A educadora física Gláucia Cristina de Castro aposta no lúdico para contribuir com o diagnóstico precoce da hanseníase no Jardim São Marcos, em Campinas. Segundo Gláucia, a apresentação de teatro de bonecos conseguiu aumentar em 50% o número de casos detectados no posto de saúde local. “A desinformação ainda é o maior obstáculo para se detectar o mal. Com o projeto, a expectativa é esclarecer aspectos da doença e, assim, estimular a procura pelo serviço de saúde”, atesta a educadora física que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Educação Física (FEF), orientada pelo professor Aguinaldo Gonçalves.
A hanseníase ou lepra é uma doença contagiosa que acomete pele e nervos, produzindo manchas avermelhadas ou esbranquiçadas e falta de sensibilidade, podendo evoluir para várias incapacidades físicas. O Brasil só perde para Índia em número de casos novos. A expectativa das autoridades é diminuir a incidência para um entre dez mil habitantes, número considerado razoável. A doença tem cura, mas a prevenção de incapacidades depende muito do diagnóstico precoce.
As histórias envolvendo as personagens Ana Melo e Patrícia Shinokawa apresentadas por Gláucia, são baseadas na técnica japonesa denominada Bunraku, e simulam uma situação de doença. Traz à tona discussões sobre preconceito e estigma, presentes no universo dos portadores da enfermidade e, ao final, responde dúvidas das crianças sobre o assunto, por meio de um diálogo lúdico.
A apresentação foi feita para 207 crianças, atendidas pelas instituições campineiras Centro Assistencial Vedruna e Associação Beneficente Campineira, que freqüentam essas entidades em período extra-escolar. No total, Gláucia encampou uma série de oito sessões, nas várias faixas etárias de 7 a 16 anos. Ao levar a informação à população infantil, a educadora física conta que aumentou o número da procura pelos postos de saúde da região. Conseguiram encaminhar nove pessoas.
“As crianças que tinham queixas semelhantes aos sintomas apresentados, encaminhávamos para o serviço de saúde”, esclarece. Pela análise do trabalho, no entanto, Gláucia afirma que as peças de teatro são importantes no processo, mas não podem ser trabalhadas isoladamente. “É fundamental a participação dos agentes de saúde e dos profissionais envolvidos no processo. Acredito que o serviço precise de uma sistematização do trabalho, pois há uma série de obstáculos que impedem a eficácia”, argumenta.
Para Gláucia trata-se de uma abordagem contemporânea do profissional de Educação Física, abrindo o leque de estudos como circo, dança e saúde. Ela lembra ainda que, recentemente, o educador físico foi incorporado no Programa Saúde da Família, pela portaria 154, de 24 de janeiro de 2008, do Ministério da Saúde . Além do envolvimento do teatro interativo no controle da hanseníase, a pesquisadora fez ainda uma avaliação das habilidades biomotoras, entre as quais, a força, a flexibilidade e a coordenação motora empregada na atividade com os bonecos. Segundo a pesquisadora, os bonecos tradicionais chegam a pesar até 20 quilos. No caso do Jardim São Marcos, os bonecos mediam 1,20 metro e pesavam cerca 1,5 quilo. Os bonecos pertencem à ONG Sorri, de Sorocaba.