A rádio comunitária Bandeira, localizada no Jardim das Bandeiras, em Campinas, exerce um papel importante de elo entre a região central da cidade e os moradores da periferia. Além de contar com uma programação especialmente voltada para a população daquela região, existe um fluxo que contempla informações da cidade, semelhante ao observado nas rádios comerciais.
Na prática, concluiu a antropóloga Fernanda Alves Sunega, o estilo adotado e a programação eram semelhantes ao circuito comercial, embora no discurso dos diretores, a rádio mantivesse um perfil diferenciado. A região do Jardim das Bandeiras é uma das mais populosas da cidade, envolvendo os bairros próximos à Rodovia Santos Dumont. Entre eles, os DICs, Parque Oziel e outros. No total, a rádio alcança mais de 130 bairros.
A análise foi apresentada em dissertação de mestrado, desenvolvida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e orientada pela professora Rita de Cássia Morelli. O objetivo do estudo, conta Fernanda, foi observar se a rádio cria vínculos entre os bairros, periferia e centro, hipótese defendida pelo antropólogo argentino Néstor Garcia Canclini. “Segundo Canclini, a sociedade está submetida a uma urbanização que desurbaniza. A mídia, para este autor, apresenta um espetáculo reconfortante, no qual a população sente-se incluída nas mais diversas manifestações da cidade”, explica.
Foram realizadas entrevistas com diretores de programação e análise de mais de 20 programas da grade da emissora. Mas, foi no programa Interior Paulista, apresentado pelo rapper Kapone e dedicado à divulgação de grupos de rap que não estão inseridos na mídia comercial, que Fernanda centrou o seu trabalho. Durante três meses, ela acompanhou semanalmente o programa para entender o universo tanto da população de ouvintes como da concepção de programação.
Segundo Fernanda, a interação entre ouvinte e locutor ocorria de maneira intensa, assim como entre ouvintes e grupos que compareciam à emissora para entrevistas ao vivo. A antropóloga observou que os grupos encaravam a divulgação do trabalho na rádio comunitária como primeiro passo para a profissionalização. “Na verdade, eles queriam estar nas rádios comerciais, mas o espaço oferecido nas emissoras comunitárias para divulgação era recebido com muito entusiasmo, pois atingia o público-alvo”, esclarece.
As rádios comunitárias tiveram maior crescimento no início dos anos 1980 com a concepção de espaço livre, desvinculado de um viés comercial. Neste contexto, moradores do Jardim das Bandeiras, que já mantinham um histórico de grande envolvimento popular, criaram a rádio comunitária Bandeira. A emissora sobrevive de doações e anúncios de pequenos estabelecimentos comerciais dos bairros próximos. Não se mensurava a audiência, mas sabia-se que em bairros, como o Parque Oziel, famílias colocavam caixas de som nas calçadas para ouvir a programação.