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Jornal da Unicamp - Março/Abril de 2000


Página 6

ENTREVISTA
Chance única

À primeira vista, pode parecer estranho o envolvimento do Hemocentro da Unicamp no projeto de seqüenciamento de uma bactéria causadora de doenças em vegetais. Afinal, os trabalhos de seqüenciamento realizados até então pelo Hemocentro concentravam-se no DNA-humano. Entretanto, o experiente hematologista Fernando Ferreira Costa viu no projeto uma chance única de conhecer e aperfeiçoar as técnicas de seqüenciamento automático, uma vez que, para seqüenciamento do DNA-humano, os profissionais do Hemocentro usavam apenas o seqüenciador manual.

O tempo encarregou-se de mostrar o quanto foi acertada a iniciativa. Graças a ela, hoje o Hemocentro está coordenando cinco laboratórios da rede Onsa, ligados ao projeto Genoma-Câncer. Também graças ao trabalho desenvolvido no projeto Xylella, o Hemocentro recebeu um dos mais modernos e velozes seqüenciadores de genes do mundo, que já está sendo utilizado com sucesso no projeto Genoma-Câncer.

Jornal da Unicamp – O Hemocentro já tinha alguma experiência anterior em seqüenciamento genético?

Fernando Costa - O nosso laboratório tinha uma experiência grande em seqüenciamento de DNA porque nós já fazíamos isso desde 1990. Mas era um seqüenciamento com objetivos completamente diferentes dos objetivos do projeto Xylella. Era um seqüenciamento de DNA-humano para pesquisar mutações genéticas em doenças hematológicas. Mas, embora trabalhássemos há muito tempo com seqüenciamento gênico, nós nunca havíamos imaginado poder, um dia, participar de um projeto Genoma e muito menos de um projeto Genoma de uma bactéria vegetal.

Jornal da Unicamp – Por que então surgiu o interesse do Hemocentro em participar de um projeto ligado ao seqüenciamento genético de um fitopatógeno?

Fernando Costa - Quando a Fapesp lançou o programa Genoma-Xylella, a Fundação abriu a possibilidade de vários grupos se candidatarem para participar do projeto. Então, nós vimos aí uma oportunidade para ampliar nossa experiência ao utilizar o seqüenciamento automático que não tínhamos até então. Nós fazíamos apenas o seqüenciamento manual. Foi por isso que nos candidatamos e, felizmente, fomos aprovados.

Jornal da Unicamp – Há realmente muita diferença entre fazer um seqüenciamento automático e um manual?

Fernando Costa - Para se ter uma idéia, nós gastávamos, na melhor das hipóteses, quatro dias para fazer dez seqüenciamentos manuais. Quando nos inserimos no projeto Xylella e compramos o primeiro seqüenciador automático, não muito veloz, nós passamos a fazer entre 10 e 20 seqüenciamentos por dia. Outros grupos, que adquiriram equipamentos mais modernos, chegavam a fazer até 96 seqüenciamentos por dia. Agora, para o projeto Genoma- Câncer, nós recebemos uma das mais modernas máquinas do mundo, que consegue fazer até 350 seqüenciamentos por dia. Quer dizer, nós passamos de uma coisa muito lenta para uma máquina um pouco mais rápida até chegarmos ao que existe de mais veloz no mundo.

Jornal da Unicamp – Quer dizer que a experiência no projeto Xylella realmente valeu a pena?

Fernando Costa - A participação permitiu que a gente ampliasse em muito nossa capacidade de seqüenciar. Mesmo não sendo algo na nossa área de atuação, aquela perspectiva inicial mostrou-se válida, principalmente porque foi a participação no projeto Xylella que permitiu nosso ingresso no projeto Câncer. E mais: estou certo de que o projeto Genoma-Câncer só foi possível, com essa magnitude, porque já existiam grupos treinados no decorrer do projeto Xylella.

Jornal da Unicamp – Por que vocês não optaram logo de início pela compra de um seqüenciador mais potente?

Fernando Costa - No projeto Genoma Xylella, a Fapesp nos enviava os recursos financeiros e cada laboratório fazia a sua opção pelos equipamentos e materiais necessários à pesquisa. Toda a mudança de máquinas no Hemocentro aconteceu com recursos do Xylella. Mas, quando começamos, ninguém tinha uma experiência muito grande com essas máquinas. Então optamos por uma máquina robusta, mais difícil de quebrar, mas que era pouco potente. Aí nós vimos que não precisava ser assim, ou seja, que realmente seria melhor um equipamento maior e com mais capacidade. Como se vê, foi tudo realmente uma apredizagem.

Jornal da Unicamp – A rotina de trabalho do laboratório do Hemocentro foi alterada com a participação no projeto?

Fernando Costa - O estresse e o trabalho foram grandes, principalmente da pesquisadora Silvana Bordin, encarregada de se debruçar sobre os computadores. Foi difícil especialmente no início, pela inexperiência e pelos problemas de computação que precisávamos enfrentar e a que não estávamos acostumados. Houve bastante trabalho. Mesmo porque nosso equipamento era pequeno e tinha uma capacidade limitada...

Jornal da Unicamp – O que o senhor destacaria como o grande ponto positivo do projeto, além, é claro, da capacitação técnica dos profissionais do Hemocentro?

Fernando Costa - Achei extremamente benéfico o entrosamento entre os vários laboratórios participantes. Recebemos a ajuda do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp na preparação de bibliotecas, dos coordenadores da Bioinformática na instalação de computadores, enfim, a interação entre os diversos grupos foi uma forma nova de trabalhar que não é prática comum nem no Brasil nem no exterior.

Jornal da Unicamp – Como está o andamento do projeto Genoma-Câncer?

Fernando Costa - Nesse projeto, o nosso laboratório está funcionando como uma central de seqüenciamento, que coordena cinco laboratórios. No Hemocentro, há seis pessoas envolvidas em tempo integral no projeto. A previsão de término era de 24 meses, mas nós vamos terminar antes, em janeiro ou fevereiro, 16 meses depois de iniciado.

Jornal da Unicamp – Como o senhor vê o futuro da pesquisa genômica no Brasil?

Fernando Costa - No Estado de São Paulo, temos hoje um número grande de laboratórios capazes de fazer seqüenciamento e análise complexos não apenas de bactérias, mas de organismos maiores. Entretanto, esse tipo de pesquisa é algo que não pode parar. Deve ter continuidade. E, nesse contexto, acredito sinceramente que a Unicamp, entre todas as universidades, seja aquela que tem o maior potencial de progredir na pesquisa genômica porque possui vários grupos que participaram do projeto e têm experiências complementares. Além disso, tem o maior e mais capacitado Núcleo de Bioinformática do país. Se a Unicamp souber agrupar todos os pesquisadores, ela tem a possibilidade, como nenhuma outra universidade, de progredir na análise genômica. O sucesso nessa área vai depender apenas de os dirigentes apoiarem essa idéia. (M.T.S.)


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