de pesquisa muito forte e de inegável
qualidade científica e acadêmica.
Isso faz com que o empreendedorismo desenvolvido
na Universidade seja diferente do convencional.
JU – Quais são os fundamentos que
norteiam esse conceito diferenciado?
Lotufo – Temos fundamentos muito
bons e já arraigados. O aluno da Unicamp,
por exemplo, aprende muito fora de aula. Há
um grande número de atividades extra-classe,
que vão desde a iniciação
científica até o pós-doutorado.
Em paralelo, temos as empresas juniores, as
diversas atividades de extensão e, em
particular, a Inova.
Um exemplo interessante é o evento do
“i – inovação e tecnologia”
, organizado pelas empresas juniores das engenharias
de Mecatrônica e da Computação
[leia texto abaixo]. Trata-se de um caso típico
de um assunto que migrou do mercado de trabalho
para a inovação. É uma
evolução – essa cultura
acaba sendo difundida. E, quando você
fala em inovação, o empreendedorismo
tecnológico e científico tem mais
espaço.
É o resultado de uma política
de avanço dos alunos mais alinhados a
um tipo de empreendedorismo que não se
resume à busca de um estágio ou
de um bom emprego. Eles já estão
também com um pé na questão
da inovação.
JU – Que avaliação o senhor
faz da inserção do aluno da Unicamp
nesse ambiente. Trata-se de uma tendência?
Lotufo – Posso dizer que é
um movimento nacional. A gente tem avançado
nesse sentido, até porque os alunos da
Unicamp exercem uma liderança muito expressiva
nas entidades representativas de empresas juniores,
em níveis estadual e nacional. Esse evento,
o “i”, demonstra a evolução
dos nossos estudantes. São eles os protagonistas.
Esses alunos estão, certamente, exercendo
uma liderança que servirá de exemplo
para outras empresas juniores.
É uma nova forma de buscar o empreendedorismo.
Já está sendo apontado que, quando
se menciona a inovação, está
se falando de pequenas empresas tecnológicas,
de spin-offs, de start-ups, de fundo de investimento,
de capital semente, de capital de risco, de
prospecção tecnológica,
de propriedade intelectual. É um outro
contexto, que forma a base do empreendedorismo
tecnológico. Ele está sendo colocado
na agenda das EJs.
A Inova procura apenas apontar caminhos. Temos
incentivado as empresas juniores não
apenas na busca de uma interação
com o setor empresarial, mas também na
análise de possíveis tecnologias
desenvolvidas na Universidade que possam ser
disponibilizadas para a sociedade. Entendemos
também que as EJs são um bom local
para treinamento profissional. Percebemos que
a maioria dos presidentes e alunos envolvidos
com as empresas juniores se tornam empresários
no futuro.
JU – O que a Inova tem feito para estimular
a inovação?
Lotufo – A Inova tem implementado,
articulada a vários atores, iniciativas
para que essa cultura seja disseminada. Uma
delas, talvez a que tenha mais diretamente a
ver com as EJS, é o programa de pré-incubação,
cujo coração é o espaço
das empresas juniores e as unidades de ensino
e de pesquisa da Unicamp. São espaços
ideais para o aprendizado e para a difusão
de atividades empreendedoras.
A pré-incubação é
um programa de duração de 12 meses
por meio do qual um grupo de alunos analisa
uma tecnologia ou idéia associada aos
cursos que fazem. Eles são coordenados
por um mentor acadêmico, que normalmente
é o orientador do trabalho, além
de um mentor empresarial, que é alguém
com experiências e visões de negócios
para os nossos alunos. Eles dão orientações
e ajudam no encaminhamento dos projetos, apontando
as oportunidades e analisando as dificuldades
de converter idéias e conhecimentos em
negócios.
Por meio do programa, procuramos incentivar
a solicitação de financiamento
de projetos – a Fapesp tem um programa
denominado PIPE, que apóia pequenas empresas
–, com o objetivo de incentivar o aluno
a já pensar num possível negócio,
em sua futura empresa. O programa tem sido muito
bem-sucedido.
Além disso, temos a própria Incubadora
de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp
[Incamp], que atualmente conta com doze empresas
incubadas. A idéia, inclusive, é
a de que nesse programa de pré-incubação
tenhamos os candidatos naturais para serem incubados,
não só na Incamp – que nem
sempre tem novas vagas disponíveis, mas
também na Softex e na Ciatec, outras
duas incubadoras de Campinas.
Outro movimento interessante é o Unicamp
Ventures, rede de relacionamento formada por
ex-alunos empresários que, em comum,
utilizaram o conhecimento adquirido na Unicamp
para montar seus negócios. Existe uma
sinergia muito interessante entre eles e nossos
alunos. A rede vem contribuindo bastante nesse
processo, inclusive promovendo uma discussão
sobre incubação é pré-incubação.
A própria comunidade colocou esta temática
em discussão.
Outro programa da Inova é o Programa
de Investigação Tecnológica
[PIT]. Neste programa, treinamos alunos para
que, supervisionados, analisem a viabilidade
técnica e econômica das solicitações
de patente pelos pesquisadores. Este programa
difunde os conceitos de inovação
entre alunos e professores. Queremos que eles
entendam também todo o processo de inovação
gerado pela e na universidade. Estimular o empreendedor
a buscar tecnologias nascidas aqui e voltadas
para a sociedade. Esse é o viés
que procuramos dar na maioria dos nossos programas.
Talvez valesse mencionar também um projeto-piloto
que temos na Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação [FEEC], por meio
do qual a unidade oferece a disciplina Introdução
ao Empreendedorismo e Inovação
Tecnológicos em conjunto com a Inova.
Trata-se de uma disciplina eletiva, por meio
da qual procuramos associar a pré-incubação
às aulas normais. Nossa intenção
é levá-la para toda a universidade,
na condição de curso optativo.
JU – Em que medida o ensino e
a pesquisa potencializam esse ambiente?
Lotufo – Não tenho dúvida
de que potencializam. Apesar de não termos
explicitamente nenhuma disciplina voltada para
o empreendedorismo, esse ambiente favorece as
iniciativas nessa área. Nosso caminho
é estimulá-lo. Acho que é
isso que a gente está tentando equacionar.
Os alunos têm solicitado o oferecimento
de disciplinas que discutam propriedade intelectual,
ambiente de inovação e temas correlatos.
É preciso buscar os melhores meios de
incentivar a criação de empresas
com forte valor agregado em ciência e
tecnologia.
NO TOPO
Alunos da Unicamp
que assumiram posições
de liderança no MEJ nos últimos
anos
* 2007: Daniel Junqueira (presidente da Fejesp
e presidente do Conselho da Confederação
Brasileira de Empresas Juniores [Brasil Junior];
André Sepulveda (conselheiro da Brasil
Júnior); e Luiz Piovesana (diretor vice-presidente
da Fejesp).
* 2006: Daniel Junqueira (presidente do Conselho
da Fejesp); Bruno Villela (presidente da Fejesp);
e José Frederico (presidente da Brasil
Junior).
* 2005: José Frederico (Presidente do
Conselho da Brasil Junior); Alishan Khan (presidente
do Conselho da Fejesp).
* 2004: Vitor Queiroz (presidente da Fejesp);
e Daniel Lago (diretor executivo da Brasil Junior).
Eventos movimentam o setor
Inovação e empreendedorismo estão
na pauta de dois eventos que ocorrem na Unicamp.
De 28 de maio a 1 de junho, no Centro de Convenções,
acontece o “i – inovação
e tecnologia”, que será promovido
pelas empresas juniores Mecatron e Conpec, com
o apoio das demais EJs da Unicamp. “Nossa
intenção é mostrar o que
vem sendo discutido no Brasil e no mundo nos
campos da inovação e tecnologia”,
afirma Danilo Herrero, um dos organizadores.
“Apontaremos os desafios e os caminhos
para a inovação tecnológica
na área de Engenharia”.
Palestras, painéis, minicursos, desafios
e visitas a empresas inovadoras constam da programação.
O evento substitui a “Automática”
e a “C&M”, que eram, respectivamente,
as semanas de Engenharia Mecatrônica e
de Computação. Outras informações
podem ser obtidas no endereço i2007@i2007.com.br
ou na página do evento: http://www.i2007.com.br/
Nos dias 31 de maio e 1 de junho, a Incubadora
de software Softex Campinas e a Incubadora de
Empresas de Base Tecnológica da Unicamp
(Incamp) lançam a I Jornada de Empreendedorismo,
que será realizada no auditório
da Diretoria Geral de Administração
(DGA) da Unicamp. O objetivo dos organizadores
é selecionar projetos de base tecnológica
ou idéias que possam se transformar em
empreendimentos.
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